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Macron: uma nova aposta para evitar o pior na França

Franceses foram às urnas sem muita convicção no candidato, determinados a barrar a extrema-direita

Autor Marc  Arnoldi

atualizado

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ERIC FEFERBERG/POOL/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Emmanuel Macron, presidente da França -- Metrópoles
1 de 1 Emmanuel Macron, presidente da França -- Metrópoles - Foto: ERIC FEFERBERG/POOL/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Mais de 200 anos após 1789, a França revoluciona de novo ao eleger como presidente da República um novato de 39 anos, nunca testado nas urnas, desconhecido do grande público antes de sua chegada ao Ministério das Finanças em 2014.

Emmanuel Macron se apresenta como o candidato de “nem”: nem direita, nem esquerda, nem socialista, nem liberal, nem federalista europeu, nem nacionalista. Sua campanha de primeiro turno ficou marcada por um cacoete verbal, adorava usar “ao mesmo tempo”. Quando era indagado a tomar posição sobre um assunto, apresentava argumentos a favor e ao mesmo tempo contra.

Se foi estratégia de marketing ou reflexo de seu pragmatismo, não sei. Mas funcionou. Desbancou as agremiações e bandeiras tradicionais vencendo o primeiro turno com 24% dos votos válidos. Deixou de fora do segundo, os representantes do Partido Socialista e dos Republicanos, que se alternam ao poder desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

A outra opção para os franceses neste domingo (7/5) era Marine Le Pen. A presença da líder da extrema-direita no segundo turno não causou surpresa, como a de seu pai em 2002. Há pelo menos três anos, as pesquisas e as eleições parlamentares confirmavam a subida do nacionalismo na opinião pública.

A crise do fim dos anos 2000 agravou um problema que, há trinta anos, parece se tornar uma característica da França: o desemprego. O atual Presidente François Hollande desistiu de sua candidatura à reeleição por não inverter essa realidade, sua principal promessa de 2012.

Marine Le Pen e o partido nacionalista culparam a União Europeia, seus burocratas, suas políticas de austeridade, sua dominação do setor financeiro representada pelos alemães e, em particular, os estrangeiros. Esse discurso sempre seduziu os nostálgicos dos “tempos áureos”, os xenófobos de várias tribos e os adeptos da moral e dos bons costumes.

FRANCOIS MORI/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
A candidata de extrema-direita votou no 2° turno da eleição presidencial na França

A investida contra a União Europeia ampliou o público para as classes operárias e agrícolas, que assistem à desindustrialização da França para os países europeus onde se pagam salários menores, como Polônia e Romênia, e à supressão de serviços públicos rurais em nome da diminuição do déficit fiscal.

Aos poucos, Le Pen, atrás da qual os adversários sempre pintam o fascismo e o nazismo, apareceu não tão assustadora e até mesmo simpática com sua ideia de sair da União Europeia e do euro, e voltar ao bom e velho franco.

Mas o debate de segundo turno, na última quinta-feira (4/5), fez cair a máscara da líder da Frente Nacional. Atacou seu adversário, não o deixou falar, fez insinuações, se perdeu em suas pastas, errou nomes. Uma trapalhada que ofuscou até mesmo a sua “melhor” frase de efeito: “O próximo presidente francês será uma mulher: eu ou Angela Merkel”. As pesquisas pós-debate confirmaram que Macron venceu e afastou o pequeno risco de ver a extrema-direita chegar ao Palácio do Eliseu.

A eleição de Macron não deve modificar as relações Brasil/França. Que são intensas. O país está no Top 5 das relações comerciais com o Brasil, em importações, exportações ou investimentos. A presença vai continuar a ser definida pela saúde do mercado brasileiro, como está sendo o caso da Fnac em busca de parceiro local para manter suas operações aqui.

O brasiliense continuará pilotando seu Renault, Citroën ou Peugeot, passar na Leroy Merlin ou no Carrefour, ou mesmo comprar produtos Casino no Extra, viajar de Airbus, dormir no Grand Mercure, acessar a internet banda larga graças ao satélite brasileiro SGDC lançado há dois dias pelo foguete Ariane 5, sem falar de degustar os petits-gâteaux de Daniel Briand e os pães de La Boulangerie. Ou dos outros estabelecimentos franceses já integrados à paisagem do cerrado. Só um alerta: pão francês… é brasileiro!

* Jornalista francês atualmente morando em Brasília. Atuou em rádios francesas locais e na Rádio France e Radio France Internacional entre 85 e 95. Cobriu a Guerra do Golfo e da Bósnia. Foi comentarista esportivo, tendo trabalhado como locutor oficial no automobilismo (24 Horas de Le Mans, Fórmula Indy e WEC no Brasil). Atualmente, é comentarista no programa Cabeças da Notícia da OK FM 104.1.

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