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Joesley Safadão, não aceitamos suas desculpas. Nossa parte, a gente quer em dinheiro

Será que em nome de um país menos corrupto terá valido a pena engolir esse sapo enquanto a família Batista se farta nos restaurantes de NY?

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1 de 1 joesleypouco-fundo - Foto: Kacio Pacheco/Metrópoles

Vivemos uma confusão mental coletiva difícil de administrar desde a última quinta (18/5), quando vieram a público as primeiras matérias de O Globo sobre as confissões de corrupção que recairiam, saberíamos poucas horas depois, sobre 1.829 políticos, entre presidente, ex-presidentes e presidenciáveis. Revelações de impacto nunca antes alcançado, nem se somadas todas as fases da Lava Jato.

Ouvir o presidente da República bichanar “ótimo”, “ótimo” depois de seu interlocutor Joesley, o dono da JBS, contar-lhe estratégia para segurar investigações foi de revirar o estômago.

Ter acesso a fotos, áudio e vídeo do caminho do dinheiro (escola Watergate) que ligam o batom à cueca de Aécio Neves, parece de um valor inestimável. Todos desconfiavam de sua vida ostentação mantida com salário de político.

E o que dizer de um advogado (Willer Tomaz) pilhado negociando propina para pagar mesada a um procurador (Ângelo Goulart) infiltrado na Lava Jato (Operação Greenfield)? Ou do pixuleco de R$ 600 milhões pago a políticos de 28 partidos? Tudo documentado em planilhas e minudentemente descrito num enredo de arrepiar a espinha de experimentados investigadores. Um bote rápido, que durou 88 dias desde a ocasião em que um advogado de Joesley entrou em contato com o Ministério Público Federal (MPF), até o dia da Operação Patmos.

A conta é nossa
A criação de condições para que se reunisse esse volume de indícios – muitos vão evoluir para provas inequívocas de corrupção – tem um preço. A conta é da sociedade. Mas quem negociou valores, prazos e condições foram os integrantes do MPF. Eles trocaram a chance de capturar mais dois milhares de políticos sujos pela total isenção dos delatores, sete integrantes do grupo J&F, que controla a JBS dos irmãos Batista.

Ainda assim, cinco dias depois do armageddon à brasileira, a população está confusa e dividida. Com tudo o de gravíssimo que se mostrou até agora, há um esquisito sentimento de injustiça pairando sobre a estratégia usada para construir a ratoeira com capacidade de deter uma grandessíssima quantidade de roedores do dinheiro público. A mesma compreensão que o brasileiro médio tem para achar um absurdo todas as barbaridades recentemente coletadas a respeito dos métodos da classe política de se eleger e, claro, enriquecer, também tem para se indignar com os termos do acordo celebrado entre os procuradores da República e os executivos da JBS.

Golpe no cidadão
Assistir aos donos da Friboi deixarem o país legitimamente autorizados e protegidos pelas autoridades policiais é um golpe duro para o cidadão. O vídeo derradeiro da família em solo brasileiro mostra um Joesley sereno, uma mulher de Joesley animada (viram ela dando uma corridinha e partindo para o abraço, num movimento corporal de alegria, conforto e alívio?).

Foram embora de jato executivo, sem bagagem, prontos para desembarcar em uma vida de luxo nos Estados Unidos. Somente um dos apartamentos que eles têm na Quinta Avenida (NY) custa mais (38 milhões de dólares) do que a multa que cada um dos irmãos vai ter de pagar (R$ 110 milhões) ao MPF.

Troco de padaria
Multa, portanto, equivalente ao troco da padaria para os padrões de riqueza dos irmãos Batista, que construíram uma fortuna alicerçada sobre o privilégio de financiamentos camaradas junto ao BNDES. O banco é público, mas especialmente durante os anos do governo petista, se prestou a servir aos interesses do grupo JBS, na ordem de aviltantes R$ 8 bilhões.

Os executivos da empresa confessaram: a boa vontade que moveu a montanha de dinheiro em direção aos donos da Friboi foi comprada. Golpe que permitiu ao conglomerado saltar de um faturamento de R$ 4,3 bilhões, em 2006, para incríveis R$ 170 bilhões, no ano passado.

Sapo x churrasco
Será que em nome de um país menos corrupto, agora com as vísceras de seus representantes expostas, terá valido a pena engolir esse sapo enquanto a família Batista se farta de churrasco na Fogo de Chão da Quinta Avenida? Eles são habitués desse e de outros requintados endereços de Manhattan.

Talvez tenha sido vantajoso, sim. Se agirmos como seres racionais, vamos fazer as contas e perceber que há uma matemática favorável ao país. A delação dos irmãos Batista pode levar à cadeia mais de mil políticos e interromper um ciclo de corrupção que perdurava há décadas. Isso ainda vai depender de um longo processo nos tribunais brasileiros.

Mas a despeito de que devemos pensar friamente sobre o caso, somos seres emocionais. E saber que, enquanto a família Friboi desfruta de liberdade nababesca nos Estados Unidos, nós padeceremos no Brasil com mais uma rodada de crise política capaz de nos jogar no fosso de uma recessão outra vez, é como voltar no tempo para assistir ao último capítulo da novela Vale Tudo. No episódio, um clássico da cultura pop dos anos 80, o vilão Marco Aurélio, interpretado por Reginaldo Faria, foge do Brasil deixando para os compatriotas uma banana.

Esperança na leniência
Mas esse não deve ser o desfecho de nossa trama da vida real. E uma boa reviravolta pode se dar em torno do acordo de leniência que o MPF negocia com a J&F. Os procuradores pediram R$ 11 bilhões do conglomerado. Até agora, a empresa aceita pagar R$ 1,4 bilhão, menos de 1% de seu faturamento. Risível.

Não ceder nesse ponto será fundamental para que os brasileiros passem da dúvida à convicção sobre os métodos adotados pelo Ministério Público Federal com o objetivo de negociar a delação do fim do mundo. Do contrário, teremos de admitir que Joesley não é apenas o maior empresário do Brasil, é também o mais forjado, corrupto, esperto e protegido. Esperamos que, no fim das contas, todos os envolvidos paguem sua parte.

Desculpas não aceitas
Com toda sua disposição em entregar milhares de políticos corruptos, Joesley Batista não vira santo nem passa a limpo sua história. Vai ficar pra sempre em nosso imaginário como o Joesley Safadão, aquele que revelou quão firmes podem ser as mãos de alface do presidente Michel Temer diante do dinheiro sujo da JBS; quão generosos foram os ex-presidentes Lula e Dilma em troca da bolada que elegeu milhares de petistas financiados pela propina da Friboi e quão gulosa mostrou-se a turma de Aécio, que vendeu a chance de liderar o país pelo exercício da corrupção.

E, não, nós não aceitamos o pedido de desculpas que Joesley e seu grupo escreveram em carta antes de zarparem para Nova York. A nossa parte, a gente quer em dinheiro que foi sistematicamente roubado dos cofres públicos na última década.

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