O que você perde quando não está nas redes sociais?
Entramos em uma espiral de busca por aceitação que torna nossas timelines uma esteira de “momentos felizes”
Rafael Campos
atualizado
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Eu posto, pelo menos, uma foto por dia no Instagram. Costumo usar o Twitter sempre que tenho a chance e, mesmo com toda a bagunça que o Facebook fez com nossas informações pessoais, ainda assim sigo com ele.
No entanto, ao mesmo tempo, não me importo de receber spoiler de Game of Thrones, pois não assisto. Não há nada sobre o Lollapalooza nas minhas redes sociais, pois, em casa, estava bem mais à vontade que no festival. E consigo ficar sem ver aquela novidade da Netflix sem que isso me cause qualquer angústia (estou falando de você, O Mecanismo).
Diante dessas duas situações tão diferentes, me pergunto: será que tenho FoMO? Para quem não conhece a sigla, FoMO quer dizer “Fear of Missing Out” (medo de estar perdendo algo, em português), uma síndrome que tem como característica aquela sensação de ansiedade que bate em algumas pessoas quando elas não checam o smartphone constantemente, no temor de estarem ficando por fora de algo que seus amigos estejam fazendo. Conhece alguém assim?
Descrita pela primeira vez em 2000, ela está longe de atingir apenas adolescentes. Especialistas identificam o medo em pessoas jovens e adultos de até 34 anos, podendo alcançar todas as idades. Já me vi em uma situação assim. Muito mais que temeroso por estar sendo colocado de lado, havia em mim também a necessidade de mostrar que estava fazendo alguma coisa.
Era como se buscasse, por meio dessas publicações, não apenas ser visto, mas aparentar que a minha vida era mais cheia – de diversão, de atividades, de encontros, de viagens – do que realmente era. E aqui, sei que não estou sozinho. Ainda que a FoMO tenha, de fato, consequências sérias e por isso deva ser tratada com acompanhamento psicológico (depressão e insatisfações com o corpo estão entre os sintomas), a apreensão trazida pela premência em mostrar que estamos presentes nas redes sociais é algo que aflige quase qualquer um em posse de um smartphone.
Em uma das suas frases mais célebres, o carnavalesco Joãosinho Trinta disse: “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. E, na geração da internet, isso acaba se encaixando perfeitamente. Entramos em uma espiral de busca por aceitação que torna nossas timelines uma esteira de “momentos felizes”. Como eles são pontuais, como tudo na vida, o exagero se torna prática, e parece que precisamos do like amigo para nos sentirmos completos. Para consegui-lo, nada de falar sobre problemas.
O que importam são selfies, fotos de viagem, aquele restaurante maravilhoso. E longe de mim achar que qualquer um desses compartilhamentos é um erro! Até porque, além de fazê-los constantemente, sei do poder que afagos ao ego, mesmo virtuais, podem dar para nos ajudar a seguir em frente. A verdadeira tarefa aqui é lembrar que tudo isso também existe fora do celular e que retribuir elogios, reforçar agradecimentos e compartilhar gentilezas são atitudes capazes de diminuir nosso medo de ficar fora – e fazem as redes, quem diria, ficarem bem mais sociais.
Rafael Campos é social media do Metrópoles