Neymar conduziu sua saída do Barcelona como se fosse seu pai
As ações de Neymar demonstraram preocupação nula com o tema. Aquele que poderia ser um ídolo eterno tornou-se persona non grata em Barcelona
Gian Oddi
atualizado
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Acabou a novela, ainda que faltem detalhes da transação. Neymar pediu, oficialmente, para deixar o Barcelona.
Primeiro, o óbvio: Neymar faz o que bem entender da sua vida e de suas escolhas profissionais. Joga onde bem quiser, ao lado de quem bem entender, recebendo a fortuna que se dispuserem a lhe pagar por seu futebol fora de série.Seu caso, contudo, é um episódio emblemático dos desejos de uma classe, de um momento, de um esporte.
Deixando de lado sua nova remuneração astronômica (não que ganhasse mal em Barcelona), é interessante analisar a escolha do craque brasileiro pelo aspecto que, nos dias de hoje, parece determinante para guiar as decisões dos maiores nomes do futebol: a individualidade, as conquistas próprias acima das coletivas, a maldita bola de ouro da Fifa.
Nove entre 10 argumentações favoráveis à troca de clube de Neymar citam, literalmente ou quase, termos como “sair da sombra de Messi”, “virar o protagonista” ou, claro, “ser finalmente o melhor do mundo”. Diversas apurações, inclusive a do jornalista Marcelo Bechler, o primeiro a anunciar sua ida ao PSG, colocam tais motivos como importantes na decisão do brasileiro.
Deixemos de lado a discussão sobre a subjetividade e as injustiças do tal prêmio da Fifa, até porque tratar especificamente da honraria em que se vota nos mais famosos não é a intenção aqui.
Você poderá argumentar, com razão, que olhar para o próprio umbigo em detrimento de um senso coletivo é da natureza humana. Sem dúvida, e o mundo corporativo, ao qual muito se recorre para traçar paralelos com o futebol, está aí para comprovar. Quantos são, nas grandes empresas, os que ignoram ou menosprezam os objetivos comuns, metas como finalizar um projeto de sucesso (eventualmente concebido por terceiros), para colher o máximo de louros individuais?
No mundo corporativo, não há dúvida, as coisas funcionam quase sempre assim.
Mas o futebol é diferente, ou pelo menos teria motivos para ser.
*Gian Oddi é jornalista esportivo e comentarista dos canais ESPN