Dizem que peixe morre pela boca. Especialmente se engolir molusco…
Explico. Uma quase trágica e deliciosa experiência gastronômica me levou a uma incrível experiência hospitalar em Portugal, com final feliz
atualizado
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O sábado estava espetacular, céu de brigadeiro e calor de 30 graus. Portugueses e turistas todos indo para a praia, curtir mais um dia incrível do verão europeu. Eu, de castigo em casa, montando camas e armários. Como já disse em outra oportunidade, em Portugal “faça você mesmo”. Até porque é caro contratar os serviços de um montador.
Os móveis, comprados na sueca Ikea, uma das maiores redes de lojas de móveis do mundo, mas que não está presente no Brasil, são feitos para você montar sozinho. Nada complicado para quem já montou brinquedos de Lego com os filhos. A diferença é só o tamanho e o peso.
Então, numa dessas pausas de trabalho, era preciso comer alguma coisa – e hummmm… minha esposa comprou um delicioso arroz de polvo em um restaurante perto de casa.Mal terminei a refeição, os olhos começaram a arder, o rosto a inchar, coceira pelo corpo, lábios dormentes… Não é preciso ser médico para saber que a coisa era séria. Bora pro hospital voando!
O certo era ligar para o 112, o número de emergência europeu, que eles mandariam imediatamente uma ambulância, seja dos bombeiros ou do Inem (Instituto Nacional de Emergência Médica), o equivalente ao nosso Samu. Mas, na hora do desespero, e ainda preso ao paradigma brasileiro da ineficiência, o que você faz é correr para o hospital. Público, é claro.
Chegando lá, direto para a triagem, da triagem para a sala da urgência, onde já me deram uma “pica” (que é como os portugueses chamam a picada da agulha) e a medicação antialérgica. Entre começar a passar mal e ser medicado, não demorou meia hora, considerando que o trajeto até o hospital deve ter levado uns 15 minutos. Repito: hospital público. E não hesitaria em ir novamente, mesmo tendo plano de saúde privado. Atendimento rápido, de qualidade, com todos os recursos disponíveis.
No espaço da urgência, alguns idosos em cadeiras de rodas, tomando medicação ou fazendo inalação. Num outro canto, um sujeito que parecia ter caído do muro, e, numa maca, uma mulher acompanhada de uma policial prisional.
No painel da sala, algumas mensagens a respeito de saúde, em especial sobre prevenção à gripe, além dos tempos de espera na urgência, que você também pode acompanhar em tempo real no site do próprio hospital. Ou seja, você sabe, antes de sair de casa, o quanto terá que aguardar. É claro, em casos mais simples, a espera será longa – e, nessas situações, os hospitais particulares oferecerão mais conforto e um atendimento mais rápido.
Tomada a medicação, e com a alta dada pela médica, volto para casa, feliz e contente. Bem, não tão feliz assim, porque agora vou ter que abrir mão do polvo em todas as suas deliciosas variações. A médica me passa uma receita, na qual consta que os medicamentos não poderão custar mais que X euros (uma parte é subsidiada pelo Estado).
Um detalhe: o hospital é público, mas não é gratuito, a menos que o cidadão comprove a sua incapacidade financeira ou seja isento, como é o caso de idosos portadores de doenças crônicas. Mas nada astronômico: 16 euros, os quais pude pagar depois, por meio de uma transferência num caixa eletrônico. É o princípio da confiança. Você paga depois, ninguém acha que você em tese vai dar o cano.
Bom, como tive alta mas não pedi atestado médico, de volta à montagem dos móveis, porque as crianças precisam de cama para dormir!