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Recuperação econômica, modelos de gestão e indicadores em tempo de Covid-19

A tomada antecipada de ações achata a curva epidemiológica e evita o colapso do sistema público, principalmente o da saúde pública

Autor Paulo Medeiro

atualizado

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arte coronavirus COVID-19 mundo mundial
1 de 1 arte coronavirus COVID-19 mundo mundial - Foto: Getty images

Antes de dissertar sobre recuperação econômica, modelos de gestão, e indicadores para cidades eu gostaria de comentar sobre: oportunidades. Desejada por todos, mas perceptível por poucos.

Até pouco tempo atrás falávamos sobre cidades inteligentes, resiliência, sustentabilidade, humanização, transformação digital e digitalização dos serviços públicos para plateias que encaravam o assunto sem nenhum interesse que não fosse eleitoral. A grande maioria dos gestores públicos e políticos brasileiros consideravam o assunto de pouco interesse nacional.

Entretanto, como por passe de mágica, surge de forma global uma devastadora praga darwinista que trouxe medo e destruição à economia mundial. O resultado de tudo que estamos vivenciando, mas que a maioria dos nossos gestores continuam negligenciando, é que o mundo, e principalmente as cidades, pessoas, empresas e serviços públicos, jamais serão os mesmos.

Ou seja, o mundo como conhecíamos acabou! Esta nova ordem pessoal, política e empresarial, que já começa a despontar e que dominará o nosso dia a dia já está em fase de construção e suas bases começam a surgir planeta afora.

Começaremos pela atualmente famosa pandemia, uma palavra que ainda não tinha sido pronunciada por boa parte da população mundial e que surgiu logo após ouvirmos sobre o novo coronavírus (vírus) e a Covid-19 (doença), até então inexistentes em nossos vocabulários. Mas existe alguma relação entre oportunidades, Covid-19 e Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis?

É fato que a Covid-19 deixará marcas profundas na sociedade, mas será fato que a nova realidade social exigirá cidades mais inteligentes para a sua sobrevivência? Nossos governantes estão preparados para esta nova realidade? Vamos rapidamente refletir sobre isso.

Em todas as minhas apresentações sobre “Cidades Inteligentes e Globais” destaquei, principalmente, a questão da resiliência necessária às cidades brasileiras. Presenciamos há pouco tempo (2019) a chegada de manchas de óleo ao litoral brasileiro e assistimos a demora das autoridades na tomada de decisões.

Como resultado, alguns meses depois, continuamos com óleo chegando e destruindo o nosso litoral. Este caso e outros milhares de exemplos na história do Brasil poderiam ter sido evitados, ou rapidamente mitigados, se gestores públicos soubessem como aplicar a resiliência, com foco no cidadão, em suas funções públicas.

Falhas

Os fracassos no combate à Covid-19, nas maiores e mais preparadas cidades do mundo, se deram por irresponsabilidade ou incompetência de seus gestores, que foram míopes em suas previsões.

Não há dúvidas de que os atrasos na aplicação de medidas protetivas, na aplicação do isolamento social, na aquisição de insumos médicos, em detrimento da burocracia, ou ainda o descaso pela vida humana, causarão estragos sociais e políticos irreparáveis.

Não são necessários profundos exercícios de filosofia para perceber que as mudanças, assim como a propagação do vírus, acontecerão numa velocidade inimaginável aos seres contemporâneos.

Nas cidades, as catalisadoras das mudanças serão, sem sombra de dúvidas, as empresas, que já iniciaram a transformação de seus processos para a era verdadeiramente digital do pós-Covid-19.

E aquelas que começaram, em pouco tempo perceberam que este caminho é bom. Encontraram escalabilidade, melhora nas margens de lucro, redução das obrigações fiscais e trabalhistas e, com isso, reduziram custos de operação.

Clientes preparados para o mundo virtual consumirão ainda mais das empresas que, agora, poderão prestar serviços e entregar produtos personalizados. Estes mesmos clientes, após provar deste novo modelo de gestão, jamais voltarão a consumir no mundo físico da mesma forma que antes, pois saberão que o “velho mundo”, perigoso, não poderá ser encarado da mesma forma.

Estudamos e analisamos os desejos e comportamentos das gerações dos Baby Boomers (1945-1964), X (1965-1984), Y (Millennials, 1985-1999), Z (2000-2019) e, agora, os nascidos em 2020 formarão uma geração totalmente digital que não se interessará por lojas físicas, eventos ao vivo, ou aglomerações.

No final do ano passado (2019) participei de um evento promovido por uma entidade empresarial do Distrito Federal e fui surpreendido com a declaração do presidente da organização de que “deveríamos combater o comércio eletrônico, pois estaria fechando as empresas locais”. Sem palavras, me levantei e deixei o evento.

Hoje (2020), o mesmo presidente acima cobra das autoridades responsabilidade no auxílio às empresas que, por acaso, ele mesmo ajudou, por vários anos, a “afundar”, com o seu pensamento desconectado da realidade.

