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O comportamento “Brasil-colônia” de alguns que recebem comida por app

O entregador de aplicativo deve subir para levar a refeição ou não?

Rodrigo França - Cineasta, ator, diretor teatral, dramaturgo, escritor, roteirista e artista plástico

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
entregadores de app fazem manifestação e paralisação das atividades em goiânia, goiás
1 de 1 entregadores de app fazem manifestação e paralisação das atividades em goiânia, goiás - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Nas praças de alimentação, pós-refeição, o que custa você levar a sua bandeja para o lugar de descarte? Na gringa, o brasileiro médio leva. E acha bonito, civilizado. Aqui não.

Um dia eu estava hospedado em um hotel cinco estrelas em São Paulo. Quando cheguei de madrugada de um evento, passando pelo corredor do andar em que estava instalado, vi diversas bandejas no chão, com pratos cobertos com cloche. Possivelmente esperando que algum profissional recolha no dia seguinte. No chão! Possivelmente os hóspedes não podiam conviver com o cheiro da comida nas louças que eles mesmos haviam usado.

Sabe aquele pensamento replicado: “Eu sujo, porque gera serviço para o gari”?

O comportamento colonial brasileiro, enraizado na época da escravização e da exploração desmedida, deixou marcas profundas na nossa sociedade até os dias atuais. A herança desse período cruel e desumano perpetua um tipo de mentalidade que valoriza a servidão e a submissão de uns em relação aos outros.

A busca por ser servido e por ter privilégios baseados em raça, classe social ou poder econômico apenas reforça as estruturas de desigualdade presentes em nossa cultura. Essa mentalidade colonizada impede o desenvolvimento de relações mais igualitárias e respeitosas entre as pessoas, perpetuando um ciclo de opressão e injustiça.

É fundamental que reconheçamos e questionemos esses padrões de comportamento que replicam nosso passado colonial. Devemos lutar por uma sociedade em que o respeito mútuo e a igualdade de oportunidades sejam valores fundamentais. Somente assim poderemos romper com essa lógica perversa e construir um futuro mais digno e humano para todos.

Então, a tia do café tem nome. Você decorou os nomes dos seus chefes, porque julgou importante. Chamar a babá do seu filho de “Bá” é como se fazia no século 17. O nome humaniza as pessoas.

Agora, coloque seu chinelo e desça para pegar a sua refeição. Porque é o mínimo. Você pagou para a comida chegar a você, em um determinado ponto de entrega. Daqui a pouco, você vai desejar que ela seja dada na sua boca. Não se esqueça de ser cortês com o trabalhador.

Como escreveu o poeta Marcelino Freire: “Ninguém aqui é escravo de ninguém!”

Rodrigo França é escritor, filósofo e diretor de cinema e teatro

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