Você conhece as propostas de mobilidade urbana dos candidatos ao GDF?
Esperamos que os candidatos pensem políticas públicas de transporte que busquem a diminuição da desigualdade social no DF
Cleo Manhas
atualizado
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O segundo turno das eleições se avizinha e, com ele, o destino do Distrito Federal para os próximos quatro anos. Com relação à mobilidade urbana, o que as candidaturas – tanto a que concorre à reeleição como a que se coloca como uma “novidade” – estão sugerindo? As propostas vão em direção a uma cidade democrática e solidária ou à manutenção das desigualdades?
Infelizmente, vivemos no segundo território mais desigual do Brasil, de acordo com o Índice Gini, que mede a disparidade de renda entre a população. A despeito disso, há tempos Brasília tem se associado a modelos que fortalecem os velhos e tradicionais grupos políticos, aliados da tradição coronelista, cujo modo de governar aprofunda desigualdades, aumentando distâncias entre ricos e pobres. Se considerar o Entorno do DF, isso se acentua ainda mais.
Reduzir essa distância – que é de renda, mas também de território – entre ricos e pobres, passa necessariamente por políticas de mobilidade urbana. É preciso integrar os modais de transporte não apenas no território DF, mas incluindo municípios cercanos, visto que boa parte dessas cidades podem ser consideradas como dormitório.
A maioria da população das cidades-dormitório trabalha no DF, ou apenas no Plano Piloto, que almoça com 2 milhões de pessoas e janta com menos de 300 mil, demonstrando o movimento fortemente pendular desse lugar. Apenas para exemplificar: em Águas Lindas, cidade do Entorno, 59% da população economicamente ativa trabalha no DF, praticamente metade desse número no Plano Piloto.
Propostas
Portanto, esperamos que os candidatos considerem esses dados e que pensem políticas públicas de transporte que busquem a diminuição da desigualdade social no DF. Mas será que isso acontece? Vamos ao que dizem os dois candidatos.
Com relação à melhoria do transporte público, ambos dizem que ampliarão a frota e a renovarão. A candidatura de Ibaneis Rocha (MDB) afirma que fará revisão do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU), priorizando o transporte público coletivo, melhoria da qualidade do serviço do Metrô, com mais trens em circulação, por meio de modernização nos sistemas de energia, sinalização e controle.
O emedebista promete, ainda, transporte público conectado e aprimoramento dos sistemas de bilhetagem, entre os diversos modais de transporte, com facilitação da recarga dos cartões pelo usuário via internet e em totens localizados em áreas públicas de grande circulação de pessoas.
O candidato do PSB, Rodrigo Rollemberg, também propõe revisão do PDTU e acrescenta ações para a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (Ride), ou seja, o Entorno. Além disso, explicita a proposta de criação de rede, com transporte para curta distância integrado às redes troncais. E também cita melhorias no Metrô e no sistema de bilhetagem.
A candidatura do governador e postulante à reeleição é mais explícita sobre onde pretende investir para avanço e ampliação do transporte coletivo, além de citar várias ações para a mobilidade ativa. Sobre este último tema, a candidatura de Ibaneis apenas diz que ampliará a infraestrutura para ciclistas nas estações de metrô.
Pedestres e velocidade
Com relação à infraestrutura para pedestres, apenas a candidatura de Rollemberg apresenta proposta. O mesmo acontece em relação à redução de velocidades, quando o candidato promete criar as Zonas 30 (vias com velocidade máxima de 30 km/h). No entanto, como medida de redução da circulação de veículos, a candidatura de Ibaneis diz que irá construir bolsões de estacionamento junto a terminais e estações de metrô.
Diante dessas propostas, é possível concluir que ambas as candidaturas não conseguem escapar da armadilha rodoviarista, tendo em vista que Brasília é território com número excessivo de carros. E seguem com várias propostas de ampliação e construção de novas vias.
Rollemberg ao menos cita o investimento em uma frota com energia limpa, mas nenhuma das candidaturas se aprofunda nos problemas ambientais e de saúde provocados por um modelo equivocado de mobilidade.
O que resta à população do DF?
Seja quem for eleito, é necessário e urgente a organização da sociedade para a democratização dos espaços compartilhados das cidades, para investimento massivo em transporte de fato público, reconhecendo que essa política é direito social inscrito na Constituição Federal.
Também é urgente a redução drástica de investimento em transporte individual motorizado e ampliação de recursos para abertura dos portais da cidade com transporte acessível a todas as pessoas, com redução de tarifa e preparação do caminho para implementação do direito ao transporte com financiamento do Estado.
Por fim, o Distrito Federal precisa de melhoria e ampliação da infraestrutura para pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, temporária ou permanente; respeito ao compartilhamento das vias com ciclistas; e redução das velocidades e criação de zonas livres de carros, até mesmo aumentando a tributação sobre esse modal, para investimento em modalidades coletivas.
Além, e não menos importante, da integração de políticas de uso e ocupação do solo com as políticas de mobilidade urbana, e a garantia de espaços de participação popular nas políticas públicas.
*Cleo Manhas é assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e integrante do Movimento Nossa Brasília