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Red Bull em Las Vegas deu asas para o GDF passar longe do bom senso

Se não tem dinheiro para hospitais, para pagar servidores, não pode haver um centavo de verba disponível para captação de evento nos EUA

Autor Lilian Tahan

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Estadio
1 de 1 Estadio - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Instantes após o Metrópoles ter revelado que o secretário-adjunto de Turismo do DF, Jaime Recena, embarcaria para Las Vegas com tudo pago pelo GDF, ele aproveitou os minutos antes do voo rumo aos Estados Unidos para me escrever esta mensagem de WhatsApp:

Olá, Lilian, que pena essa nota!

Em nenhum momento estou viajando para fazer turismo. Há mais de um ano, venho trabalhando junto a Red Bull a possibilidade de trazer para a nossa cidade uma etapa desse evento. Depois de algumas reuniões realizadas com a companhia, conseguimos uma agenda para apresentar Brasília como uma possível cidade para receber a competição. Esse evento é televisionado para mais de 100 países e com certeza seria uma oportunidade única para a capital. Uma possibilidade como essa deveria ter o apoio dos meios de comunicação e não ser motivo de matéria negativa.

Um abraço.

Então, respondi ao secretário:

Oi, Jaime, entendo e apoio demais todas as iniciativas de sua secretaria, mas, honestamente, considero essa atividade na contramão do discurso de austeridade do governo. Há milhares de pessoas com o 13º salário atrasado. E não falo do ponto de vista do valor da viagem em si, porque esse é irrisório (R$ 32 mil) para uma cidade/estado com orçamento de R$ 35 bilhões. Digo do ponto de vista do senso de empatia e de consideração pelos servidores, pelos doentes que aguardam noites inteiras para marcar uma consulta. As captações da Secretaria de Turismo são fundamentais, mas há meios muito eficientes de comunicação remota em época de crise.

Abraço.

Recena é um bom quadro. Vai superar essa crise de imagem. Mas o ocorrido precisa ser levado em consideração por quem pensa o governo estrategicamente. Não há nesse episódio um centímetro sequer de coerência na régua que deveria medir o bom senso oficial.

Vejamos:

Uma das primeiras medidas de Rodrigo Rollemberg (PSB) como governador do DF foi cortar ações de seu antecessor Agnelo Queiroz (PT) consideradas supérfluas diante de um cenário de crise. Foi com essa justificativa que o GDF eliminou orçamento para a realização dos jogos universitários em Brasília, a Universíade. A meta de trazer o evento para Brasília motivou, pelo menos, quatro viagens internacionais de integrantes do GDF à custa do tesouro local durante a gestão petista. Integrantes do governo foram, por exemplo, à China e à Bélgica em menos de um ano para negociar a vinda do evento a Brasília.

O que mudou desde o início do governo Rollemberg para tornar justificável uma missão nos mesmos moldes da que foi abortada no início da administração socialista? Digo o que mudou: a saúde e demais equipamentos públicos estão dois anos mais sucateados, e o cidadão cada vez mais impaciente com o governo que não honra compromissos de campanha e, alegando incapacidade financeira, descumpre determinações legais, como o pagamento de reajuste devido aos servidores.

Se não tem dinheiro para garantir o mínimo dos insumos nos hospitais da cidade, se o governo atrasou o 13º salário dos servidores que fazem aniversário em outubro, não pode haver um centavo de verba disponível para captação de evento em Las Vegas. E, mesmo que esse orçamento exista, é de mau gosto banquetear diante de quem passa necessidade. Não ostente a fartura.
Ainda que o governo estivesse em dia com suas obrigações em áreas vitais, há medidas mais básicas no escopo da Secretaria Adjunta de Turismo que ainda aguardam providência oficial.

Na noite desta terça-feira (11/10), estive no show de Jorge & Mateus no Estádio Mané Garrincha. Minha intenção era fazer fotos, vídeos e transmitir o conteúdo, assim como um pequeno trecho do evento, na página do Metrópoles no Facebook. Não consegui sequer enviar um WhatsApp para avisar à redação que ali dentro do Mané não havia nenhuma possibilidade de conexão com a internet.

Em julho, estive em um show do Coldplay, no MetLife Stadium, próximo a Nova York. O acesso ao estádio, em uma área afastada do centro de New Jersey, se dá por trem e é incrivelmente ordeiro e sinalizado. A conexão via WiFi permitiu que eu transmitisse meia hora do show. Um sucesso.

Na mensagem de Recena enviada poucos minutos antes de ele embarcar para Las Vegas acompanhado de duas servidoras da pasta (uma delas, sua namorada), o secretário disse que o evento da Red Bull é transmitido para mais de 100 países, uma forma de divulgar a capital brasileira. Mas como levar a sério um argumento como esse se dentro do Estádio Mané Garrincha não conseguimos enviar um WhatsApp?

Antes de buscar soluções em terras tão distantes, secretário, há providências elementares a serem tomadas a cinco minutos do seu gabinete. Que o evento da Red Bull dê asas à imaginação do governo para encontrar soluções mais adequadas e austeras em tempos de crise.

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