Ai que saudades que eu tenho, em Portugal, de um doce de leite mineiro

Semana passada, jantando com um casal de amigos, ela brasileira e ele português, começamos a lembrar de guloseimas e similares do Brasil dos quais sentimos falta aqui em Portugal. Produtos que só existem aí mesmo e, importados, tornam-se artigos de luxo.

Atenção que a coluna de hoje fará eventualmente menção a marcas e produtos. Não é merchan, Portuguesices não recebe nada por isso, mas não faz sentido ficar escamoteando nomes que são amplamente conhecidos. Se até candidatos a presidente citam bordões publicitários falando da bandeira de um posto de combustível (parabéns agência Talent Marcel; parabéns, anunciante Posto Ipiranga, ops falei!), por que a gente não pode aqui?

Enfim, inevitável começar pelas besteirinhas do dia a dia, que fazem o horror dos adeptos da alimentação saudável. Para começar, ovinhos de amendoim e amendoim japonês. Você não vai achar fácil por aqui. Nem biscoito de polvilho ou biscoito Globo. E já que se falou em biscoito Globo, também vai ser difícil encontrar Mate Leão ou queijo coalho, seja na praia, ou no supermercado. Uma coisa puxa a outra.

No setor de laticínios, nada de queijo minas, requeijão catupiry, requeijão cremoso ou aquele baiano, que você só vai receber de contrabando na mala daquela tia “mala” da esposa em visita tempos em tempos. Na mala da tia (não sei como não a apreendem na imigração, a tia e a mala), vêm charque e outros pertences para fazer uma digna feijoada brasileira. Outro dia, em um desses grupos de brasileiros exilados em Portugal, uma usuária pedia pelamordedeus para alguém trazer um quilo de linguiça calabresa, que ela pagava até 50 euros! Outra internauta suplicava por uma forma de fazer pudim.

Palmito e guariroba também eu nunca vi por essas bandas. Nem quiabo, pequi, maxixe. Jabuticaba, cajá-manga, seriguela, jaca, só no dicionário. Pipoca tem, mas não de microondas.

Há uma variedade imensa de pães deliciosos em Portugal, mas eu só queria mesmo um pão francês quentinho, nem muito branco nem muito queimado, com aquela casquinha crocante. Esqueça. O mais próximo em Portugal é o que eles chamam de “cacetinho brasileiro”, muito mais massudo que o nosso pãozinho.

Entrando no capítulo “doces e produtos proibidos para diabéticos”, balas 7 Belo, Juquinha, Bala Chita, paçoca Amor ou Paçoquita. Chiclets, os originais, e balinha Tic Tac. Goiabada, doce de leite (como bom mineiro, tem que ser o Borboleta ou o Viçosa), ou doce de leite na palha. Cocada, bala de coco, daquelas que derretem na boca.

Tomar um caldo de cana acompanhado de um pastel de carne na feira ou na rodoviária, sinto muito. Portugal vai ficar te devendo

Achocolatados há no mundo inteiro. Mas tão doces e solúveis como Nescau ou Toddy, você só vai encontrar em lojas de produtos brasileiros. Aliás, esses comércios são verdadeiros consulados informais do Brasil. Um lugar para comprar Bis, Sonho de Valsa, panela de pressão e Bombril. E para jogar conversa fora, comer um pão de queijo e tomar um açaí.

Se você não troca uma Guaraná por uma Coca-Cola, fique tranquilo. Você encontra fácil o Guaraná Antarctica aqui, original, nos hipermercados. Só não encontrei até hoje na versão light. Mas se você é chegado numa Tubaína, Grapete, Mineirinho, Guaraná Jesus ou Malzbier, vai ter sérias crises de abstinência.

Devo ter esquecido de dezenas de produtos que fazem parte da nossa memória gustativa e os brasileiros não vão encontrar em Portugal. Aqueles pequenos pecados cometidos às escondidas, que fazem mal à saúde, mas um bem danado ao nosso prazer. Lá no começo falei que Portuguesices não recebe nada dessas marcas. Mas eu aceito, de bom grado, se você trouxer na sua mala para mim um pedacinho desse Brasil delicioso.

Texto dedicado aos amigos Letícia e António, e à minha Patricia, que morre de saudades de um Mineirinho. Tem gosto para tudo…