metropoles.com

Quer uma Brasília desconfigurada? Mude-se. Há 5.570 opções

Alteração nas regras de construção em região tombada abre a brecha para, no futuro, outras áreas serem desconfiguradas, como as superquadras

Autor Lilian Tahan

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
SIG
1 de 1 SIG - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Quem é nascido e criado em Brasília já aprendeu a lidar com as idiossincrasias da capital desenhada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Mas essa não é apenas uma prerrogativa dos nativos. Há muitos candangos de coração. Gente que entende, ama e protege a cidade que brotou no Cerrado para ser vitrine do Brasil.

Os defensores do projeto que chamam de lar já se acostumaram com a opinião alheia. Há quem ame e quem deteste. Mas uma impressão é consenso: não existe no mundo quem passe indiferente ao lugar onde o plano é, para sempre, cruzar urbanidade com a linha do horizonte.

O céu de Brasília não é produto de efeito cósmico. Sua beleza é cantada e cultuada porque um dia os gênios da arquitetura decidiram que os edifícios dispostos nas áreas residenciais teriam uma altura máxima a ser respeitada.

Uma invenção que não só colecionou admiradores leigos em todo o mundo mas mereceu a atenção de especialistas e tornou-se objeto de preservação para sempre. Sem dúvidas de que a cidade da prancheta ganharia vida tão logo o projeto deixasse a brochura e passasse a abrigar as pessoas nas superquadras, setores, parques.

O movimento criou com o tempo a necessidade óbvia de adaptação do Distrito Federal. Seis novas cidades surgiram com as vantagens e desvantagens que este crescimento poderia representar.

Mas, até agora, ninguém ousou desconfigurar o Plano Piloto tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade, a essência da capital brasileira tal qual concebida pelos arquitetos festejados há 60 anos.

Um projeto que chegará à Câmara Legislativa nesta segunda-feira (12/08/2019), no entanto, traz em suas entrelinhas esta armadilha. A chamada Lei do SIG autoriza a elevação da altura dos prédios na região que margeia o Eixo Monumental e faz fronteira com o Sudoeste.

A pretexto de atender ao interesse público, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) propõe aos deputados distritais a aprovação, o quanto antes, do projeto de lei complementar que mudará as regras de construção em uma área na qual 95% dos 370 lotes pertencem a grandes empresários. Muitos deles ligados ao ramo da construção, como demonstrou reportagem do Metrópoles.

O aumento do potencial construtivo dos prédios no SIG cria um perigoso precedente alertado por grandes especialistas ombreados com a defesa da manutenção de Brasília tal qual estabelecem as regras do tombamento.

A brecha por onde hoje podem surgir as mudanças no Setor de Indústrias Gráficas é a avenida que se abrirá para a desconfiguração, amanhã, das superquadras como admiramos e do céu como adoramos.

Por maior que seja o esforço do secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Mateus Leandro de Oliveira, de nos fazer crer que as autorizações no SIG são inocentes e indolores, onde passa um boi, passa uma boiada.

Mexer no Plano Piloto da capital do país com 5.570 outras opções de cidade para quem não gosta de Brasília é uma heresia.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?