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Neste Outubro Rosa, eu venci o câncer de mama

Mais do que uma campanha de prevenção, o mês de outubro será para sempre uma marca da minha vitória

Autor Priscilla Borges

atualizado

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Há cinco anos, eu começava, no mês de outubro, meu último ciclo do tratamento contra o câncer de mama. A hormonioterapia, avisaram os médicos, provocaria menopausa precoce (reversível em mulheres mais jovens) e teria um potencial quase infinito de reações adversas.

Preferi não conhecer por nome cada uma das possíveis intercorrências, todas meticulosamente descritas na bula do remédio que me acompanharia por tanto tempo. O tal do tamoxifeno tem histórias terríveis e meu instinto otimista me protegeu da antecipação de qualquer sofrimento.

A estratégia deu certo. Convivi com poucos efeitos colaterais: a menopausa prevista, o fígado mais gorduroso. Nenhuma sequela grave ou assustadora.

Adiar os planos da maternidade talvez tenha sido a consequência mais incômoda desta fase. Naquele outubro de 2011, o fim do tratamento parecia muito distante. Mas o tempo tem uma força implacável. No meu caso, cinco anos “voaram” com a velocidade de um tornado.

Nesta segunda-feira (17/10), tomei meu último comprimido de tamoxifeno. Tirei até foto da cartela vazia. Inconscientemente, acho que não me conformo ainda com a falta de ritos para o fim de um período tão marcante. Quando conversei com meu oncologista pela última vez, há 15 dias, ele me disse que o encerramento da minha relação com a hormonioterapia seria assim mesmo, melancólico, sem pompa, sem exame, sem um encontro com ele para ouvir: “Sim, você está curada. Acabou. Vai viver sem se preocupar.”

Arquivo Pessoal
Durante o tratamento

Essa despedida aconteceu longe de casa. Meu marido, super companheiro de vida, e meu filho, fonte de força e amor, não estavam ao meu lado para testemunhar o momento. Ou me ajudar a criar um ritual de passagem. Os parabéns chegaram via WhatsApp – viva a modernidade! – e me fizeram derramar algumas lágrimas. Uma ordem expressa me arrancou sorrisos: “Sem mais surpresas, ok?”

Adoraria prometer que serei saudável o resto da vida. Que nunca mais assustarei minha família e meus amigos com qualquer diagnóstico cruel. Mas uma das coisas que o câncer me ensinou foi a imprevisibilidade de tudo

Essa certeza, de forma racional, torna a necessidade do adeus ao fim desse ciclo uma bobagem. Ninguém pode me dar garantias de que não haverá mais doença nem tratamento.

Cumpri todos os protocolos que podia para fazer do câncer apenas mais um capítulo da minha história. Uma fase que se transformou em oportunidade de repensar valores, reconhecer as coisas mais preciosas da vida e receber muito amor.

Fiz cirurgias, quimioterapia, mastectomia preventiva, hormonioterapia. Procurei todas as alternativas que pudessem me dar, pelo menos, esperanças e chances estatísticas de ganhar mais um tempinho nesse mundo. Vivi intensamente todos os desafios, as emoções, as alegrias e as vitórias desses últimos cinco anos. Celebrei a vida e chorei as perdas inevitáveis dessa jornada. E me esforcei para não perder a doçura nas dificuldades.

Há cinco anos, constatei o tamanho dos meus privilégios. A minha doença não foi um bicho-papão. Ela mudou meus cabelos, tirou de mim as sobrancelhas, os cílios e os seios. Mas não foi capaz de destruir minha energia, minha vontade de viver, meu bom humor e meu otimismo. O amor e o carinho que recebi das pessoas maravilhosas que me cercam e torceram comigo por dias melhores são regalias.

Há cinco anos, compreendi que o “Outubro Rosa” nunca mais será apenas uma campanha para mim. Tornou-se uma marca de vida. O meu alerta pessoal sobre o câncer de mama, neste período, se materializa na minha varanda iluminada de rosa. É o meu sinal para que as mulheres se conscientizem de que não há remédio melhor contra essa doença ainda tão estigmatizada e assustadora do que a prevenção.

Reprodução do Instagram

Há cinco anos, eu escolhi ser feliz apesar de todos os percalços. É preciso um pouquinho de coragem para admitir que nossa felicidade só depende de nós, em qualquer circunstância. Eu devo essa clareza ao câncer, que me transformou e, acreditem, não foi para pior.

O meu final feliz, além de tons de rosa, está repleto de gratidão por tudo o que vivi. Os meus “outubros”, de hoje em diante, continuarão sendo símbolos de luta, mas, principalmente, de vitória. Com a certeza de que o amor vence tudo.

Eu venci. Fim do capítulo. Walk on.

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Os mimos da minha família, como esse presente da tia Luzia, ajudaram a enfrentar tudo com mais fé
Com meu filho, Vinicius, e meu marido, Cássio, no show do U2, já depois do diagnóstico
Com meu filho, Vinicius, em viagem durante o tratamento
Em viagem com meu marido, Cássio, após saber da doença
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Perdi os cabelos, mas não a alegria de viver

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Os mimos da minha família, como esse presente da tia Luzia, ajudaram a enfrentar tudo com mais fé

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Com meu filho, Vinicius, e meu marido, Cássio, no show do U2, já depois do diagnóstico

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Com meu filho, Vinicius, em viagem durante o tratamento

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Em viagem com meu marido, Cássio, após saber da doença

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