Ibaneis junta apoios inúteis e dispensáveis
Partidos que aderiram no segundo turno não acrescentam nem votos nem força política
Hélio Doyle
atualizado
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Ainda no primeiro turno, o candidato Ibaneis Rocha (MDB), já à frente na disputa, disse que não buscaria apoio de partidos e candidatos derrotados no segundo turno. A postura era coerente com seu posicionamento como novo político, distante dos vícios e maquinações dos políticos tradicionais que tanto criticou na campanha eleitoral. Posicionamento, aliás, que garantiu sua liderança.
Mesmo assim, Ibaneis buscou e recebeu a adesão de perdedores do primeiro turno. Ganhou também o apoio de alguns políticos e partidos sem que os tenha buscado, o que é normal, pois passou a ser a expectativa real de poder, diante da qual brilham os olhos deles. É a velha máxima: o rei morreu, viva o rei.
Para justificar o apoio recebido agora de dez partidos, quase todos identificados com o “centrão” de má fama e irrelevantes no cenário político de Brasília, Ibaneis recorreu ao maniqueísmo: está fazendo uma aliança do bem contra o mal. O mal, que justificaria tão ampla aliança, que ainda pode ser maior, é impedir a continuidade do “péssimo governo” de Rodrigo Rollemberg (PSB).
Para não perder a imagem de novidade na política, Ibaneis tem assegurado que não há, com esses partidos, negociações em troca de favores e cargos no futuro governo. É até possível, mas, apesar de recém iniciado na política partidária, Ibaneis é experiente e sabe que as faturas decorrentes do apoio serão devidamente cobradas assim que começar a montar seu secretariado e escolher os diretores das autarquias e empresas estatais. E essas faturas não se limitarão a cargos.
Ainda apegados a velhos e superados esquemas, há políticos, analistas e jornalistas que consideram essencial ter, no segundo turno, o apoio de candidatos derrotados e seus partidos, por mais irrelevantes que sejam. Essas alianças são consideradas fundamentais e todos dão grande atenção a elas. O raciocínio é linear: os apoios asseguram os votos dos que neles votaram. Linear e errado: os eleitores, majoritariamente, votam como querem e não seguem líderes e partidos, ainda mais quando líderes e partidos estão desacreditados e sem representatividade.
Nenhum voto a mais
Os apoios que está recebendo nada acrescentam a Ibaneis e, pelo jeito, Rollemberg não será reeleito independentemente deles. Não acrescentam votos, pois não são esses acordos de caciques que decidem as eleições, mas os eleitores. E nem força política a mais do que teria sem eles, porque esses partidos não têm quase nenhuma simpatia dos eleitores e mais atrapalham que ajudam. Mas, como Ibaneis está bem à frente na disputa, isso, que poderia ser um fator negativo eleitoralmente, não terá influência de peso no resultado.
Pesquisa realizada em Brasília pelo Instituto Opinião Política demonstra a inutilidade das adesões. No primeiro turno havia mais três candidatos “azuis”, de grupos políticos originários do ex-governador Joaquim Roriz. Ibaneis não recebeu apoio de dois deles, os derrotados Alberto Fraga (DEM) e Eliana Pedrosa (Pros), que se mantêm neutros, mas receberá pelo menos três de cada quatro votos dados a ambos no primeiro turno.
Fraga, aliás, teve apoio explícito do ex-governador José Roberto Arruda e do ex-candidato Jofran Frejat, ambos do PR, e ficou em sexto lugar com apenas 5,88% dos votos. Eliana teve o apoio da família de Joaquim Roriz e ficou em quinto lugar com 6,99%. Mais provas de que agora as coisas estão diferentes.
Já o outro candidato azul, Rogério Rosso (PSD) decidiu apoiar Ibaneis, mas isso não faz nenhuma diferença em relação à neutralidade de Fraga e Eliana: o percentual de eleitores de Rosso que votará agora em Ibaneis é o mesmo dos dois. Se Ibaneis tivesse dispensado o apoio de Rosso, daria na mesma. E se prometeu algo a Rosso e a seu grupo, o fez de graça.