Última semana de campanha será animada em Brasília
Números do Ibope e do Datafolha indicam Ibaneis no segundo turno e disputa entre Eliana e Rollemberg
Hélio Doyle
atualizado
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Não adianta estrilar nem bater o pé contra as pesquisas de opinião, mesmo que possam estar erradas. Na última semana da campanha para governador, elas influenciarão eleitores indecisos e instáveis e provocarão adesões de última hora aos candidatos mais bem colocados. Boa parte dos eleitores e quase todos os políticos gostam de estar com quem vai vencer e, além disso, o chamado voto útil ou contra alguém terá grande peso nessas eleições.
A influência das pesquisas nas escolhas dos eleitores é um fato, mesmo com todas as críticas e restrições feitas a elas por quem entende e por quem nada entende do assunto. Os eleitores dão mais crédito às pesquisas do que ao que os candidatos dizem ver nas “ruas”, sempre a seu favor. Há estudos sobre isso e por diversas vezes já se tentou proibir a divulgação de pesquisas nos últimos dias das campanhas, para que os eleitores não sejam influenciados por elas.
Seria uma medida inútil em tempos de redes sociais, e proibir a divulgação alimentaria também informações falsas que seriam amplamente disseminadas na internet. Houve uma época em que havia a proibição e não existia a internet aberta, e mesmo assim os números eram anunciados pela imprensa de forma cifrada, como “o elevador de fulano subiu para o 24º andar, o de sicrano parou no 12º.”
As diferenças entre sondagens do Ibope e do Datafolha, de um dia para outro, contribuíram para reforçar o descrédito nas pesquisas, do que se aproveitam candidatos mal colocados ou em queda. Eles têm motivo para negar os números apresentados: não estar entre os primeiros ou, o que é pior, em queda leva a equipe de campanha ao desânimo, eleitores sem convicção a mudar o voto e aliados a debandarem – como fez o grupo do PSDB, que abandonou Alberto Fraga (DEM) em favor de Ibaneis Rocha (MDB).
Apesar das aparências, não há contradição antagônica entre as pesquisas do Ibope, divulgada no dia 27, e a do Datafolha, divulgada no dia 28. Todas as diferenças nas intenções de voto situam-se nas margens de erro dos dois institutos e os índices de eleitores que não sabem em quem votar são próximos, assim como o dos que votarão em branco ou anularão (total de 15% no Ibope e 18% no Datafolha).
Além disso, os pesquisadores do Ibope fizeram suas entrevistas nos dias 24 a 26 de setembro e os do Datafolha nos dias 26 a 28. No final da campanha, e especialmente quando fatos novos são anunciados (como processos e denúncias) e debates realizados, é normal que haja mudança de índices de um dia para o outro. Isso certamente ocorrerá nos próximos dias, quando grande parcela dos eleitores decidirá definitivamente em quem votar.
O que as duas pesquisas indicam, especialmente quando se verifica a série histórica de ambas e até mesmo são comparadas com sondagens de outros institutos menos conhecidos, é que Ibaneis está crescendo aceleradamente, Eliana Pedrosa (Pros) sofre ligeira queda, Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (PSD) continuam sem sair do lugar e Fraga está caindo.
A pesquisa do Ibope passou a impressão de que Eliana (21%) e Ibaneis (20%) tinham assegurado a passagem para o segundo turno, já que seus oponentes mais próximos (Rollemberg, Fraga e Rosso) estavam com 11%. Mas, no dia seguinte, o Datafolha apresentou Ibaneis com 24%, Eliana com 16%, Rollemberg com 12%, Fraga com 10% e Rosso com 8%.
Os números, naturalmente, deram alento a Rollemberg e Fraga, distantes de Eliana no Ibope, mas empatados tecnicamente com ela no Datafolha.
A divergência relevante entre as duas pesquisas, assim, é apenas a intenção de voto em Eliana, 21% no Ibope (logo, entre 18% e 24% com a margem de erro) e 16% no Datafolha (entre 13% e 19%). Rollemberg (11% no Ibope e 12% no Datafolha, estável) e Fraga (11% e 10%, em queda) estão na mesma faixa. Para interpretar essa diferença, é preciso ver o que pode ter mudado para os eleitores de Eliana entre os dias 26 e 28 de setembro, ou contar com a margem de erro – ela poderia ter 19% nos dois institutos.
Ainda pode mudar
A realidade é que nenhuma pesquisa realizada nos últimos dias indica com clareza e segurança quem irá para o segundo turno em Brasília. Mas mostram que Ibaneis é o que tem maior probabilidade de chegar lá e que a segunda vaga, que tende para Eliana, ainda está sendo disputada por Rollemberg, apesar de sua elevadíssima rejeição. Numa casa de apostas, Ibaneis e Eliana seriam mais bem cotados.
Os índices, porém, estão tão próximos que nesta última semana ainda podem ocorrer mudanças nas colocações e nas tendências. Podem surgir fatos que abalem algum candidato e favoreçam outro, os 4% (Ibope) ou 5% (Datafolha) que dizem não saber em quem votar podem se decidir, os 11% (Ibope) ou 13% (Datafolha) que pensam em votar branco ou nulo podem mudar de opinião.
Rollemberg pode chegar ao segundo turno se as intenções de voto em Eliana caírem bastante (inclusive por migração para Ibaneis) ou se boa parcela desses “não voto” e dos eleitores de Júlio Miragaya, do PT (3%), Alexandre Guerra, do Novo (2% ou 3%) e Fátima Sousa (1% ou 2%) optarem por ele. Seria o voto útil para impedir que dois candidatos do grupo identificado com Joaquim Roriz, José Roberto Arruda e Tadeu Filippelli cheguem à fase final da eleição.
Mas Eliana também pode aumentar seus índices pelo mesmo critério do voto útil, recebendo eleitores de Fraga e de Rosso ou não votantes que não querem a vitória de Ibaneis ou que querem a derrota de Rollemberg ainda no primeiro turno. As pesquisas continuarão dando indicações e mostrando tendências nesta última semana, mas certeza mesmo só haverá depois das 17h do dia 7 de outubro.