Rollemberg começou a perder a reeleição na transição de governo
Governador fez escolhas erradas e é o maior responsável pela derrota diante de Ibaneis
Hélio Doyle
atualizado
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Consumada a derrota, e por goleada, é natural que se faça a pergunta: o que levou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) a ser tão mal avaliado e ter o governo tão reprovado pelos brasilienses? Sua gestão foi tão ruim assim?
É mais fácil e ocuparia menos espaço dizer quais foram os acertos de Rollemberg, tantos são e foram os erros, no governo e na campanha eleitoral. Houve acertos, mas foram soterrados pelos erros, potencializados em um momento em que a população demonstra enorme indignação e má vontade com os políticos.
O governador começou a ser derrotado ainda no período de transição, quando deixou de lado promessas de campanha e enveredou, por vontade própria, em um labirinto do qual nunca soube ou, talvez, não quis sair. Organizou mal a administração, adotou práticas antigas e nefastas, fez alianças políticas erradas e não teve a capacidade de dialogar com os brasilienses.
Rollemberg é tido como bem-intencionado, simpático e honesto – e é mesmo – e, ao se eleger em 2014, havia a expectativa de que romperia com a velha política que marca Brasília desde 1990 e faria uma boa e inovadora gestão. Condições políticas para isso, ele tinha: eleito com 55,56% dos votos, derrotou os candidatos do PT e do PSDB e, especialmente, do poderoso grupo dos ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, as forças políticas tradicionais da cidade.
A herança que Rollemberg recebeu, queiram ou não, foi pesada. Uma elevada dívida com servidores e fornecedores e déficit orçamentário que totalizavam R$ 6,5 bilhões, fora aumentos salariais irresponsáveis e eleitoralmente concedidos sem previsão no Orçamento e sem certeza de que haveria recursos para pagar. Mas, em vez de mostrar firmeza, ousadia e criatividade, e recorrer à sociedade para enfrentar a situação crítica, Rollemberg se atemorizou e se encolheu. Não soube usar o peso político da vitória para enfrentar a adversidade.
Muitos erros se desdobraram a partir do mau começo, em diversos níveis de complexidade e de importância. Há erros de gestão, administrativos, políticos, de comunicação. Há, porém, a mãe de todos os erros: Rollemberg, por todo o mandato, não soube governar, não soube ser o gestor e o político pelo qual o Distrito Federal ansiava ao elegê-lo.
Não basta ter sido parlamentar com muita vivência ou ser boa gente e honesto, para saber governar. Rollemberg não soube governar em um momento extremamente difícil para o país e para Brasília. Não olhou para o futuro, não traçou uma estratégia, não definiu prioridades, não adotou uma linha política clara, não montou uma equipe, de modo geral, eficiente, não soube comandar e coordenar o governo, não mostrou coragem e determinação, aliou-se a distritais corruptos e atrasados, não dialogou com a sociedade civil e com os políticos.
Governar exige método, mas o de Rollemberg é não ter método. Isso se refletiu em todos os aspectos do governo: na dispersão de esforços, na falta de autoridade perante os secretários e dirigentes de empresas, no voluntarismo e no espontaneísmo ao tomar decisões, na ausência de articulação interna, nas ações isoladas e improdutivas, na agenda atabalhoada, na falta de continuidade dos projetos, na comunicação desastrosa, nas relações promíscuas com deputados distritais, no loteamento político do governo.
Sem credibilidade
Os graves problemas, sobretudo nas críticas áreas de saúde e de segurança, mas também a falta de melhorias no transporte coletivo e no trânsito, e a cidade mal-cuidada, entre outros, menores, causaram enormes desgastes ao governo. As naturais dificuldades de atender às reivindicações dos servidores públicos foram agravadas pela falta de diálogo e pelo espírito de enfrentamento. A imagem negativa do governador, considerado tíbio e ineficiente, foi aumentando e, na metade do mandato, já estava consolidada.
Chegando à campanha com altíssimos índices de reprovação ao governo e rejeição a ele próprio, Rollemberg repetiu os mesmos erros da campanha de Agnelo Queiroz em 2014: concentrar-se em apresentar as realizações de seu governo e anunciar o que faria em um novo mandato. Ocorre que todos os governadores apresentam algumas obras e realizações, e as de Rollemberg não impressionaram os eleitores mal-humorados com as condições de vida, inseguros e insatisfeitos com os péssimos serviços públicos, especialmente na saúde. Ele fez mesmo algumas coisas, dizem os eleitores, mas muito menos do que deveria ter feito e nada mais do que a obrigação.
O governador também não tinha credibilidade para dizer o que faria se fosse reeleito, pois sua imagem está tão deteriorada que poucos acreditavam em suas promessas. Compromisso exige confiança. Da mesma maneira, a maioria dos brasilienses não se impressionou com a história da casa arrumada, pois o que as pessoas veem e sentem no dia a dia é o que prevalece, superando contas, gráficos e balanços produzidos por uma gestão desacreditada e mal-avaliada. Para o povo, a casa está bem desarrumada.
Restou a Rollemberg dizer que tem as mãos limpas. A honestidade, realmente, é uma qualidade altamente considerada pelos eleitores, e as dúvidas quanto à lisura de alguns candidatos contribuíram para colocá-los mal no primeiro turno. Mas, da mesma maneira que a população rejeita quem rouba, mas faz, não quer também quem não rouba e não faz.
Com essa estratégia equivocada, aliada a um governo mal-avaliado, Rollemberg manteve-se estacionado com 10% a 13% das intenções de voto durante todo o primeiro turno e só passou para o segundo porque os seus principais concorrentes perderam votos para Ibaneis Rocha e Paulo Chagas nos últimos dias.
No segundo turno, a estratégia foi partir para o ataque contra o adversário, mas a imensa rejeição do governador não se reduziria com a queda do concorrente, nem a ofensiva iria levá-lo a ganhar muitos votos. Ibaneis perdeu votos, em parte, também por ter se recusado a comparecer aos últimos debates, e Rollemberg cresceu um pouco no final. Mas os ataques, especialmente os feitos por ele próprio, não tirariam a enorme diferença entre ele e Ibaneis Rocha.
Rollemberg fez um governo mediano, com mais baixos do que altos. Só isso já dificultaria enormemente sua reeleição, mas a péssima campanha acabou de vez com qualquer possibilidade de vitória. Rollemberg foi derrotado por suas muitas escolhas equivocadas.