metropoles.com

O PL das Fake News e o que está em jogo para as eleições

Rejeitar a urgência da tramitação pode privar as eleições de 2022 de avanços importantes que começariam já nas campanhas

Autor Mônica Sodré

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Constantine Johnny/ Getty Images
Ilustração de um teclado com teclas uma ao lado da outra formando o nome fake news
1 de 1 Ilustração de um teclado com teclas uma ao lado da outra formando o nome fake news - Foto: Constantine Johnny/ Getty Images

Se algo ficou evidente nos últimos anos, é que a democracia não está dada. As ameaças ao sistema eleitoral, a suspeição quanto à lisura e confiabilidade da apuração dos votos, e a divulgação maciça de desinformação, que afetam nossa capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso e de tomar decisões, convocam para um chamado à ação, desafio hoje transfronteiriço.

A defesa da democracia pode ser a missão de uma geração, mas no Brasil temos um compromisso urgente a atender: a realização pacífica e ordeira das eleições de outubro, com reconhecimento de seus resultados.

Nesse sentido, tramita hoje no Congresso Nacional o Projeto de Lei n° 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, de autoria do Senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), que foi bastante modificado na sua passagem pela Câmara dos Deputados, onde se encontra atualmente sob a relatoria do Deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

No último dia 6 de abril, a Câmara rejeitou por 249 votos o requerimento pela tramitação do projeto em regime de urgência, a despeito do risco de não tê-lo aprovado a tempo para as eleições deste ano (o prazo limite para tanto é 2 de julho).

O projeto não é isento de críticas, a exemplo da bastante discutida imunidade parlamentar estendida às redes sociais. No entanto, rejeitar a urgência da tramitação sob essa justificativa pode privar as eleições de 2022 de avanços importantes que começariam já nas campanhas.

O projeto prevê, por exemplo, restrições aos disparos de mensagens em massa, a exigência de representação no Brasil para empresas de mensageria, plataformas de redes sociais e de busca, e o fim da monetização de contas institucionais e de mandatários, que impulsionam e dão dinheiro para candidatos “youtubers”.

Caso o assunto não seja priorizado, chegaremos às eleições com poucos instrumentos legais e institucionais para fazer frente à máquina estruturada de desinformação que tem dominado o país há alguns anos. Para além da aprovação de medidas que possam garantir mais lisura no processo eleitoral, há outras fundamentais para assegurar o respeito ao resultado das eleições:

  1. Comunicação rápida e objetiva: é importante que o resultado seja comunicado pela imprensa assim que estiver consolidado, diminuindo a margem de contestação enquanto as últimas urnas são apuradas;
  2. Monitoramento de conteúdo: é relevante que haja uma ação coordenada entre plataformas e redes sociais para banir postagens que se utilizem de vídeos manipulados e/ou montagens para sugerir fraudes nas urnas;
  3. Não incitação à violência: instituições e agentes públicos precisam estar preparados para conter manifestações antidemocráticas (a exemplo da invasão do Capitólio, nos EUA, em janeiro de 2021);
  4. Apoio internacional: a comunidade internacional precisa ser convocada a acompanhar o pleito e repudiar qualquer ato ou declaração que incite violência ou que não reconheça o resultado das urnas.
  5. Não alimentar a caixa de ressonância nas redes sociais: instituições da sociedade civil, artistas e personalidades públicas não devem dar publicidade a postagens, influenciadores e declarações antidemocráticas, ainda que em tom crítico, sob o risco de reverberar o conteúdo.

Sabemos que consensos são difíceis de conquistar, especialmente em períodos eleitorais, quando o aumento da polarização é esperado. É preciso, entretanto, que haja consenso sobre as regras do jogo, e que a defesa da democracia seja uma base comum sobre a qual se movimentam os atores políticos.

Em tempos de recessão democrática no Brasil e no mundo, não se trata apenas de preservar mecanismos e procedimentos democráticos, mas também de encará-la como um valor universal.

  • Mônica Sodré é cientista política e diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS)

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?