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Os cristãos e a liberdade religiosa em Israel

Historicamente, Jerusalém sempre foi alvo de tensões, com repercussões que afetam toda a geopolítica mundial

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Imagem colorida de judeus ortodoxos no Muro das Lamentações, em Jerusalém, Israel - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de judeus ortodoxos no Muro das Lamentações, em Jerusalém, Israel - Metrópoles - Foto: Otto Valle/Metrópoles

Nos últimos dias, viralizaram nas redes sociais as imagens de um pastor evangélico brasileiro fazendo proselitismo religioso no Muro do Templo em Jerusalém. Na ocasião, ele ficou rodeado de crianças judias cantando em hebraico, expressando desconforto com a presença dele no local, considerado um dos mais sagrados do judaísmo.

Muitos têm utilizado o caso como uma suposta evidência de que Israel seria hostil aos cristãos e restringe a liberdade religiosa. Alguns até utilizaram o episódio para questionar a postura de grande parte dos evangélicos, atualmente a maior parcela de apoiadores do país. A realidade, contudo, é muito mais complexa.

Embora seja um Estado judeu, Israel também é o lar de vários outros grupos étnico-religiosos, incluindo denominações cristãs e islâmicas. Por ser o berço das três religiões abraâmicas, o país abriga lugares considerados sagrados pelos maiores credos monoteístas do mundo.

Desse modo, Israel tem o desafio de manter a ordem e a liberdade religiosa não apenas para seus cidadãos, mas para milhares de turistas.

Esse é o cenário, principalmente em Jerusalém. Historicamente, a cidade sempre foi alvo de tensões, com repercussões que afetam toda a geopolítica mundial. Afinal, a mesquita Al-Aqsa, terceiro lugar mais sagrado do Islã, está situada justamente no monte do templo, o lugar mais sagrado do judaísmo, sendo esse um dos pontos mais complexos do conflito palestino-israelense.

Por essas razões, Israel adotou uma série de regras para a visitação desses locais sagrados, como uma maneira de proteger a liberdade religiosa de todos os credos. É nesse contexto que a ação do pastor brasileiro precisa ser entendida.

Proselitismo religioso

Ao buscar propagar a fé evangélica no muro das lamentações, ele não apenas desrespeitou os fiéis que estavam lá como ainda infringiu leis israelenses. Isso porque o país proíbe o proselitismo religioso para menores de 18 anos, medida que é amparada no Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Nesse aspecto, a reação das crianças judias foi completamente compreensível, principalmente ao cantarem em hebraico “o povo de Israel vive”. Durante séculos, os judeus foram alvo de tentativas de conversão forçada ao cristianismo, as quais resultaram nas Cruzadas e na Inquisição, e poderiam, sim, ter levado à extinção do povo judeu.

Embora o sionismo cristão seja um movimento bastante relevante na formação do Estado de Israel, o diálogo judaico-cristão é, de modo geral, um fenômeno recente, surgido do trauma do Holocausto. Apesar do avanço da compreensão mútua, muitos desafios ainda permanecem.

Nos últimos meses, inclusive, foram registrados em Israel alguns casos de intolerância religiosa por parte de radicais judeus contra cristãos, sobretudo em Jerusalém. Tais atos, no entanto, foram amplamente condenados pelas autoridades e principais líderes religiosos israelenses.

O presidente do país, Isaac Hezorg, inclusive, realizou uma série de encontros com os representantes das denominações cristãs de Israel, a fim de saber como o Estado poderia melhor assisti-los e coibir os casos de intolerância religiosa.

É isso o que diferencia Israel de praticamente todos os demais países do Oriente Médio, os quais figuram há anos na lista da Missão Portas Abertas dos 50 lugares onde é mais difícil ser cristão.

Nesse aspecto, os desafios enfrentados por Israel na proteção dos direitos das minorias religiosas em nada diferem dos dilemas enfrentados por outras democracias, vide o aumento dos casos de antissemitismo e islamofobia no Ocidente. Isso para não mencionar o aumento da violência contra praticantes das religiões de matriz africana no Brasil.

O episódio envolvendo o pastor evangélico, portanto, não é evidência da falta de liberdade religiosa em Israel, muito pelo contrário. No contexto do país, o pastor é quem foi o intolerante religioso.

  • Igor Sabino é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e trabalha atualmente como gerente de conteúdo da StandWithUs Brasil e fellow do The Philos Project

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