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Em Portugal, brasileiros vão à urna em clima de final de Copa do Mundo

Alguns viajaram centenas de quilômetros para exercer o seu direito de votar. Estavam ali não pela obrigação, mas por convicção

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Gui Pacheco
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1 de 1 portuguesice - Foto: Gui Pacheco

Difícil falar das eleições, deixando o fígado e o coração de lado. Afinal, nunca antes na História desse país, parafraseando um personagem importante desse pleito, houve tanto ódio e ira disseminados nas ruas e, principalmente, nas redes sociais.

Domingo passado fiz para o Metrópoles a cobertura das eleições brasileiras em Portugal, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, único ponto de votação da capital portuguesa. O local em si é a própria metáfora do que poderiam ser estas eleições: a justiça, o equilíbrio, a sensatez, o respeito ao Estado de Direito, atributos que estão passando longe nesse mês de outubro.

Talvez se as urnas estivessem instaladas no Zoo de Lisboa ou numa Praça de Touros, o cenário seria mais coerente com esse clima de UFC. Pois foi um domingo de sol sem nuvens, com aquela temperatura amena do outono português.

As eleições são provavelmente o evento que mais junta brasileiros em um só lugar no exterior. Nem jogo da seleção brasileira tem esse poder. Mas o clima parecia mesmo era de final Brasil e Argentina. Com direito a muitos brasileiros paramentados com camisetas da seleção canarinho, oficiais ou não, de Copas passadas. Só faltaram as vuvuzelas e as perucas verde-amarelas. Gente que compareceu em massa, alguns viajando centenas de quilômetros, para exercer o seu direito de votar. Estavam ali não pela obrigação, mas pela sua convicção.

Como sempre, o jeitinho brasileiro entrou em ação. Eleitores que não se cadastraram até a data limite, que era maio, tentavam em vão ver se conseguiam dar um jeito de votar… Nas escadas da Faculdade duas brasileiras vendiam água, refrigerante e alguns salgados. Só não havia cerveja, talvez pelo respeito a uma Lei Seca que estava restrita ao território brasileiro.

Mas é claro que a eleição precisava ter um toque português. Primeiro pela ausência total de policiais. Afinal, policiamento ostensivo não combina com o terceiro país mais pacífico do mundo. Esqueceram-se de que ali era um pedacinho do Brasil, não era Portugal.

Em segundo lugar, pela presença eventual de portugueses com camiseta vermelha. Simpatizantes do PT? Não. Simplesmente torcedores do Benfica, de passagem por ali, para o maior clássico português, contra o Porto, que ocorreria horas mais tarde no vizinho Estádio da Luz.

Mas, apesar do clima quente, em poucos momentos, descambou-se para a violência. Uma das raras situações que presenciei é digna de nota pelo inusitado. Um senhor na casa dos 70 anos, bolsonarista, discutia, dedo em riste, com uma militante petista, quase a agredindo fisicamente. Foi quando interveio um outro homem, um pouco mais novo, mas o dobro do tamanho do primeiro, dizendo: “Eu também sou Bolsonaro, mas não admito que o senhor fale assim com uma mulher!”.

Obviamente a briga mudou de rumo e os dois homens quase saíram aos tapas, com a turma do “deixa-disso” entrando em ação. Para mim, foi a prova definitiva de que, dentro de um empedernido coração bolsonarista, pode habitar um homem doce, cavalheiro e gentil. Ou de que, acima das divergências políticas, podem prevalecer aquelas lições básicas de respeito ao outro, consubstanciadas em frases como ”em mulher não se bate nem com uma flor”.

Ok, você vai me dizer que proteger a mulher não tem nada a ver com respeitar os seus direitos. Concordo, mas pelo menos é um começo, não? Resta aguardar agora o segundo turno no final do mês. A conferir se tudo transcorrerá bem ou se o clima vai esquentar mais. Para compensar, pelo menos, no finalzinho de outubro, as manhãs e tardes um pouco mais frias de Lisboa talvez dissipem os eleitores e acalmem os ânimos.

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