Neutralidade de Rollemberg torna sua reeleição ainda mais difícil
Em 2014, o governador não se preocupou em “unir Brasília” e apoiou Aécio Neves
Hélio Doyle
atualizado
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O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciou nesta quarta-feira (10/10) a mais difícil decisão que teve de tomar nesta campanha: apoiar a candidatura de Fernando Haddad, do PT, ou ficar neutro diante da disputa pela presidência da República. Optou pela solução mais cômoda, mas que, sem nada lhe acrescentar, pode lhe custar uma boa parcela dos votos de eleitores que consideram Jair Bolsonaro (PSL), entre muitas outras coisas, uma ameaça à democracia, aos direitos humanos, à tolerância e ao respeito às diferenças.
O PSB, partido de Rollemberg, decidiu apoiar Haddad, mas, por pressão dos dirigentes paulistas, liberou os diretórios de São Paulo e do Distrito Federal, que têm candidatos ao governo, para se manterem neutros. Os representantes de Sergipe e do Amapá, onde o PSB também disputa o segundo turno, pediram para não serem incluídos na exceção. Rollemberg nada disse na reunião.
A situação do governador era mesmo difícil. Bolsonaro teve 58,37% dos votos dos eleitores brasilienses, contra 11,87% de Haddad. O adversário de Rollemberg, Ibaneis Rocha (MDB), tem sinalizado apoio a Bolsonaro, e uma das primeiras adesões que recebeu foi do candidato derrotado Rogério Rosso (PSD), que pelo jeito quer assumir a liderança da extrema-direita religiosa no Distrito Federal.
A situação em Brasília é, certamente, diferente da enfrentada pelos candidatos do PSB em Sergipe e no Amapá. Em Sergipe, Valadares Filho enfrenta no segundo turno o candidato do PSD, Belivaldo, coligado com o PT, que tem a candidata a vice na chapa. Mas lá Haddad teve 50,09% dos votos, contra 27,21% de Bolsonaro. No Amapá, Bolsonaro teve 40,7% contra 32,77% de Haddad, e o candidato do PSB, João Capiberibe, está coligado com o PT.
Rollemberg divulgou nota tentando justificar sua posição em cima do muro: “Nós não vamos nos engajar em nenhuma campanha presidencial. O nosso grande objetivo é unir Brasília, respeitando a vontade dos eleitores”.
Só que em 2014, também candidato, Rollemberg não vacilou em manifestar apoio a Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT). A diferença é que Aécio tinha sido o mais votado no Distrito Federal, com 36,1% dos votos, com Marina em segundo lugar com 35,8% e Dilma com 23%. Diante de uma situação mais fácil para ele, naquela ocasião o hoje governador não se preocupou em “unir Brasília, respeitando a vontade dos eleitores”. Como se sabe, Dilma venceu no segundo turno.
Oportunismo e incoerência
Rollemberg foi oportunista em 2014 e está sendo agora, pois sua história política e posições sempre foram opostas às teses de Bolsonaro, contra quem não se declara agora por temor de perder eleitores. Em sua gestão, o governador tentou combinar ações progressistas com o apoio político que buscava em partidos e parlamentares conservadores e à direita e ligados a igrejas evangélicas – que se beneficiaram do governo durante mais de três anos e o abandonaram quando se aproximou a disputa eleitoral.
A decisão de se manter neutro, além de incoerente politicamente, até porque seu partido está com Haddad, não vai acrescentar eleitores de Bolsonaro a Rollemberg e vai reduzir substancialmente o apoio que ele poderia receber de eleitores contrários a Ibaneis e ao candidato do PSL, especialmente os que se situam à esquerda. Ibaneis, na verdade, também estará sendo oportunista se apoiar Bolsonaro, pois seus discursos como dirigente da OAB não combinam com as teses do capitão, mas como sua base eleitoral hoje está quase toda à direita, a neutralidade pode lhe ser negativa.
Os defensores da neutralidade de Rollemberg dirão que apoiar Haddad seria decretar desde já a derrota, tendo em vista o tamanho do eleitorado de Bolsonaro e a forte rejeição ao PT em Brasília. Talvez fosse mesmo, por critérios aritméticos, mas a reeleição do governador, que já estava distante, agora ficou mais difícil ainda, por paradoxal que isso possa parecer.
Ou Rollemberg derruba Ibaneis com uma denúncia extremamente grave e inquestionavelmente comprovada, ou o candidato do MDB – agora ainda mais mal acompanhado do que no primeiro turno – comete um erro tão comprometedor que ele mesmo se autodestrói. Fora isso, a derrota de Rollemberg está consumada.