“Sandyjunior-se”: o lúdico torna a vida adulta mais leve
A diferença entre ser adulto e infantil está na maturidade, que leva ao autoconhecimento, a se aceitar e viver de forma autêntica
Daniel Nahoum
atualizado
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Semana passada, minha irmã, que é sete anos mais nova, me criticou brincando ao falar que eu estava velho, pois andava ouvindo muita bossa nova, MPB e jazz. Esta semana, voltou a disparar críticas, mas dizendo que eu era infantil demais, ouvindo Sandy & Junior e jogando Donkey Kong. Na semana passada, minha primeira reação foi ignorá-la. Nesta, pedi para ela se decidir se eu era velho ou infantil.
As críticas dela me fizeram refletir. Por que a sociedade sempre precisa categorizar, rotular, colocar em caixas? O que é ser adulto? O que é ser infantil? Eu sei, pura filosofia. Contudo, a questão é mais cotidiana do que você possa imaginar. Inclusive, pode estar te atingindo neste exato momento, sem que você perceba. Como? Sentindo culpa ou levando tudo muito a sério.
Jogar videogame, colecionar bonecos(as), se divertir em parques temáticos, assistir a animações, montar Lego, ler quadrinhos, usar sandália do Star Wars e tantas outras coisas te fazem ser infantil ou apenas autêntico, sincero consigo mesmo e livre para viver o lúdico?
Onde está estipulado que ser adulto é ouvir jazz, ler livros densos, assistir a cinema cult e se permitir jogar só games hardcore? A realidade já é dura demais para termos que reproduzi-la em todo o resto. A ludicidade pode ser uma grande aliada para mais qualidade na vida adulta.
Tudo é uma questão de imposição social. Até o ano passado, ouvir músicas da dupla Sandy & Junior era atitude quase que carregada de culpa para adultos. Quando eu ouvia as músicas publicamente, as piadinhas eram certas.
Bastou os cantores anunciarem o retorno para que fosse causada uma comoção social. Aí, deixou de ser algo infantil para se tornar socialmente aceito. No fundo, milhões de pessoas, além dos fãs, estavam com sua admiração trancada no quarto escuro. A sociedade precisa de alguém ou algo para autenticar seus gostos reprimidos.
E isso é triste. Não espere um movimento em massa para dizer que o que você gosta é certo ou errado. A diferença entre ser adulto e infantil está na maturidade. Maturidade, inclusive, que leva ao autoconhecimento, a se aceitar e a viver de forma autêntica.
Ser adulto é abraçar as diferenças, ser íntegro moralmente, assertivo quando necessário, assumir as responsabilidades e saber viver em comunidade. Se você fizer tudo isso, chegar em casa e pegar seu Nintendo para jogar Mario, se você sente prazer em ouvir o Xou da Xuxa 3 porque te dá prazer lembrar da infância, parabéns! O lúdico gera uma sensação incrível que nos falta atualmente.
Os filósofos Sócrates e Platão, o famoso bispo da Idade Média Comênio e diversos pesquisadores atuais afirmam que o lúdico, em qualquer forma, é a melhor metodologia disponível de aprendizagem. As crianças têm a nos ensinar, sobretudo a nossa criança interior. Entender que não existe idade para brincar, para colorir, para se expressar sem vergonha, é libertador.
A partir de agora, não se culpe em viver mais o lúdico. Ele alimentará a sua alma e poderá salvar a sua vida.
*Daniel Nahoum é diretor audiovisual, jornalista, DJ e encantador de cães