Ibaneis quer ocupar vazio deixado pela centro-esquerda
Contradições da campanha do candidato podem favorecê-lo se chegar ao segundo turno
Hélio Doyle
atualizado
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Novas pesquisas vêm aí brevemente, mas é preciso esperar pelo menos uns 15 dias para tentar vislumbrar quais são os candidatos a governador de Brasília com mais possibilidades de ir ao segundo turno. Embora haja quatro postulantes à frente na corrida, não dá ainda para desprezar outros menos votados e a única certeza que se pode ter é que os candidatos do PSTU e do PCO não passarão do primeiro turno.
A cada dia se comprova que esta é uma campanha diferente, em uma eleição diferente. Há recorde de candidatos, não há a tradicional polarização nem favoritos destacados, é certo que haverá um segundo turno, e, especialmente, o não voto (abstenções, nulos e em branco) pode estar na faixa dos 35% a 40%.
Se esse percentual de eleitores que não escolherão um candidato for mesmo alto, os dois primeiros colocados poderão ter algo como 15% a 20% dos votos. A diferença entre o segundo colocado e o terceiro poderá ser menor do que a que levou Lula para o confronto final com Fernando Collor em 1989, deixando Leonel Brizola fora: 0,67%.
A briga de todos é para estar entre os dois primeiros, mas como não se pode prever ainda quem serão os dois, os candidatos têm de enfrentar os adversários com o cuidado de não criar situações que inviabilizem apoios no segundo turno. É preciso atacar os oponentes, mas de uma maneira que não os impeça de serem aliados depois.
Contradições
A divisão do bloco azul em quatro candidaturas, com a possibilidade de uma ou duas delas estarem no segundo turno, embaralha ainda mais a campanha. A tendência natural é que Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Ibaneis Rocha (MDB) e Rogério Rosso (PSD) estejam juntos no segundo turno, seja qual deles for o que consiga. Mas, se forem dois azuis na disputa, a formação das alianças entre os quatro será mais complicada e a esquerda terá de optar entre um deles ou não apoiar nenhum.
Ibaneis é o candidato que mais enfrenta contradições, mas que podem vir a beneficiá-lo se for para o segundo turno. Ele tem procurado se afastar dos outros três azuis, colocando-se como novo, vinculado à sociedade civil, não ligado a Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Está, porém, em um partido comandado por Tadeu Filippelli, que não só participou dos governos de Roriz e Arruda como responde a acusações de corrupção. Quando Jofran Frejat ainda era candidato, com apoio de Arruda, Ibaneis trabalhava para ser seu companheiro de chapa.
Outra contradição de Ibaneis é estar no partido de Michel Temer — que a esquerda chama de golpista e patrocinador de medidas consideradas contrárias aos interesses dos trabalhadores — e defender posições que não o diferenciam das do PT e de outros partidos de centro-esquerda. É contra privatizações, vai acabar com o Instituto Hospital de Base, defende aumentos para servidores públicos.
Estratégia
Ibaneis tem discurso pronto para explicar essas contradições e, nitidamente, tem uma estratégia para se aproveitar delas se for para o segundo turno. O que ele está fazendo é ocupar o espaço aberto pela ausência de um candidato de centro-esquerda, não petista, que faça oposição ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Ao se aliarem a Rollemberg, o PDT e a Rede renunciaram à apresentação de um candidato que ocupasse esse espaço e que, segundo mostravam as pesquisas, teria enorme chance de ir para o segundo turno. Renunciaram também, diga-se, ao protagonismo nas eleições.
Na hipótese de chegar ao segundo turno contra alguém do bloco azul, Ibaneis pode se colocar como adversário da direita e conseguir o apoio de partidos de centro-esquerda, inclusive, quem sabe, do PSB, e dos eleitores que não querem a volta dos políticos ligados a Roriz e Arruda. Se for para o segundo turno contra Rollemberg, Ibaneis aglutinará toda a oposição ao governador, não se descartando ter o apoio inclusive do PT, com o qual tem vínculos como advogado trabalhista.
Para subir nas intenções de voto e chegar ao segundo turno, Ibaneis conta com os programas e inserções na televisão e com a rede de cabos eleitorais e candidatos a deputado distrital e federal que está construindo com a ajuda dos recursos próprios de que dispõem para a campanha. Segundo se diz, serão dois mil cabos eleitorais e pelo menos 250 candidatos.
Há indicações de que muitos brasilienses decidirão seus votos para governador nos últimos dias de campanha. Vão esperar que o quadro fique mais claro e aí verão em quem votar, ou para evitar que Rollemberg vá para o segundo turno, ou para impedir que a disputa seja entre dois candidatos azuis. Isso pode reduzir o número de não votos, em favor de um voto útil que se definirá mais pela exclusão do que pela aprovação. É uma eleição realmente diferente.