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Políticos tradicionais levam vantagem sobre os novatos

Há uma contradição entre o que os eleitores dizem e o que está acontecendo

Autor Hélio Doyle

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Alexandre Guerra
1 de 1 Alexandre Guerra - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Os quatro candidatos mais conhecidos e com extensa trajetória política ocupam, embolados, os quatro primeiros lugares na disputa pelo governo de Brasília. Depois deles, e bem atrás, é que vêm os sete candidatos relativamente desconhecidos, que nunca exerceram mandato legislativo ou executivo, e dos quais a maioria dos brasilienses nunca tinha ouvido ou nem ouviu falar até agora. Se esse quadro permanecer até a eleição, estará confirmada a contradição entre o que os eleitores têm manifestado em conversas e pesquisas qualitativas e o que realmente está acontecendo.

Os eleitores mostram-se indignados e revoltados com a política e com os políticos, estão descontentes com a situação do país e da cidade, dizem querer renovação na política e no exercício do governo e garantem que não acreditam mais em demagogia e promessas inconsistentes. Mas, até agora, os preferidos para o governo são os políticos antigos, com seus velhos métodos e práticas, e que ou são reprovados pela má gestão – caso do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) – ou têm se caracterizado exatamente por propostas demagógicas e populistas.

Além de já serem conhecidos dos eleitores, os quatro líderes na pesquisa Datafolha – Eliana Pedrosa (Pros), Rollemberg, Rogério Rosso (PSD) e Alberto Fraga (DEM) – têm outras vantagens sobre a maioria dos demais, asseguradas pela legislação eleitoral: mais tempo nos programas e inserções gratuitos na televisão e no rádio; garantia de participarem dos debates realizados pelas emissoras, por seus partidos terem pelo menos cinco parlamentares federais; e cotas maiores do fundo público eleitoral.

Grupos
Diante disso e da campanha eleitoral mais curta, parece difícil que os candidatos desconhecidos consigam superar os conhecidos. Mas há fatores que têm de ser considerados, como a presença nos debates de Ibaneis Rocha (MDB), Júlio Miragaya (PT) e Fátima Sousa (Psol), os recursos financeiros à disposição de Ibaneis e o eleitorado lulista-petista na casa dos 10% a 15%. Além disso, em uma cidade como Brasília, com 3 milhões de habitantes e território reduzido, é mais fácil surgir uma “onda” que surpreenda.

Com base nos seus programas de governo, nos debates e sabatinas (como a promovida pelo Metrópoles) e nas declarações que têm dado, os candidatos a governador que se opõem a Rollemberg podem ser divididos em três grupos, considerando-se que há algumas nuances entre eles:

– Populistas: Eliana, Rosso, Fraga, Miragaya, Ibaneis e Fátima. Têm se caracterizado, em diferentes graus, por promessas de difícil ou impossível cumprimento no atual quadro financeiro e fiscal (embora, a maioria, justas e necessárias), como grandes obras e investimentos públicos, contratações de servidores e concessão de aumentos salariais, e por medidas demagógicas, como reduzir o número de radares no trânsito, despachar nos hospitais e escolas, assegurar metrô de graça no fim de semana e coisas semelhantes. E ainda prometem diminuir as alíquotas dos impostos.

Esse grupo recusa a privatização de empresas públicas, vai acabar com a experiência do Instituto Hospital de Base e se divide em relação a concessões e parcerias público-privadas, aceitas por Eliana, Rosso, Fraga e Ibaneis, e recusadas por Miragaya e Fátima.

Outra característica do grupo é a defesa incondicional de reivindicações dos servidores públicos, especialmente o pagamento, a 32 categorias, da última parcela do reajuste salarial concedido pela gestão anterior, a equiparação entre os policiais civis e os federais e a manutenção da chamada pecúnia, a compensação em dinheiro a servidores que não gozam suas licenças-prêmio. Todas essas reivindicações têm respaldo legal ou são direitos adquiridos, mas seu atendimento depende da existência de recursos financeiros que os candidatos não explicam de onde virão.

– Racionais: Paulo Chagas (PRP) e Alexandre Guerra (Novo). Esses dois candidatos não fazem promessas mirabolantes, centram boa parte de suas propostas em questões ligadas à gestão e ao corte de gastos com privilégios, vão avaliar a privatização de algumas empresas públicas e não assumem todas as reivindicações de servidores, embora aceitem algumas delas. Demonstram entender menos a realidade do governo e vacilam, por desconhecimento, em relação a algumas questões.

Chagas e Guerra (foto em destaque), porém, não têm o direito de participar dos debates na televisão e têm tempo mínimo na propaganda gratuita. Ou seja, são desconhecidos e nada contribui para que se tornem conhecidos, a não ser que saibam usar muito bem as redes sociais. Chagas tem a vantagem de ser aliado de Jair Bolsonaro, líder, em Brasília, na disputa pela Presidência da República.

– Ideológicos: Antônio Guillen (PSTU) e Renan Rosa (PCO). Ambos candidataram-se ao governo sabendo que não se elegerão, mas para aproveitar a oportunidade de propagar suas ideias políticas e ideológicas. Criticam o capitalismo, defendem o socialismo e, no caso de Renan, a liberdade e a candidatura de Lula a presidente.

Todos os 10 se opõem, naturalmente, a Rollemberg, que tem se limitado a desfiar uma lista de realizações de seu governo e a chamar adversários de demagogos e vinculados a políticos denunciados e condenados por corrupção. O governador, embora tenha confirmado presença na véspera, não compareceu à sabatina do Metrópoles e não conseguiu ainda mostrar em que um segundo mandato seria diferente do atual, altamente rejeitado pela população.

Bandeiras
É interessante observar que os candidatos do primeiro grupo que são vinculados aos partidos de “direita” assumiram bandeiras que tradicionalmente são dos partidos de “esquerda”, como a rejeição a privatizações e a defesa de algumas reivindicações de servidores. Todos os 10 candidatos dizem que não farão barganhas políticas e loteamento de cargos no governo, prometem relações diferentes com a Câmara Legislativa, não aceitarão chantagens dos distritais e escolherão os administradores regionais ouvindo as comunidades. Procuram, dessa forma, se diferenciar das práticas adotadas por Rollemberg e se identificar com a chamada nova política – e aí estão de acordo com o que dizem as pesquisas qualitativas.

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