Ibaneis sai na frente no 2º turno e Rollemberg tem de sair do lugar
Governador ficou parado durante toda a campanha, mas adversários deram marcha a ré
Hélio Doyle
atualizado
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Estava escrito nas pesquisas qualitativas e era ouvido com clareza, no Brasil e em Brasília, nas conversas, nas casas, nas ruas, nos bairros, nos locais de trabalho e de lazer. Mas os políticos tidos como tradicionais, à direita, ao centro e à esquerda, preferiram ignorar. Por isso, grande parte deles foi derrotada nas eleições de sete de outubro, no país e no Distrito Federal. A lista dos derrotados é enorme e inclui figuras que há anos exercem o poder nacional e local.
Ibaneis Rocha (MDB), em Brasília, não foi o único, mas quem com mais sucesso encarnou o desejo de mudança e renovação da política que paira sobre o Brasil, e que os velhos políticos não viram ou não quiseram ver. Os que souberam enxergar que essa é a tendência capturaram a maioria dos eleitores com a crítica à política tradicional e aos políticos profissionais, à corrupção e ao fisiologismo. Alguns, por convicção; a maioria, por oportunismo.
O PT e a esquerda, desgastados politicamente, não souberam captar esses ventos e insistiram nos velhos discursos. A miopia da centro-esquerda e da centro-direita os impediu de ver o que acontecia. Coube assim à extrema-direita se apropriar da vontade de mudar e renovar que os brasileiros manifestam, acrescentando outros temas atraentes para boa parcela da população, como a ênfase na segurança e na defesa de valores conservadores e pretensamente cristãos.
Sem se identificar com a extrema-direita nem manifestar, como outros, apoio a Jair Bolsonaro (PSL), Ibaneis assumiu a bandeira da renovação política em Brasília. O expressivo crescimento dele durante a campanha e a votação obtida devem-se principalmente a isso, e não, como alegam adversários, aos milhões de reais que gastou na campanha. Ibaneis, para muitos eleitores, encarna o antissistema, é o crítico da velha política. As acusações aos que o apoiam não colou perante os eleitores – pelo menos, até agora.
O dinheiro foi mesmo muito importante para que Ibaneis fosse o mais votado, e ele arriscou sua imagem de outsider ao se filiar ao MDB, partido associado à corrupção e a Michel Temer, mas que lhe deu estrutura, tempo na televisão e presença nos debates. Se tivesse escolhido um partido menor e se não tivesse dinheiro para gastar na campanha, provavelmente Ibaneis poderia se sair bem, mas teria muitas dificuldades para ganhar. O PRP, do general Paulo Chagas, e o Novo, de Alexandre Guerra, não seriam opções para vencer o pleito.
Sem voto
Quando as chapas se formavam, antes e depois da desistência de Jofran Frejat (PR), o deputado Alberto Fraga (DEM) e outros diziam que Ibaneis não poderia ser o candidato ao governo por ser “sem voto”, denominação pejorativa que políticos tradicionais usam para os que nunca disputaram uma eleição. Eles não tinham entendido que justamente por ser um sem voto é que Ibaneis disputaria com chances de vitória e Fraga deveria ter se lançado à reeleição ou tentado uma cadeira no Senado.
Os políticos que tanto se empenharam nos intensos conchavos para formação de coligações — e desastradamente ainda os divulgavam em colunas e blogs — e que depois, como candidatos, não se preocuparam em se descolar do velho estilo de fazer política, sucumbiram: Fraga, Eliana Pedrosa (Pros), Rogério Rosso (PSD), Cristovam Buarque (PPL),Tadeu Filippelli (MDB), Chico Leite (Rede) e vários outros que tentaram a reeleição como deputados federais e distritais e foram derrotados. Joe Valle (PDT) fez bem em nem tentar ser candidato. Salvaram-se Izalci Lucas (PSDB), Júlio César (PRB), Celina Leão (PP) e poucos outros velhos políticos que conseguiram se eleger distritais. São as exceções que confirmam a regra.
O governador Rodrigo Rollemberg, que também não é modelo de nova política, foi para o segundo turno com irrisórios 14% dos votos graças ao insucesso dos adversários divididos em quatro coligações. Uma boa imagem é do carro de Ibaneis disparado à frente e o de Rollemberg estacionado há dias e começando a rodar vagarosamente, enquanto os carros de Eliana e Fraga passam por ele, mas em marcha à ré. O de Rosso vinha lá de trás, mas não deu tempo de ultrapassar o do governador.
A divisão do grupo político de origem rorizista em quatro coligações e os ataques desferidos entre eles ajudaram Rollemberg, assim como o voto “útil” que ele recebeu nos últimos dias para que se evitasse um segundo turno entre Ibaneis e Eliana ou Rosso. A tardia ascensão de Rosso, graças a seu apoio declarado a Bolsonaro e à mobilização de religiosos evangélicos e entidades de servidores públicos, não foi suficiente para que ele ultrapassasse Rollemberg.
No segundo turno, começa uma nova eleição, que coloca frente a frente apenas dois candidatos. Ibaneis está em vantagem, tanto pela diferença de votos em seu favor no primeiro turno como pela alta rejeição a Rollemberg. Se não der escorregadas graves e não for atingido por um míssil recheado de denúncias pesadas, a maior probabilidade é de que seja eleito. Há contra ele, também, a denúncia de oferecer vantagens em troca de votos, que será decidida pela Justiça.
Rollemberg, para tentar reverter, precisa repensar a estratégia que o manteve estacionado na faixa de 10% a 13% desde o início da campanha e consertar o que deu errado, e que não é pouca coisa. É óbvio que a linha de campanha adotada não sensibilizou os eleitores e é ineficaz.
Não estão claras as posições que Ibaneis e Rollemberg tomarão em relação à disputa pela presidência da República. O PSB, partido do governador, deverá apoiar Fernando Haddad, mas Rollemberg pode se manter neutro, pois, afinal, Bolsonaro teve quase 60% dos votos dos brasilienses. Ibaneis ainda não se manifestou.