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Não gosta do Honestino Guimarães? Ok. Mas não homenageie um ditador

Você pode ser coxinha. Ou petralha. Os dois lados (de uma parecidíssima moeda) têm vantagens e desvantagens. Mas um terceiro grupo aparece com ofensas e pontapés. São aqueles que ignoram a democracia e a tratam como um bem menor. Que defendem ditadores e torturadores. Essa turma diariamente grita bem alto na minha cara, enquanto dirijo […]

Autor Luiz Prisco

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
Ponte Honestino Guimarães no Lago Sul – Brasília(DF), 17/06/2016
1 de 1 Ponte Honestino Guimarães no Lago Sul – Brasília(DF), 17/06/2016 - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Você pode ser coxinha. Ou petralha. Os dois lados (de uma parecidíssima moeda) têm vantagens e desvantagens. Mas um terceiro grupo aparece com ofensas e pontapés. São aqueles que ignoram a democracia e a tratam como um bem menor. Que defendem ditadores e torturadores. Essa turma diariamente grita bem alto na minha cara, enquanto dirijo a caminho do trabalho.

Todos os dias, passo pela Ponte Honestino Guimarães. Porém, a placa que indica o monumento foi pichada pela quarta vez. Revoltada, aquela turma que citei acima quer a volta dos tempos sombrios da ditadura. E insiste para que a obra arquitetônica volte a ser batizada como Costa e Silva.

O general Costa e Silva foi o segundo “presidente” da ditadura militar. Governou de 1967 a 1969. Pouco tempo, mas suficiente para institucionalizar o período de repressão. Foi durante a gestão dele que o Congresso Nacional foi fechado e surgiu o Ato Institucional nº 5 — responsável por suspender todas as liberdades democráticas e os direitos constitucionais.

É esse senhor que queremos homenagear? Eu não. Muitos dos opositores questionam a escolha de Honestino Guimarães. Então, vamos lá.

Honestino nasceu em 1947, na pequena Itabiraí (GO). Veio para Brasília em 1960. Cinco anos depois, foi aprovado em primeiro lugar no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) e passou a atuar na política estudantil. Em 1971, tornou-se presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e entrou para a clandestinidade após integrar a Ação Popular Marxista-Leninista. Desapareceu em outubro de 1973, aos 26 anos. Nunca foi encontrado. O Brasil o declarou morto. Mais uma vítima do regime repressor.

Temos um ditador que legitimou as práticas antidemocráticas e a tortura e um estudante morto pelo Estado — que deveria proteger seus cidadãos. Mesmo assim, há quem prefira homenagear o primeiro e pichar o nome do segundo.

“Ah, mas o Honestino queria impor uma ditadura comunista”, dizem os detratores. Pode ser. A experiência do comunismo realmente não trouxe o bem-estar social imaginado por Marx. Mas isso não tornava Honestino um assassino — não há registros de que tenha participado de grupos armados.

Se não for Honestino, que a ponte passe a se chamar Oscar Niemeyer, Renato Russo, Cerrado ou Hamilton de Holanda. Afinal, ditadores só devem ser lembrados nos livros de história, para que não voltem nunca mais.

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