O dia em que descobri ter a mesma idade da Lorelai Gilmore
Quando comecei a assistir Gilmore Girls eu tinha 14 anos, dois a menos que a Rory. Na segunda vez assistindo, eu me vi com a mesma idade da mãe
Olívia Meireles
atualizado
Compartilhar notícia
Desde primeiro de julho, o Netflix deixou disponível no seu catálogo as setes temporadas de “Gilmore Girls”. É preciso muita dedicação para assistir a série novamente, depois de 16 anos da transmissão do primeiro episódio. Afinal, são 153 episódios que duram, em média, 44 minutos. Prefiro nem fazer as contas de quanto tempo da minha vida tenho dedicado a rever as cenas que tanto fizeram parte da minha adolescência.
Quando comecei a acompanhar a vida de Lorelai e Rory Gilmore, em 2001, eu tinha 14 anos. Religiosamente, todas as quintas-feiras, parava tudo o que tinha que fazer e ligava no Warner Channel — ainda não havido sido apresentada ao Kazaa, Limewire e eMule. Uma década e meia depois, quando dei play no meu Apple TV, me dei conta de que, hoje, tenho quase a mesma idade de Lorelai na primeira temporada. Eu estou com 29. Ela tinha 32.
(Pausa para respirar profundamente)
Na primeira vez em que assisti os episódios, queria um Jess na minha vida, sofri com a pressão de passar em uma boa universidade, a ansiedade de entrar no mercado de trabalho e a insegurança de iniciar a vida sexual. Nessa segunda vez, a vida da Lorelai me parece muito mais interessante do que os dramas adolescentes de Rory.
O seriado deu uma nova cor à vida das meninas Gilmore para mim. O grande ponto de mudança, com certeza, foi a quarta temporada. Sempre odiei os primeiros episódios de Rory estudando em Yale. A personagem se transforma em uma menina mimada, tem os mesmos dramas de adolescente e retoma os romances já terminados do ensino médio. Nenhuma novidade de roteiro, apesar de uma vida totalmente nova. A vontade é apertar o “fast foward” e passar para frente.
Lorelai, entretanto, pela primeira vez, tem uma rotina de adulto ~normal~ para a idade dela. Arruma um namorado perspicaz e companheiro, começa a construir um novo negócio, tem problemas em pagar as contas, aprende a viver uma vida sozinha. A maternidade não mais a define. Ela aceita até conviver em harmonia com os pais.
Na temporada seguinte, no episódio em que ela termina o relacionamento com Luke, chorei copiosamente e senti a dor dela em terminar uma relação feliz, saudável e maduro com o cara que provavelmente não era o que ela tinha imaginado para ficar o resto da vida, mas era perfeito mesmo assim. Não era o bad boy adolescente, aquele que tinha o mesmo gosto musical, mas sim alguém com quem ela pudesse contar e ser feliz.
É quase um milagre as diferentes cores, tons e nuances de Gilmore Girls sobreviverem a uma década e meia. Só um bom roteiro pode transformar a série em algo atemporal. Ver todos os episódios de novo só me deu mais ansiedade para conferir os próximos quatro (inéditos) que vão ser liberados até o fim de 2016. Eu já sei que a fórmula ainda funciona na era pós-Obama/Kardashian. Só resta saber se a química ainda acerta.