Eleitores não querem promessas mirabolantes e demagógicas
Parece que os candidatos ou não entenderam o que as pesquisas qualitativas dizem ou ignoram suas indicações
Hélio Doyle
atualizado
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Os resultados não chegam ao conhecimento do público, muitas vezes não são conhecidos sequer por jornalistas, mas as pesquisas qualitativas, com diferentes metodologias, são o mais importante instrumento que os candidatos e sua equipe têm para traçar as estratégias de campanha e acompanhar seu desenrolar. Quem trabalha na área costuma dizer que planejar e conduzir uma campanha eleitoral sem as “quali” é como pilotar um avião sem visibilidade e sem radar. Ou seja, no escuro.
As pesquisas qualitativas, porém, nem são infalíveis nem podem ser instrumento único para planejamento e condução da campanha. A elas devem se somar outros ingredientes, como as pesquisas quantitativas – que possibilitam mensurar intenções de voto e de rejeição por idade, sexo, local de moradia, atividade profissional, renda, etc –, o conhecimento do território, do cenário social e das tendências a partir das vivências pessoais presentes e passadas e, principalmente, o instinto. Ou o sexto sentido, como dizem alguns.
Há candidatos ao governo de Brasília que contrataram pesquisas qualitativas, outros não realizaram nenhuma, mas a impressão é de que ou não entenderam o que elas dizem ou resolveram ignorar as conclusões apontadas. Provavelmente, por autossuficiência, por acreditarem mais em seus instintos do que em estudos com base científica.
Uma das indicações que as qualitativas dão é de que os eleitores não acreditam mais em promessas de candidatos, especialmente as mirabolantes e demagógicas. Até hoje, se fala que Jofran Frejat cresceu nas pesquisas em 2014 quando prometeu tarifa de R$ 1 para o transporte público. Isso é, porém, lenda de campanha – as pesquisas na época mostraram com clareza que os eleitores, salvo em pequeno percentual, enxergaram a irrealidade e a demagogia da proposta e não acreditaram nela.
Alguns candidatos, porém, ensaiam fazer promessas desse tipo. O próprio Frejat, quando ainda era candidato, disse no debate promovido pelo Metrópoles que iria criar uma universidade pública distrital para funcionar nos prédios do centro administrativo até hoje desocupado. Não precisou dizer de onde tiraria os recursos para isso, pois, felizmente, ninguém perguntou para ele.
Onde está o dinheiro?
Candidatos que prometem pagar a terceira parcela dos reajustes salariais dos servidores no primeiro mês terão de mostrar como será a engenharia financeira para isso, de onde sairão os recursos. Não vai adiantar muito repetir o discurso vazio de que “dinheiro tem, falta gestão”. Será preciso mostrar onde está o dinheiro, para não cair no descrédito.
Outra conclusão das pesquisas qualitativas é de que uma expressiva maioria dos eleitores rejeita fortemente os políticos tradicionais e seus métodos, assim como não reconhece representatividade aos partidos. E expressiva parcela da população diz claramente que prefere votar em um candidato sem mandato e sem vínculo com a atividade política
Dos 11 candidatos a governador de Brasília, sete não podem ser considerados políticos tradicionais e apenas três exercem mandato: o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e os deputados federais Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD). Eliana Pedrosa (Pros) foi deputada distrital, mas está sem mandato porque foi derrotada na eleição para federal, em 2014.
Com exceção de Ibaneis Rocha (MDB) e Júlio Miragaya (PT), todos os demais candidatos que não são políticos tradicionais estão em partidos menores e coligações com poucos recursos para a campanha e pouco tempo na televisão e no rádio. Alguns não têm direito sequer a participar dos debates realizados pelas emissoras de TV. A desvantagem é clara.
Espaço na propaganda
Uma conclusão mecânica a partir dos resultados das qualitativas seria, assim, a de que Ibaneis e Miragaya teriam melhores condições de ganhar a eleição: não são políticos tradicionais, não têm mandato e estão em partidos que lhes garantem recursos e bom espaço na televisão. Só que não é tão simples. Conclusões mecânicas enganam e os eleitores querem mais do que isso.
Ibaneis e Miragaya terão de mostrar também que são ficha limpa, têm competência para governar, coragem para tomar decisões e capacidade de dialogar e articular – pois é isso que os eleitores dizem esperar dos candidatos. Mesmo que mostrem tudo isso, ambos terão uma dificuldade: as mesmas pesquisas apontam que o PT de Miragaya e o MDB de Ibaneis são partidos desgastados e rejeitados por grande parte do eleitorado, e a prática de corrupção é um dos motivos.
As pesquisas qualitativas não dizem quem vai ganhar, apenas dão indicações para a campanha e ajudam os candidatos e seus estrategistas a não cometer erros. Em uma eleição com 11 candidatos, quem errar menos pode levar vantagem.