Esquerda fora do segundo turno é esperança para Rollemberg
Mas, antes, o governador já precisa do voto útil para não repetir Agnelo Queiroz (PT), que nem sequer passou do primeiro turno
Hélio Doyle
atualizado
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Os eleitores brasilienses de esquerda e de centro-esquerda estão prestes a viver um pesadelo previsível: não ter candidato com o qual se identifiquem política e ideologicamente no segundo turno da eleição para governador. Os cenários considerados mais prováveis, hoje, envolvem quatro postulantes e partidos que se situam entre a centro-direita e a direita. Nem mesmo o PSB e seu candidato Rodrigo Rollemberg, que também poderá estar no segundo turno, são considerados uma boa alternativa para os eleitores que se colocam à esquerda.
O PSB e Rollemberg não podem, racionalmente, ser situados à direita do espectro político, mas as posturas adotadas por eles desde o apoio ao tucano Aécio Neves, na eleição de 2014, até a aprovação do apoio ao impeachment de Dilma Rousseff (PT) os afastaram da esquerda e os aproximaram da direita. Dificilmente se verá, em Brasília, alguém de esquerda, moderada ou extremada, que aprove o governo de Rollemberg ou diga que ele executou políticas de esquerda.
Paradoxalmente, tudo indica que é em boa parte dos eleitores à esquerda que o governador ainda depende para ir ao segundo turno e, conseguindo isso, ganhar as eleições em 28 de outubro. Para passar do primeiro turno e não repetir o que aconteceu com o petista Agnelo Queiroz, Rollemberg precisará do voto útil de brasilienses que não querem ou não pretendem votar nele, mas que poderão fazê-lo para tentar impedir que a eleição seja decidida por dois candidatos à direita.
Indo para o segundo turno, contra Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Ibaneis Rocha (MDB) ou Rogério Rosso (PSD), Rollemberg provavelmente enfrentará uma aliança dos quatro candidatos e buscará os votos dos eleitores que não querem a volta das forças políticas lideradas por Joaquim Roriz, José Roberto Arruda e Tadeu Filippelli.
Mesmo que o governador seja votado como ‘mal menor’, ‘menos ruim’, ‘de nariz fechado’ ou ‘como único jeito’, e não como um vermelho para derrotar o azul, esse eleitorado poderá ser a tábua que impedirá o seu naufrágio
Até agora, segundo as pesquisas mais recentes, o máximo a que chegaram juntos o PT, o PSol e o PSTU, partidos de esquerda que lançaram candidatos, foi de 6% dos votos. Esses partidos têm tradicionalmente forte base entre os servidores públicos, mas, além do desgaste nacional e local sofrido pelo PT e que se estendeu à esquerda, podem também estar perdendo eleitores desse segmento seduzidos pelas promessas mirabolantes de aumentos e benesses feitas pelos azuis.
O PDT, a Rede e o PCdoB estão formalmente na coligação liderada por Rollemberg, mas a quase totalidade de seus militantes não faz campanha para ele. Muitos pedetistas estão apoiando Eliana Pedrosa. O PPL está na chapa de Ibaneis, inclusive com um candidato ao Senado. O PCB está coligado ao PSol.
Oportunismo
Não é por opção ideológica que PDT, Rede e PCdoB estão oficialmente apoiando a reeleição de Rollemberg, mas por oportunismo e falta de opção. O PDT e a Rede estavam na coligação que elegeu o governador em 2014 e participaram do governo até final de 2017, quando romperam planejando lançar uma chapa de centro-esquerda em 2018, na esteira do desgaste do governador. Como esse projeto não avançou, boicotado pelos distritais Joe Valle (PDT) e Chico Leite (Rede), os dois partidos, sem consenso, voltaram para Rollemberg.
O PCdoB e o PPL acreditaram, assim como muitos militantes do PDT e da Rede, na possibilidade de lançar a chapa de centro-esquerda que seria uma alternativa à direita e a Rollemberg, mas, quando a ideia não vingou, tiveram de procurar opções para não se isolarem nas eleições. O PCdoB juntou-se ao PSB, mas o PPL, liderado por João Vicente Goulart, recusou-se e preferiu seguir com Ibaneis.
Rollemberg precisa ganhar, ainda no primeiro turno, eleitores que estão indecisos e que falam em anular o voto ou votar em branco e até mesmo parte dos que pretendem votar em Júlio Miragaya (PT), Fátima Sousa (PSol) e até em Alexandre Guerra (Novo), que não é de esquerda, mas tem contradições fortes com os azuis. O que ainda pode ajudá-lo é o espectro azul que ronda o Buriti.