Reeleição de Rollemberg é improvável, mas ainda possível
Governador espera que voto útil contra os azuis o leve para o segundo turno das eleições
Hélio Doyle
atualizado
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Se o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) for reeleito, os cientistas e consultores políticos, profissionais de campanha e de comunicação, pesquisadores de opinião e alunos de mestrado e doutorado de diversas áreas terão um belo tema para estudos. Um case, como se diz. Afinal, será o primeiro caso de reeleição de um governador com altíssima rejeição e cujo governo tem mais de 50% de desaprovação. A gestão de Rollemberg é desaprovada por 56% dos brasilienses.
Só as circunstâncias muito especiais desta eleição de 2018 fazem com que a reeleição de Rollemberg seja possível, embora improvável. O cenário em Brasília é tão confuso e tão indefinido, que o governador pode, a julgar pela situação atual, aparecer na noite do dia 7 de outubro como primeiro, segundo, terceiro ou quarto colocado. É claro que até lá muitas coisas acontecerão e, aos poucos, o quadro ficará mais definido.
Não será somente por se apresentar como um governador honesto e desfiar uma lista de realizações – na verdade, poucas e, algumas, discutíveis – que Rollemberg tem chances de ser reeleito. As vantagens de ser candidato podendo usufruir as benesses do cargo e o desempenho na campanha, até agora sofrível, poderão ajudá-lo a ganhar mais votos. E com 15% a 20% dos eleitores será possível ir para o segundo turno.
Mas, o que pode possibilitar a improvável reeleição do governador tão rejeitado é o voto útil. O voto, ainda que contrariado e desgostoso, dos eleitores que não querem de volta ao Buriti os políticos “azuis”, vinculados aos governos de Joaquim Roriz, José Roberto Arruda, Rogério Rosso e Tadeu Filippelli. Esse eleitorado votou em Rollemberg e em Agnelo Queiroz em 2014 e em eleições anteriores votava nos candidatos do PT. Em 1990 e 2002, votou também em outros postulantes de centro-esquerda.
Rollemberg beneficiou-se, em 2014, dos desgastes nacional e local do PT, aparecendo como alternativa de centro-esquerda para derrotar o bloco rorizista-arrudista representado, primeiro, por Arruda e, depois, por Jofran Frejat. No decorrer do governo, porém, afastou-se politicamente da centro-esquerda e sofreu a oposição do PT. Quando a Rede e o PDT, aliados desde a campanha, romperam com seu governo, ele se aproximou mais de partidos à direita, que já participavam da sua gestão, pensando que poderiam ser seus aliados na reeleição.
Os políticos tradicionais ou geneticamente vinculados ao bloco Roriz-Arruda, porém, seguiram sua tendência natural e, depois de usufruírem de cargos e vantagens, abandonaram Rollemberg em favor dos candidatos desse grupo. Uma exceção foi a ex-tucana Maria de Lourdes Abadia, que deixou o PSDB e se filiou ao PSB para ser candidata a deputada federal na chapa do governador.
Isolado, apenas com o PV a seu lado, Rollemberg buscou desesperadamente o apoio dos partidos de centro-esquerda que ou o haviam abandonado (Rede e PDT) ou nunca tinham apoiado seu governo (PCdoB e PPL). Só não conseguiu o do PPL, que se aliou a Ibaneis Rocha (MDB), mas dos demais tem apenas a marca e os tempos de TV, pois militantes e candidatos desses partidos não trabalham para reelegê-lo.
A maior vitória de Rollemberg ao ter esses partidos como aliados, porém, foi evitar que fosse lançado por eles um candidato de centro-esquerda que seria uma ameaça maior à sua reeleição do que a representada pelos candidatos azuis – Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Ibaneis Rocha (MDB) e Rogério Rosso (PSD). Se houvesse esse candidato, as perspectivas de ir para o segundo turno seriam bem menores.
Joe Valle
Um candidato de centro-esquerda poderia receber os votos do eleitorado ao mesmo tempo antiazul e insatisfeito com Rollemberg, tirando-o do segundo turno. E quem mais ajudou Rollemberg, paradoxalmente, foi o deputado distrital Joe Valle, que se declara adversário político do governador e não segue a decisão do PDT de apoiá-lo. Outro que ajudou Rollemberg a evitar um candidato de centro-esquerda foi o também distrital Chico Leite (Rede), que desde a renúncia de Valle queria se aliar ao governador, como candidato ao Senado.
Valle lançou-se a governador para se cacifar para a eleição de deputado federal, mas quando sentiu que a candidatura estava avançando, até com a realização de evento na presença de Ciro Gomes, anunciou a desistência. O PDT ou a Rede poderia ter lançado outro candidato e teria apoio pelo menos do PCdoB e do PPL, mas Valle e Chico Leite trabalharam intensamente para impedir que isso acontecesse. Valle, para se aliar a Frejat e ser candidato ao Senado e, até fracassar, impediu que o PDT tivesse candidato; Chico Leite, para se aliar a Rollemberg, como fez. Ambos sem apoio da maioria dos militantes de seus partidos, mas se aproveitando do controle das direções partidárias.
Como boa parte do eleitorado de centro-esquerda e contra a volta dos rorizistas-arrudistas não quer votar no PT e não se identifica com o PSol, Rollemberg pode vir a ser a opção para evitar que dois dos quatro azuis passem para o segundo turno. Receberia, assim, o voto “útil” dos que desaprovam seu governo e não o veem como bom gestor, mas preferem que continue no Buriti a ter a volta dos identificados com os governos anteriores.
Quem parece ter identificado esse vazio que pode beneficiar o governador é Ibaneis. Ele procura se mostrar afastado do passado dos outros três azuis, apresentando-se como candidato progressista e da sociedade civil, embora esteja no MDB e em uma coligação comandada por Filippelli.
Ibaneis busca ser o principal opositor de Rollemberg e, se conseguir chegar ao segundo turno, tem dois cenários: se for contra outro azul, poderá ter o apoio do eleitorado petista e de centro-esquerda; se for contra Rollemberg, poderá ter o apoio de azuis e, quem sabe, de vermelhos de várias tonalidades insatisfeitos com o governador.
A partir do dia 6, serão divulgadas novas pesquisas confiáveis, e o cenário poderá ir se definindo, mas só depois do dia 20 é que o quadro irá se delinear com mais clareza. Os eleitores estão confusos com tantos candidatos e, pelo jeito, vão decidir em quem votar – se é que vão votar – nos últimos dias. Rollemberg confia em que muitos decidam por ele, mesmo que por falta de alternativa. Mas aí ainda terá de enfrentar o segundo turno, quando o voto útil será ainda mais importante para ele.