Venci o câncer de mama, engravidei sem menstruar. Gustavo vem aí!
Gustavo, símbolo da vitória contra uma doença temida, está prestes a nascer e trazer com ele o significado do Natal: amor, vida, esperança
Priscilla Borges
atualizado
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Em outubro de 2016, ganhei meu salvo-conduto contra o câncer de mama. Cinco anos depois de concluir a quimioterapia, recebi “alta” do remédio que me colocou em menopausa. Uma proteção extra contra possíveis novos tumores, capaz de causar inúmeros efeitos colaterais. Por sorte, talvez, estive ao lado da minoria que não sofre com as reações mais graves. Uma consequência, no entanto, era inevitável: o impedimento de engravidar durante o período.
A vida foi a vida nos cinco anos exigidos por essa fase do tratamento. Implacável. Tristezas, alegrias, perdas, ganhos. Não havia, desde aquele mês em que estava oficialmente curada do câncer de mama, menstruado. Não sabia se, um dia, voltaria a ovular, apesar de ter boas chances por causa da idade. Terminei o tratamento com 36 anos. A vontade de ser mãe novamente existia, mas não era uma meta buscada com ansiedade. Poderia usar os embriões que congelei, antes de começar a quimioterapia, ou tentar engravidar naturalmente. Não havia decisões e reflexões muito certeiras sobre o tema.
Uma das minhas avós, segunda mãe, caiu e quebrou o fêmur em dezembro do ano passado. Foram meses de muito sofrimento até ela deixar este plano. Não consegui sequer fazer meus exames de controle no período correto. Após sua passagem, decidi sair de férias, marcar o fim do meu tratamento – com um certo atraso, é verdade. Eu, meu marido e meu filho mais velho fomos a um show do U2 na Califórnia, Estados Unidos. Só queria pensar em exames, médicos e hospitais na volta. Minha mente precisava descansar de qualquer assunto que envolvesse saúde (ou a falta dela).Quando retornei, marquei as ecografias de rotina: tireoide, abdômen total e transvaginal. Naquele Dia dos Namorados, recebi uma notícia surpreendente, emocionante. Desta vez, o “achado” da profissional que me atendeu não simbolizava dor, incerteza ou morte. Eu esperava um bebê. Meu pequeno milagre chegou sem que eu planejasse uma gravidez ou percebesse que seria capaz de gerar outra vida de forma natural. Estava com quase três meses de gestação. Aquela vida não deu os sinais clássicos de que já morava em mim. Não havia menstruado, mas não contava com esse parâmetro. Não sentia sono, não tinha enjoos, não estava cansada.
Demorei alguns minutos para me dar conta de que a cena na clínica era real. Em seguida, usei as ferramentas tecnológicas disponíveis (telefone e WhatsApp) para avisar ao marido, filho, mãe e irmãos fora do país o presente que todos ganháramos. A certeza de que a vida compensa perdas nunca fez tanto sentido para mim como naquele momento. Sentia, no meu coração, que minha avó havia dado ordens lá no céu para esse “menino” vir logo, aliviar a dor que a ausência dela causa.
Neste Natal, me sinto pura vida. Gustavo está prestes a chegar e, com ele, todo o significado dessa fase do ano: esperança, amor, vida nova. Desejo que esses sentimentos bons estejam com todas as pessoas, hoje e sempre, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos como indivíduos ou povo, e possam nos ajudar a encarar 2018!
Venha, meu filho caçula! Venha mostrar que o amor vence qualquer barreira, tristeza ou obstáculo.
*Priscilla Borges é editora-chefe do Metrópoles