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Quem vai enfrentar Donald Trump em 2020?

Enquanto Trump trabalha com a caneta na mão, seus adversários tentam, em discursos e promessas de campanha, mostrar que farão diferente

Autor Delio Cardoso

atualizado

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President Trump attends annual National Prayer Breakfast
1 de 1 President Trump attends annual National Prayer Breakfast - Foto: EPA/MIKE THEILER / POOL

O terceiro debate para a escolha do candidato do Partido Democrático, que irá enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 2020, aconteceu na semana passada, em Houston, no Texas, e pouco acrescentou para a mudança do quadro eleitoral. Os favoritos Joe Biden, ex-vice de Barack Obama, Elizabeth Warren, Senadora por Massachusetts e Bernie Sanders, senador por Vermont, mantiveram suas posições de liderança, mas certamente não empolgaram o eleitor norte-americano.

Pior ainda para os outros sete candidatos presentes que se esforçaram para mostrar algo diferente, mas não se destacaram. Pelo menos puderam aparecer para o eleitorado ao se qualificarem para o debate, após atingirem 2% ou mais em pesquisas nacionais. Destaque negativo para Andrew Yang, empresário, oriundo de família de imigrantes de Taiwan, que prometeu uma ajuda financeira de mil dólares por mês a todos americanos maiores de 18 anos, numa espécie de combate à desigualdade. A par das desconfianças que este tipo de promessa gera no eleitorado, em especial o americano que não acredita em nada de graça, muito menos dinheiro, isto nos remete ao então candidato tupiniquim Levy Fidelix, nas eleições presidenciais de 2014 que, além do aerotrem, prometeu uma poupança de quatro salários mínimos para cada recém-nascido no Brasil, caso fosse eleito.

Como a escolha do candidato democrata se dará em novembro próximo, o eleitorado começa a se interessar e analisar mais de perto as opções disponíveis para enfrentar Trump. Se mantiver a tendência verificada nesta mesma época, em 2016, quando Hillary Clinton era líder das pesquisas e acabou sendo a escolhida, Joe Biden parece ser a bola da vez. Entretanto, a julgar pelo marasmo atual, o quadro político que se delineia é amplamente favorável ao atual presidente Trump que pouco, ou nada, tem feito para se consolidar na liderança das pesquisas. Seus adversários têm tropeçado na bola, como se diz na linguagem futebolística.

O que mais chamou a atenção no último debate foi a diversidade entre os candidatos. Mulher, negro, imigrante, gay, terceira idade e branco estavam representados. Porém, o que se viu, na verdade, foi um pacto velado de não agressão entre Biden, Warren e Sanders, líderes nas pesquisas. Obviamente, ninguém quer perder o apoio futuro do outro, quando se tornar candidato oficial do partido. Os tópicos abordados, e que certamente nortearão a campanha até o final, permaneceram voltados para o sistema de saúde, impostos e regulação financeira. A crítica ao jeito Trump de governar foi unanimidade entre os candidatos. Iniciavam ou terminavam suas intervenções sempre com uma alfinetada no atual presidente. Em seguida, invariavelmente, seguiam os aplausos da plateia, no auditório da Texas Southern University, composta em sua totalidade por democratas.

Tentando ganhar os holofotes Pete Buttigieg, prefeito de South Bend, Indiana, apelou para a sua juventude. Com apenas 37 anos e primeiro candidato gay assumido, pregou uma mudança de geração no comando do país. Ao invés de atingir Trump, que tem 73 anos, acabou acertando em cheio seus colegas democratas, Biden, 76 anos, Sanders 78 e Warren, 70. Outra pisada na bola partiu de Julian Castro, ex-secretário de Habitação de Obama, que ao rebater Biden o acusou de demência, por ter esquecido o que tinha falado a apenas dois minutos antes, quando explicava seu projeto para a saúde. Foi cruel e constrangeu todos os presentes. Beto O’Rourke, ex-congressista do Texas, afirmou que vai proibir a comercialização dos rifles de assalto AR-15 e AK-47, armas usadas nos recentes massacres nos EUA, tentando responder ao ocorrido em sua cidade El Paso, Texas, quando 22 pessoas foram mortas por um atirador. Parece pouco em termos políticos e, certamente o é, mas isso demonstra o respeito que os americanos têm pela Segunda Emenda, que garante o direito de o cidadão andar armado para sua defesa pessoal. Ninguém ousa divergir desse princípio, muito menos em uma campanha política.

