Muitos candidatos ao GDF e poucas ideias e propostas
Os 11 que disputam o governo local precisam agora dizer o que vão fazer por Brasília
Hélio Doyle
atualizado
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A dois dias do prazo para registrar as candidaturas, é improvável que ainda haja mudanças substanciais nas chapas já anunciadas para as eleições de outubro em Brasília. Espera-se, no máximo, que possa haver o deslocamento do PP, da coligação de Ibaneis Rocha (MDB) para a de Eliana Pedrosa (Pros); e do PR, da chapa liderada por Alberto Fraga (DEM) para a de Ibaneis ou de Eliana. O motivo seria colocar Celina Leão (PP) e Flávia Arruda (PR) em alianças mais vantajosas para se elegerem deputadas federais.
Tudo indica que serão mesmo 11 candidatos a governador e cerca de 20 para o Senado, estes disputando duas cadeiras. As tentativas de unir chapas com candidatos e partidos tradicionalmente ligados ao bloco rorizista fracassaram, a não ser que haja uma reviravolta nas próximas 48 horas. O fracasso não se deve a intransponíveis diferenças políticas e ideológicas entre eles ou a divergências em torno de um programa para Brasília, mas porque cada um dos candidatos se considera o melhor e mais preparado para governar o Distrito Federal e não abre mão de encabeçar a chapa.
Até agora, na verdade, ninguém sabe o que cada um dos 11 candidatos propõe para a cidade. Há apenas algumas ideias esparsas, não conectadas a uma plataforma de governo. A formação de alianças para a disputa não se deu em torno de programas, metas e ações, mas de personalidades políticas que se colocaram como candidatos, das possibilidades de eleição de deputados federais e do tempo na televisão que seria agregado.
Não houve discussão séria de conteúdo nem por parte dos que se coligaram com Rodrigo Rollemberg (PSB) nem dos que formaram as alianças de oposição à direita – Eliana, Fraga, Ibaneis e Rogério Rosso (PSD). O que realmente caracteriza essa eleição é um governador que tenta a reeleição em uma aliança com partidos que o criticavam veementemente há menos de um mês (Rede, PCdoB, PDT) e 10 candidatos contra ele, à esquerda, ao centro e à direita. De um lado está a tentativa de manter o poder. De outro, a conquista – para alguns, a reconquista – do poder.
Mais dúvidas do que certezas
Não se sabe, ainda, como o governador Rodrigo Rollemberg pretende que seja seu possível segundo mandato e o que mudará, nem o que seus adversários farão realmente para superar os erros e deficiências da atual gestão. Pois, para os eleitores, não basta dizer que “eu sou o melhor” e daqui para a frente tudo vai ser diferente, é preciso dizer o que vai ser diferente e o que será feito para melhorar. E como, principalmente, vai ser possível fazer a diferença na conjuntura de crise em que vivemos.
A divisão extremamente desigual do tempo de propaganda gratuita e a ausência de alguns candidatos nos debates promovidos pelas emissoras de televisão dificultarão ainda mais a compreensão, pelos eleitores, do que os postulantes ao governo propõem. Some-se a isso o período reduzido de campanha eleitoral e dos programas e inserções na TV e um sistema eleitoral em que os candidatos a deputado e senador não vinculam suas propostas a partidos e candidatos majoritários. Alguns, pelo contrário, escondem seus partidos e negam os cabeças de chapa.
Se houvesse mais clareza e identidade ideológica e política entre eles e menos partidos no Brasil, nove dos 11 candidatos a governador de Brasília caberiam em seis das sete legendas (sendo uma, CSU, apenas regional) que, superando a cláusula de barreira, têm representação no parlamento da Alemanha. Não é fácil definir o lugar exato de cada um, tendo em vista algumas contradições em seus próprios ideários e práticas, mas em linhas gerais os 11 poderiam ser assim agrupados:
- Extrema-direita (AfD): Alberto Fraga (DEM) e Paulo Chagas (PRP).
- Democratas-cristãos (CDU-CSU): Eliana Pedrosa (Pros) e Rogério Rosso (PSD).
- Liberais democratas (FDP): Alexandre Guerra (Novo).
- Socialdemocratas (SPD): Rodrigo Rollemberg (PSB) e Ibaneis Rocha (MDB).
- Esquerda (DL): Júlio Miragaya (PT) e Fátima Sousa (PSol).
Os dois outros candidatos, Antônio Guillen (PSTU) e Renan Arruda (PCO), situam-se à esquerda do partido Die Linke (A Esquerda) da Alemanha e provavelmente estariam em agremiações que não conseguiram superar a cláusula de barreira de 5% vigente naquele país. Os partidos mais parecidos com outra legenda que tem representação no parlamento alemão, Os Verdes, são a Rede e o PV, que não têm candidato a governador em Brasília e apoiam Rollemberg.
Com cinco candidatos que apresentassem programas de governo claros e sintonizados com suas posições político-ideológicas, ficaria mais fácil para os eleitores decidir em quem votar. Mas, no Brasil, ainda estamos muito longe disso.