Incitar, atacar, repetir: a violência premeditada em Jerusalém
A incitação do Hamas e de outras fontes palestinas pode ter consequências muito além da trágica perda de vidas inocentes
Daniel Zohar Zonshine
atualizado
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As teorias da conspiração funcionam. Não apenas como caça-cliques, mas como instrumentos políticos. E quando as mentiras colhem recompensas para seus propagadores, fanáticos como a organização terrorista Hamas lançam mão delas repetidamente.
Em 7 de abril, duas jovens israelenses nascidas em Londres, Rina, de 15 anos, e sua irmã Maia, de 20, foram assassinadas quando terroristas palestinos atiraram no carro onde elas estavam com sua mãe, Lucy, que faleceu alguns dias depois por conta dos ferimentos. Na mesma noite, um ataque violento no calçadão da praia de Tel Aviv matou o turista italiano Alessandro Parini, 35, e feriu sete turistas da Itália e do Reino Unido.
A incitação do Hamas e de outras fontes palestinas pode ter consequências muito além da trágica perda dessas vidas inocentes. Em nenhum lugar o fenômeno é mais aparente do que em Jerusalém, especificamente no Monte do Templo. Este local sagrado, sobre o qual os antigos Primeiro e Segundo Templos judaicos foram erguidos e onde a Cúpula da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa foram posteriormente construídas, tem uma longa história como ponto de confrontos que podem se transformar em conflitos mais amplos.
Por mais de um século, alegações infundadas sobre o Monte do Templo foram usadas como pretexto para desencadear a violência antijudaica, começando com o Mufti de Jerusalém. Na década de 1920, uma mentira espalhada por Haj Amin al-Husseini — de que a Mesquita de al-Aqsa estava em perigo — desencadeou uma série de distúrbios árabes que levaram a centenas de mortes e, perversamente, a limitações impostas à imigração judaica pelas autoridades britânicas em uma tentativa de apaziguamento.
Esse terrível padrão de comportamento se repetiu. Em 4 de abril, a noite anterior ao início do festival judaico de Pessach, ativistas e simpatizantes do Hamas se barricaram dentro da Mesquita de al-Aqsa. Armados com fogos de artifício e armas brancas, como instrumentos cortantes e pedras pesadas, eles forçaram a polícia a reagir para impedir ataques a fiéis judeus no Muro das Lamentações — que fica adjacente — e permitir que fiéis muçulmanos pacíficos orassem na mesquita.
Usando a desculpa de que al-Aqsa estaria “em perigo” — quando, na verdade o único perigo é o criado por radicais islâmicos —, o Hamas então expandiu sua ofensiva para frentes adicionais. Trinta e quatro morteiros foram lançados do Líbano, com o consentimento do Hezbollah (apoiado pelo Irã), contra comunidades israelenses na Galileia Ocidental.
Após o contra-ataque de Israel às instalações paramilitares do Hamas, mais morteiros foram disparados de Gaza contra civis israelenses que moram perto da fronteira Sul do país. Além disso, o número de ataques e alertas para atentados terroristas fatais aumentou.
As invocações de uma ameaça fictícia dos judeus contra a Mesquita de al-Aqsa são um componente muito poderoso na campanha travada contra Israel. Durante décadas, o incitamento foi usado para motivar os palestinos a assassinar israelenses e perpetuar o conflito. Nos últimos anos, outro componente do incitamento relacionado a al-Aqsa visa encerrar as visitas de judeus ao seu local mais sagrado, o Monte do Templo. Os visitantes judeus são inevitavelmente retratados como “invadindo” e “profanando” o Monte, e jovens palestinos, doutrinados a acreditar que é seu dever “defender” al-Aqsa contra as agressões israelenses inventadas.
As visitas de judeus ao Monte do Templo são realizadas de maneira respeitosa e de acordo com as limitações impostas a todos os não muçulmanos. Eles só podem visitar o local em horários fixos; não entram na Mesquita de al-Aqsa; e não têm permissão para orar abertamente no Monte. Em forte contraste, as restrições aos fiéis muçulmanos são limitadas a medidas necessárias para garantir a segurança pública.
As estatísticas são inequívocas: no ano passado, aproximadamente 1.250.000 muçulmanos entraram no Monte do Templo durante o Ramadã. Além disso, o número de participantes do Ramadã aumentou acentuadamente este ano, enquanto o número de visitantes judeus, em 2022, foi menor do que o de fiéis muçulmanos durante uma única sexta-feira do Ramadã.
O respeito de Israel pelas crenças muçulmanas é consistente com o compromisso de proteger os locais sagrados das religiões e defender a liberdade de culto. Esses compromissos estão consagrados em nossa Declaração de Independência, que afirma que Israel “garantirá total igualdade de direitos sociais e políticos a todos os seus habitantes, independentemente da religião (…), garantirá a liberdade de religião (…) e salvaguardará a Lugares Sagrados de todas as religiões”.
Uma análise informada dos incidentes atuais e passados sem dúvida estabeleceria que os tumultos e outras formas de violência instigadas pelo Hamas são parte inerente de uma estratégia cuidadosamente calculada. Israel não quer nada mais do que a manutenção da calma em benefício de todos os que desejam viver e orar em paz. No entanto, enquanto Israel for condenado injustamente e os terroristas recompensados, estamos fadados a testemunhar o aumento da violência e a vê-la se repetir sempre que for conveniente à agenda do Hamas e de seus apoiadores.
- Daniel Zohar Zonshine é o atual embaixador de Israel no Brasil. Foi Embaixador de Israel em Myanmar e Cônsul-Geral em Mumbai, na Índia.