Vitória com folga dará respaldo a Ibaneis para não ceder a pressões
Possível futuro governador tem condições de fazer o que Rollemberg poderia ter feito, mas não fez
Hélio Doyle
atualizado
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Se for mesmo eleito no domingo (28/10), e dificilmente não o será, Ibaneis Rocha (MDB), apesar do apoio de 20 partidos e de tradicionais políticos brasilienses, terá condições de fazer o que Rodrigo Rollemberg (PSB) poderia ter feito e não fez: estabelecer novo tipo de relacionamento entre o governo e a Câmara Legislativa, sem o nefasto toma lá dá cá em que secretarias, administrações regionais e cargos são negociados em troca de apoio político.
As condições de Rollemberg para inovar no jeito de fazer política eram até melhores do que as que Ibaneis tem. O governador teve 55,56% dos votos no segundo turno e derrotou os que representavam as principais forças políticas de Brasília: José Roberto Arruda, Joaquim Roriz, Jofran Frejat, Tadeu Filippelli e o PT, cujo candidato, Agnelo Queiroz, sequer foi para o segundo turno. Rollemberg tinha apoio da sociedade para fazer mudanças, e não as fez porque não quis.
Na campanha, Rollemberg havia prometido que não manteria com os deputados distritais e parlamentares federais o mesmo tipo de relação cultivada pelos governos anteriores. Não haveria loteamento de cargos, nem troca de favores entre Executivo e Legislativo. Todos os distritais seriam tratados igualmente e não haveria liberação de emendas de acordo com o apoio dado ao governo, mas com os benefícios para a população.
Já no período de transição, todo o discurso da campanha foi abandonado e começou a série de erros políticos de Rollemberg. Como não gostava do deputado Joe Valle (PDT), apoiou a eleição de Celina Leão (PDT) para presidente da Câmara. Entregou três secretarias a indicados por distritais, desagradando aos demais. Distribuiu as administrações regionais aos deputados que o apoiavam, apesar de ter dito que os administradores seriam indicados pelas comunidades até a realização de eleições diretas.
Os resultados negativos da gestão política de Rollemberg, por esses e muitos outros motivos, como a falta de diálogo, são conhecidos, refletem-se agora na quase certa derrota eleitoral e se mostram no isolamento político e social do candidato que tenta a reeleição
Aliados de primeira hora se afastaram – e alguns se tornaram ferrenhos adversários –, partidos e políticos que mantiveram cargos no governo até o último momento o abandonaram e optaram por adversários e, hoje, não tem apoios reais nem à direita nem ao centro nem à esquerda.
Com exceção de Leila Barros (PSB), ex-secretária de Esportes e Turismo, que se elegeu para o Senado, e de Roosevelt Vilela (PSB), ex-administrador do Núcleo Bandeirante, eleito deputado distrital, nenhum ex-secretário ou ex-administrador do governo conseguiu se eleger. Alguns tiveram votações mínimas.
Dos partidos coligados, apenas o PV, que indicou o candidato a vice-governador, manteve-se ao seu lado, pois a maioria dos militantes do PDT, da Rede e do PCdoB não fez campanha para o governador.
Tudo a favor
Até por conhecer a má experiência de Rollemberg e estar sendo eleito, em boa parte, por ter conseguido se identificar como o “novo” desejado pelos eleitores, Ibaneis não deverá cometer os mesmos erros. Se sucumbir à pressão dos que o apoiaram no primeiro turno e dos aliados no segundo turno para fazer a velha política, estará dando os primeiros passos para o fracasso de sua gestão.
Muitos esperam que, por estar no MDB de Tadeu Filippelli e ter o apoio do PP de Rôney Nemer e Celina Leão, e contar agora com aliados políticos de quase todos os partidos – alguns bem enrolados com a polícia, com o Ministério Público e com a Justiça –, Ibaneis terá de negar seu discurso contra os políticos profissionais e se render ao que chamam de governabilidade – eufemismo para toma lá dá cá e negociatas.
Talvez se decepcionem, pois se se render aos ditames das velhas práticas e métodos políticos, Ibaneis estará perdendo parte do prestígio que ganhou na campanha exatamente por não ser um político tradicional, figura hoje execrada pela população. E, para Ibaneis, é mais fácil cumprir o papel de novo político do que algumas promessas que fez.
Ele conta a seu favor com a possível vitória estrondosa de mais de dois terços dos votos, depois de derrotar, no primeiro turno, os candidatos de José Roberto Arruda e Jofran Frejat (Alberto Fraga), da família Roriz (Eliana Pedrosa) e da maioria dos políticos evangélicos (Rogério Rosso).
Conta também com uma Câmara Legislativa renovada nominalmente em dois terços, com novos distritais conscientes de que é preciso haver mudanças e interessados em valorizar a Casa e melhorar sua imagem.
Ibaneis não precisa repetir o que fizeram seus antecessores, e poderá manter com a Câmara e com os partidos relacionamento respeitoso e republicano. Terá de negociar, claro, pois isso é essencial na atividade política, assim como são a participação de partidos aliados no governo e o respeito à oposição. A questão é como negociar.