Poderíamos passar horas falando sobre casos de sucesso e decisões desastrosas, exemplos não faltariam, mas a intenção é encontrar soluções para os problemas que temos atualmente, e que não são poucos.

Enfim, há soluções? Com certeza, sim!Não faltam oportunidades em meio ao caos atual. Com a crise social, política e econômica há oportunidades para empresas, profissionais liberais, autônomos e governos. Não haverá momento mais propício para a transformação de processos do que este que estamos vivendo. Não será uma tarefa fácil, mas com certeza é estratégica.

Planos bem elaborados

Nesta mesma linha as cidades, por meio de seus gestores, precisarão, obrigatoriamente de planos bem elaborados de sustentabilidade, resiliência e humanização, todos com esta nova visão de mundo. Muitos outros vírus, bactérias, doenças, desastres, naturais ou não, e crises virão. É fato! E caso ocorram, como reagir? Como mitigar? Como medir e avaliar, antecipadamente, os impactos e os riscos?

Estamos à beira de crises econômicas e financeiras inevitáveis e inimagináveis, comparáveis às que ocorreram nos períodos das piores guerras, onde milhões de pessoas perderão seus empregos, moradias e capacidade de trabalho, tudo isso em cidades já insolventes que permanecerão completamente falidas por prazo indeterminado.

Possivelmente as estruturas políticas, sociais, financeiras, econômicas e estruturais chegarão próximas ao insustentável e muitas delas se colapsarão.

Podemos não acreditar no fato, mas em qualquer situação, temos que nos preparar para ele, caso ocorra. Acreditar ou esperar que o governo federal seja o “grande salvador” será um grande erro dos gestores estaduais ou municipais que, nas próximas eleições, deverão dar respostas claras e objetivas à uma população muito mais informada e digital.

E como serão as relações humanas num ambiente caótico como anteriormente descrito? A população já não desejará frequentar unidades públicas tradicionalmente repletas de pessoas e dos possíveis males do momento, preferindo resolver seus problemas pelos meios de comunicação existentes, não presenciais.

Salas cheias de pessoas, com senhas nas mãos, aguardando atendimento, sem a certeza de que seu problema será resolvido, estão com os dias contados.

Neste cenário pré-caótico, é apropriado falar sobre CHICS em nossos municípios? Eu afirmo que é fundamental, pois somente com programas claros e objetivos de transformação das cidades, em Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis, é que sairemos com maior brevidade das crises que virão.

E será neste novo contexto que a gestão, verdadeiramente efetiva, baseada em evidências e indicadores fará a diferença, com eficiência e eficácia.

O novo dia a dia

Pensar no ensino público a distância, serviços públicos virtuais, novos modelos de arrecadação, fim das organizações cartoriais, fim de boa parte das profissões existentes, crescimento dos serviços de entregas, auto-serviços, documentos digitais, redução do número de equipamentos públicos, transparência total, contato direto com o cidadão, eleições virtuais, e uma centena de outras inovações se tornarão, até o próximo ano (2021), parte do nosso dia a dia.

Presenciamos no pós-ataques de 11 de setembro de 2001 a mudança ocorrida na segurança interna dos países, nos serviços de inteligência e, fundamentalmente, no transporte aéreo global. O pós-Covid-19 trará muito mais mudanças para as cidades de todo o mundo.

Não tenho o espelho de Nostradamus e acredito que para analisar este momento não seja tão necessário, pois já conseguimos visualizar os sinais da transformação. Vejo um pouco assustado e ansioso, como deve ser, mas com esperança de que as mudanças, que estão acontecendo em diversas partes do mundo, possam ajudar, com brevidade, o nosso Brasil.

É neste contexto que as cidades brasileiras podem sair à frente de outras cidades globais e, em pouco tempo, superar, econômica e financeiramente, as tradicionais cidades mais conhecidas.

Já sabemos que a tomada antecipada de ações achata a curva epidemiológica, e que evita o colapso do sistema público, principalmente o da saúde pública. Similarmente, decisões antecipadas para a transformação das cidades irão recuperar as economias locais e trarão melhores condições financeiras a todos, incluindo os setores produtivos regionais.

A certificação das cidades, com base nas ISO 37120, 37122, 37123 e ou pelo ITU-T U4SSC (United 4 Smart Sustainable Cities), tendo por premissa a implantação de uma CHICS, com a elaboração de Planos Mestres de CHICS, colocaria em destaque qualquer município brasileiro, criando um ambiente favorável aos negócios, investimentos e rápida recuperação da economia local.

  • Paulo Medeiro é mestre em Inteligência Artificial pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT); pós-graduado em Inteligência de Mercado e Comércio Internacional pela EU Business School de Genebra, Suíça; e Bacharel em Ciência da Computação, pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente, é subsecretário de Inovação do GDF

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