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O luto de um país: quando uma escola é alvejada, morremos todos

Para deputado Leandro Grass, tragédia de Suzano expõe uma realidade de intolerância, mal-estar e fracasso no país

Autor Leandro Grass

atualizado

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RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
Velerio das vitimas do ataque em escola de Suzano
1 de 1 Velerio das vitimas do ataque em escola de Suzano - Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Na quarta-feira (13/3), quando dois jovens apertaram o gatilho de um revólver e uma arma medieval dentro de uma escola em São Paulo, matando 10 pessoas e ferindo mais de 20, escancararam ali a realidade vivida atualmente no nosso país. Uma realidade de intolerância, mal-estar e fracasso.

Enquanto professor, me vi ali. Passei toda a minha vida profissional em sala de aula. Foram 14 anos entre escolas públicas, particulares, cursinhos preparatórios e cursos de formação de professores. É impossível não ter empatia e solidariedade a todos que viveram esse triste episódio.

Este 15 de março é uma data que deveria ser comemorada. É o Dia da Escola. Mas, diante de tanta dor e aparente desilusão, gostaria de refletir com vocês sobre a escola que eu acredito. A que valoriza, educa e transforma. A que estamos perdendo a cada vida que se vai.

A barbárie de Suzano deve ser enfrentada por cada um de nós, pois não se restringe ao interior da Escola Estadual Professor Raul Brasil. O problema é estrutural. Advém de uma anomia, ilustrada pela crise das instituições e por uma estrutura cultural marcada pelo culto ao sucesso e ao consumo. Fortalece-se com a negligência do poder público em relação às políticas de infância e juventude, especialmente as educacionais. Degrada-se pela corrupção. Não só aquela que tira o dinheiro da população, mas que desvirtua as prioridades. Assim, o que era para ser direito torna-se privilégio de poucos.

Um exemplo disso é a educação de qualidade. Inacessível a todos, virou produto do mercado em um contexto de desprestígio da escola pública. Números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) expõem a disparidade entre estudantes de instituições públicas e particulares de ensino. Dados divulgados em junho de 2017 mostram que a média geral das escolas brasileiras era de 525 pontos. No entanto, 91% das escolas públicas estavam abaixo da média. Quando levado em consideração o nível socioeconômico muito alto, a média subia para 599. Em contrapartida, quando muito baixo, caía para 454 pontos.

O Ideb revelou ainda que, de 2 milhões de alunos matriculados no 3º ano do ensino médio, apenas 58% realizaram a prova do Enem, sendo as escolas de renda média-alta, alta e muito alta responsáveis por 65% do total de instituições. Uma pesquisa divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo neste ano mostrou que, entre os melhores classificados no Enem, aqueles que detêm melhores condições socioeconômicas são os que mais se destacam.

Não sou adepto da privatização do ensino. Acredito que a universalização da escola pública de qualidade é o único caminho para democratizar o país e promover desenvolvimento humano com sustentabilidade. Digo com certeza que as melhores experiências pedagógicas ainda residem no ensino público. Mas, como sabemos, escolas são pessoas. Essas luzes dispersas são educadores engajados que lutam contra um sistema que insiste em desmotivá-los. Precisamos identificá-los e fortalecê-los.

Creio que se os agentes públicos não saírem dos seus gabinetes para conhecer a realidade, jamais serão capazes de fazer a sua parte. Por isso, desde o primeiro mês de mandato, tenho visitado inúmeras escolas do Distrito Federal. Na maioria das unidades, a situação é a de abandono e degradação. Banheiros quebrados, telhados furados, salas e mobiliário velhos, quase nada de esporte, ciência e tecnologia.

São décadas de desprezo pela educação. Anos de descuido com os estudantes e desvalorização dos professores. A partir dessas constatações, tenho procurado encaminhar soluções em parceria com os gestores da Secretaria de Educação e conectar parceiros que possam auxiliar no fortalecimento das boas práticas pedagógicas existentes.

Assim, quando dois jovens entram armados em uma escola e matam quem encontram pela frente, podemos concluir que erramos. Erramos como sociedade, Estado e indivíduos. Precisamos pactuar para que a escola seja um lugar de paz e sonhos. Escola não combina com medo, armas e autoritarismo. Escola combina com liberdade, beleza e plenitude. No desejo de construí-la a tal modo, deixo aqui meu abraço para a comunidade de Suzano. Que todos tenham serenidade e fé para suportar a dor e seguir em frente. Precisamos acreditar. Jamais desistir.

(*) Leandro Grass é professor, sociólogo, mestre em Desenvolvimento sustentável, doutorando em gestão pública (UnB) e deputado distrital pela Rede Sustentabilidade

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