Eu prometo, tu prometes, nós prometemos
Candidatos ao governo vão transformar o Distrito Federal em um paraíso
Hélio Doyle
atualizado
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Em um dia, em três cidades, três candidatos ao Governo do Distrito Federal deram novas demonstrações de que a temporada de promessas continua a toda. São só três exemplos, mas a ladainha circula por todo o Distrito Federal, recitada por candidatos ao governo.
Em Sobradinho II, Eliana Pedrosa (Pros) garantiu que construirá um “trem modernão, igual na Europa”, ligando o Plano Piloto a Planaltina. No Recanto das Emas, Fátima Sousa (PSol) prometeu levar o Metrô à cidade. No Gama, Rodrigo Rollemberg foi mais ousado: “Vou reformar o pronto-socorro, a hemodiálise e o centro de partos, além de contratar mais médicos. Posteriormente, vou asfaltar a Avenida Buritis e construir uma nova rodoviária no Gama.”
As promessas são feitas nas caminhadas dos candidatos, em entrevistas, sabatinas e debates, e agora estarão nos programas gratuitos na televisão e no rádio. Pode ser que a estratégia de prometer o mundo e algo mais dê certo, que ainda existam eleitores ingênuos, ao estilo da velhinha de Taubaté descoberta por Luís Fernando Veríssimo. Pode ser que haja quem já vislumbre o trem modernão circulando pelas serras de Sobradinho, o metrô passando pelo Recanto (pelo Riacho Fundo também?) ou o Gama em meio a um canteiro de obras.
Esperava-se que os políticos e os candidatos tivessem evoluído. Os políticos, superando velhas práticas e métodos. Os eleitores, pela compreensão de que essas velhas práticas e métodos são, em grande parte, responsáveis pela situação degradante em que vivemos no Brasil e em Brasília. Já estamos vendo, no dia a dia da campanha, que os políticos não evoluíram, mas somente quando saírem os resultados das urnas eletrônicas é que saberemos se os eleitores evoluíram ou não.
Os candidatos fingem desconhecer que hoje os limites para a ação do governo são muito maiores do que anos atrás, em razão da situação econômica e financeira do país e do Distrito Federal, do aumento dos mecanismos de controle oficiais e populares, e do caos institucional em que vivemos, entre outros fatores. Falam como se fossem capazes de, por desejo e vontade, superar todos os problemas e resolver de uma tacada, em quatro anos, todos os graves e complexos problemas sofridos pelos brasilienses.
Há uma enorme distância entre o que se quer e o que se pode fazer, e os candidatos deveriam mostrar isso à população e apresentar alternativas reais e realizáveis para mudar a situação, inclusive para além de quatro ou oito anos. Partidos e candidatos sem perspectivas de vencer as eleições até podem prometer o que quiserem, pois ficarão impunes, mas os que almejam de fato o governo deveriam ter mais responsabilidade e não tentar iludir os eleitores.
A cobrança pelas promessas não cumpridas fatalmente virá para o eleito, provavelmente as feitas pelos derrotados serão esquecidas. Mas a decepção e a frustração dos eleitores enganados contribuirão para aumentar ainda mais a indignação e a revolta com a política e com os políticos, o que não é bom.
A título de memória, abaixo estão algumas promessas feitas pelo então candidato Rodrigo Rollemberg, em 2014, e não cumpridas. Há muitas mais. E, pelo jeito, a história se repete. Como farsa, naturalmente.
– Implantação de unidades do Na Hora em Samambaia, Planaltina, Recanto das Emas, Santa Maria, Guará e Paranoá;
– Aquisição de novos trens e melhoria da operação do Metrô-DF;
– Conclusão das estações do Metrô na Asa Sul e extensão das linhas para Asa Norte, Samambaia e Ceilândia;
– Implantação do corredor de transporte coletivo ligando a Rodoferroviária à Praça dos Três Poderes, via Eixo Monumental, Sudoeste e Cruzeiro;
– Implantação da Via Interbairros, ligando o Setor Policial Sul a Samambaia, passando por Guará, Águas Claras e Taguatinga;
– Construção do túnel de Taguatinga e implantação do corredor de transporte coletivo oeste;
– Construção sustentável de escolas de ensino médio, com prioridade para as regiões de mais baixa renda;
– Retorno da Poupança Escola para os estudantes de ensino médio;
– Distribuição de tablets a todos os alunos de ensino médio das escolas públicas;
– Entrega em domicílio de medicamentos para pacientes idosos, com deficiência ou doenças graves;
– Devolução dos impostos distritais sobre medicamentos, via Nota Legal;
– Implantação de policlínicas odontológicas em todas as regiões de saúde;
– Construção de novos hospitais regionais no Recanto das Emas e em São Sebastião;
– Transformação do Teatro Nacional num grande centro cultural.