Hospital de Base, Agefis e pardais na mira dos caçadores de votos
Para agradar segmentos específicos, candidatos fazem promessas que prejudicam a maioria da sociedade
Hélio Doyle
atualizado
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Na última semana de campanha, a irresponsabilidade e a demagogia permeiam ainda mais as promessas feitas aos eleitores por alguns candidatos a governar o Distrito Federal. É preciso conquistar o eleitor, a qualquer custo.
Esses candidatos, ao velho estilo, prometem obras e serviços, contratações, aumentos salariais e outros benefícios a servidores públicos sem nenhuma preocupação em dizer como os viabilizarão financeiramente. Quando questionados, dão respostas vagas e genéricas.
É assim que funciona, dirão, pois sem prometer o viável e o inviável nenhum candidato ganha a eleição. Mesmo sabendo, por experiência de vida, que a maioria dessas promessas não será cumprida, os eleitores querem ter esperanças de que as coisas vão melhorar e preferem acreditar a duvidar. Os índices de intenção de votos dos candidatos prometedores demonstrariam isso.
Pode ser, mas é inegável que os eleitores estão evoluindo, são mais informados e mais exigentes. Com o tempo e com uma difícil, mas não impossível, mudança no sistema eleitoral, certamente os eleitores brasileiros deixarão de acreditar em promessas mirabolantes e passarão a exigir mais detalhamentos e explicações dos candidatos sobre como fazer, sem enrolação.
Nesta campanha eleitoral, há três temas que têm sido recorrentes nas falas de candidatos e que são uma boa amostragem da irresponsabilidade e da demagogia. São promessas feitas para agradar a um segmento de eleitores, sem nenhuma preocupação com suas consequências reais para o conjunto da sociedade.
Hospital de Base
O primeiro tema é a extinção do Instituto Hospital de Base, experiência feita pelo atual governo para tentar melhorar a gestão daquela unidade de saúde. O instituto tem um ano, tempo insuficiente para se concluir com seriedade que a experiência está sendo positiva ou negativa. É claro, também, que em tão pouco tempo não seriam resolvidos todos os gravíssimos problemas do Hospital de Base.
Há candidatos de esquerda que são contra o IHB e querem extingui-lo por postura ideológica, pois consideram que está havendo uma privatização da unidade. Mas candidatos de posições liberais e à direita dizem que vão extingui-lo sem sequer examinar os dados e a situação real – na verdade, defendem a extinção para atender à reivindicação corporativista de sindicatos de servidores da área da saúde e ganhar seus votos, e também, claro, para se opor ao governador, que tenta a reeleição.
Rollemberg, por outro lado, também não espera que a experiência seja convenientemente avaliada e já promete, irresponsavelmente, considerá-la aprovada e estendê-la a outros hospitais. Os dois únicos candidatos que mostram cautela e querem conhecer bem o modelo e seus resultados antes de decidir se o instituto continua, será estendido ou será extinto, são Alexandre Guerra (Novo) e Paulo Chagas (PRP).
Agefis
Outra promessa irresponsável e demagógica é o fechamento da Agefis, a não ser que seja uma questão de marketing e apenas se mude o nome da agência. Extinguir o órgão sem dizer quem cuidará da fiscalização – ou dizer que serão os administradores regionais nomeados por distritais – é dar um alvará de permissão para a desordem urbana, para a grilagem de terras, para obras ilegais e para todo tipo de burla à legislação.
Quem aplaude a extinção da Agefis são os que se beneficiarão da falta de fiscalização. Se o órgão funciona mal, não trabalha na prevenção, está extrapolando em suas funções ou sofre de ingerências políticas, como dizem alguns candidatos, o que é preciso fazer é corrigir os erros e melhorar sua gestão. Mas, para alguns eleitores que preferem a ilegalidade e o jeitinho, o que pega bem é falar em acabar com a fiscalização e deixar tudo solto.
Pardais
Finalmente, há candidatos que anunciam que vão retirar pardais das vias brasilienses, sob o argumento de que não educam e são uma fábrica de multas. É óbvio que os interessados em mais essa promessa irresponsável e demagógica são os motoristas que violam sistematicamente a legislação de trânsito e são reiteradamente multados. O problema não é a velocidade acima do limite, é ser pego.
Qualquer brasiliense sabe o que acontecerá sem pardais: aumentará a velocidade nas vias e sinais vermelhos serão desrespeitados, pois já é assim que acontece onde não há o sistema de fiscalização eletrônica. O que é preciso fazer é realmente aplicar os recursos obtidos com as multas em educação para o trânsito e sinalização das vias, o que não está acontecendo.
Acabar com uma experiência de gestão sem avaliá-la corretamente, apenas para atender a pressões corporativistas, extinguir um órgão fiscalizador para agradar violadores das normas e das leis, e retirar pardais para ganhar votos de motoristas infratores são, apenas, alguns exemplos de promessas irresponsáveis e demagógicas que proliferam nesta campanha. O pior é que há muitos que aplaudem.