Na única pergunta que envolveu o Brasil o tópico foi a Amazônia. Dirigida a Cory Booker, senador por New Jersey, o mediador quis saber se após os recentes incêndios na Amazônia, uma maneira de ajudar o meio ambiente, seria comer menos carne, numa clara alusão que são os fazendeiros que promovem as queimadas.  Na formulação de sua pergunta frisou, ainda, que Trump e Bolsonaro estão preocupados com o fato de que as regulamentações sobre mudanças climáticas possam afetar o crescimento econômico. Booker, por sua vez, não pareceu confortável com a pergunta e transpareceu estar despreparado respondendo, genericamente, que a agricultura industrial estaria atacando a indústria agrícola. Disse ter um projeto de lei para impor uma moratória nesse tipo de negócio ante ao prejuízo causado ao meio ambiente. Em suma, disse nada com nada e pior, nem tocou no assunto Amazônia, divergindo o assunto completamente para a presença de tropas americanas no Afeganistão.

Trump, por sua vez, ao longo de seu mandato tentou destruir o ObamaCare, programa de saúde implantado pelo seu antecessor, chamando-o de um verdadeiro desastre, mas esbarrou na resistência do Congresso, incluindo seus próprios pares republicanos. Antevendo um fiasco, passou a dizer que, em função de sua gestão, o sistema de saúde agora funciona melhor. Na economia, em mais um de seus arroubos, elegeu recentemente como “grande inimigo” Jerome Powell, presidente do Fed, espécie de Banco Central americano (independente), afirmando que ele trabalha contra a prosperidade do povo americano ao manter alta a taxa de juros, prejudicando o crescimento da economia. Já na questão dos impostos, tenta lucrar politicamente com a sua medida, tomada logo no início do governo, que reduziu a carga tributária e gerou mais dividendos ao empresariado. Economia forte é seu argumento central para um segundo mandato. Para atingir sua meta, não hesitou em iniciar uma guerra comercial com a China, visando a diminuir o déficit na balança comercial dos EUA com o gigante asiático.

Enquanto Trump trabalha com a caneta na mão, seus adversários tentam, através de discursos e promessas de campanha, demonstrar que farão diferente. Na verdade, os projetos existentes são muito parecidos, apenas propostos por diferentes interlocutores, com vantagem para Trump que incorpora o conservadorismo nacional republicano em políticas públicas de alcance social.  Além disso, Trump imputa nos democratas a pecha de partido esquerdista, a favor do aborto e tolerante com a imigração ilegal. Resta, pois, aos democratas o discurso anti-Trump, que envolve sua política migratória segregatória e suas posturas radicais. Neste quesito, pela pesquisa realizada pelo Washington Post-ABC, 45% dos eleitores democratas entendem que Joe Biden é o candidato com maiores chances de derrotar Trump. Por outro lado, apenas 24% entendem que ele seria o melhor presidente para os EUA.

Por vários momentos o debate se pareceu com aqueles em que o brasileiro se acostumou a ver no primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil. Prevaleceram os desvios de temática, discursos vagos, excessos de tempo, candidatos jogando para a plateia, promessas esdrúxulas e exibicionismos. Como os candidatos democratas parecem não decolar, Trump vai nadando de braçadas e se divertindo. Impõe apelidos nos adversários, sem dó nem piedade. Para Biden escolheu “sonolento Biden”, Elizabeth Warren é a “pateta“, Bernie Sanders é o “maluco“, Beto O’Rourke é o “boneco“ e Pete Buttigieg é o “Mad“, das histórias em quadrinhos. Os próximos capítulos são imperdíveis.

Delio Cardoso
Carioca, pioneiro em Brasília, mora nos Estados Unidos desde 2015. É advogado e jornalista. Pós-graduado em Direito Internacional pela London School of Economics-LSE. Foi Consultor Legislativo do Senado Federal na área de Direito Civil, Conselheiro da OAB/DF, Professor de Direito Internacional Publico junto a UDF e Editor do jornal Voz do Advogado. Trabalhou no Jornal de Brasília, Correio do Brasil e dirigiu o programa “De Olho no Trânsito”, na TV Brasília e TV Record-DF.

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