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O abraço é compartilhado, a dor é dividida. A esperança no renascimento do time e da população cresce a cada nova faixa escrita #ForçaChape

Autor Larissa Rodrigues

atualizado

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Desde que eu e a repórter fotográfica Rafaela Felicciano chegamos em Chapecó (SC), há menos de três dias, tem sido uma verdadeira batalha. Muito trabalho, pouco tempo para descanso, aquela correria contra o tempo normal em qualquer grande cobertura jornalística. No entanto, o mais difícil de tudo é encarar o que se transformou toda a pequena cidade do interior catarinense.

Já havíamos trabalhado, infelizmente, em outras tragédias. Mas nunca tínhamos visto algo que devastasse todo um município dessa maneira. Chapecó agora é uma cidade-fantasma, fria, a ponto de ser difícil acreditar que, até menos de uma semana, tudo por aqui era normal. Ao mesmo tempo, a solidariedade invadiu todos os cantos. O abraço é compartilhado, a dor é dividida. A esperança no renascimento do time e da população cresce a cada nova faixa escrita #ForçaChape, penduradas nas portas de todas as lojas e casas.

Durante esses três dias — que mais pareceram 30 — tentamos manter o distanciamento. Afinal, como trabalhar com perfeição se deixarmos a emoção tomar conta? Confesso que algumas lágrimas caíram durante uma entrevista com a esposa de um jogador, no desabafo de uma mãe que não sabe de onde tirará forças para enterrar um filho, quando a Arena Condá ficou lotada pela torcida em homenagem ao “Time de Guerreiros”.

Todos os momentos foram dolorosos, difíceis, terríveis. No início da noite desta sexta-feira (2/12), na primeira homenagem voltada exclusivamente para os jornalistas mortos na tragédia aérea, vi uma das cenas mais tristes que já presenciei. Enquanto o padre rezava e as famílias choravam, centenas de jornalistas tentavam fotografar, gravar e entrevistar.

Eram fotógrafos chorando por trás das câmeras um pouco envergonhados por estarem ali trabalhando, enquanto o que queriam de fato era participar da homenagem. Vi companheiros se abraçando, enquanto anotavam em seus bloquinhos as informações para mais tarde transformarem a dor em notícia. Vi repórter engasgando, enquanto fazia perguntas. Vi pai abraçando entrevistador que trabalhava junto com o filho na televisão. Paralisei, desabei, chorei. Desculpa chefe, não teve pergunta, não teve entrevista, só teve choro.

Sigo aqui na sala de imprensa com o olho cheio d’água, enquanto penso que facilmente poderia ser eu naquele avião. Já cobri Brasileirão, Libertadores, Eliminatórias da Copa do Mundo, Olimpíada. Lembrei, essa semana, que, há anos, fiz uma final de Copa Sul-Americana fora do país. Estava no avião com a delegação do time. Sim, poderia ser eu no avião da Chapecoense, a Rafaela ou tantos outros amigos jornalistas que tenho.

Mas, na verdade, foram 21 jornalistas que, como a gente, encaravam tudo atrás de uma notícia. No fim da homenagem desta sexta-feira, depois de muita lágrima, choro, foto e entrevista, uma jornalista, que foi professora da grande maioria dos profissionais da imprensa catarinense mortos na queda do avião, pegou o microfone para dizer algumas palavras. Talvez as únicas que de fato eu tenha decorado:

Chega de choro. Sei que é difícil, mas temos que lembrar que eles estavam ali fazendo o que gostavam. Agora, estão em um lugar melhor fazendo a melhor reportagem da vida deles

Sim, era por isso que eles estavam ali. Agora eu, a Rafaela Felicciano e os mais de mil jornalistas de todo o mundo que aqui estamos cobrindo essa tragédia, continuaremos em Chapecó. Até o fim dessa tristeza, até a volta para casa, continuaremos aqui, fazendo as melhores e mais difíceis reportagens das nossas vidas…

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