Ultraje, Lobão, Regina: a década de 1980 voltou pra se vingar
Todas as pessoas daquela geração estão presas pela direita. Um grande acordo nacional, com Djavan, com tudo
Anderson França
atualizado
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Sei não.
Na última quarta-feira (29/01/2020), vendo Regina Duarte sorrindo e dando tchau para as câmeras na saída do Planalto, me perguntei se não teríamos voltado para Roque Santeiro, mas do lado dos vilões.
Porque não é POCÍVEO, meu pai armado.
Toda a década de 1980 despirocou.
O Roger, do Ultraje, tava esses dias me esculhambando no Twitter. Eu ainda estou tentando entender o “peito é pra dar de mamar, peito é só pra enfeitar”, como alguma coisa que não seja uma expressão doentia e tarada de um grupo de playboys que tocavam guitarra e não lavavam o cabelo, mas observe bem:
A década de 1980 foi abduzida. Todas as pessoas daquela geração estão presas pela direita. Um grande acordo nacional, com Djavan, com tudo.
Tá. Djavan tá na dele. Errado não tá.
E tem uns e outros que escaparam. Mas, malandro, receio que se estivesse vivo, Bezerra ia estar do lado dos ome.
Lobão já foi. Frota também. Sérgio Mallandro não admite, mas também é. O sertanejo inteiro saiu do armário. Roberto Carlos sempre foi. A Porcina, com aquela cara que eu vi na TV quando criança… Torci por ela, parça. Poxa, Regina! você tá desfazendo de uma infância, mano. Já não tenho problema demais pra resolver não?
Eu tenho a impressão que é a República do Deslumbre. O que te mantém no cargo é o deslumbre. A boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar, que, no caso de milicianos, é mais que uma metáfora. Regina Duarte entrou rindo, mas de mim. De você.
Pense nas nomeações que ela vai fazer. Nas ações amadoras, incompetentes… Vamos voltar ao tempo do Jogral. Eu já imagino a primeira fala em rede nacional, com trilha de abertura do seriado Chaves, e ela dando uma volta inteira na mesa, bocarra aberta, dizendo:
Venci. Venci o medo.
Janeiro não vai acabar nunca.
* Anderson França é ativista social, roteirista e escritor, indicado ao Jabuti por Rio em Shamas, Objetiva/Cia. das Letras.