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Eleição de Leila volta a afastar Chico Leite de Rollemberg

Distrital derrotado para o Senado rompeu, reatou e agora rompeu de novo com o governador do Distrito Federal

Autor Hélio Doyle

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Anúncio da “Coligação Mãos limpas” na Sede do PSB. Brasília(DF), 06/08/2018
1 de 1 Anúncio da “Coligação Mãos limpas” na Sede do PSB. Brasília(DF), 06/08/2018 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O oportunismo político, que já é grande rotineiramente, ganha dimensões maiores nos períodos eleitorais, quando princípios, compromissos e ética são deixados de lado em nome da vitória. O político oportunista desconhece limites e submete o interesse coletivo a seu interesse pessoal.

O deputado distrital Chico Leite, da Rede Sustentabilidade, demonstrou nos últimos meses ser um exemplo acabado desse oportunismo. Em menos de um ano, em função apenas de seus interesses, Chico Leite fez seu partido romper, reatar e romper de novo com o governador Rodrigo Rollemberg, do PSB. Tudo isso graças ao domínio que exerce sobre as instâncias de decisão da Rede, embora não conte com a simpatia da maioria dos militantes.

Liderada por Marina Silva, a Rede foi constituída com a proposta de ser um novo tipo de organização partidária, democrática, aberta e moderna. Em Brasília, porém, tornou-se um partido igual a tantos outros, com um cacique que mantém seu domínio graças ao mandato de deputado distrital e a seus fiéis servidores comissionados, espalhados pelas instâncias que decidem.

O controle exercido pelo distrital Chico Leite sobre a Rede é semelhante ao que tantos outros exercem em vários partidos. A diferença é que as demais legendas em que os caciques imperam não têm a proposta de renovar a política e construir um partido diferente. No PDT, por exemplo, o também distrital Joe Valle exerce o comando graças a seu mandato de distrital e, em boa parte, aos servidores comissionados que mantém na estrutura partidária. Mas o PDT nunca foi um exemplo de democracia interna.

Chico Leite e Joe Valle ficarão sem mandato parlamentar nos próximos quatro anos, o primeiro porque foi derrotado na eleição para o Senado e o segundo porque, talvez prevendo a derrota, desistiu das anunciadas candidaturas para governador e para senador. Assim, provavelmente ambos perderão o comando sobre seus partidos, abrindo, quem sabe, a possibilidade de haver democracia interna na Rede e no PDT.

Rompe, volta, rompe
No final de 2017, quando já se via que o governador Rodrigo Rollemberg teria grandes dificuldades para ser reeleito, Chico Leite pregou o rompimento com o governo e a entrega dos cargos exercidos por filiados. Sua motivação foi eleitoreira: articulava-se, à época, uma coligação de centro-esquerda que teria Joe Valle como candidato ao governo e ele ao Senado. O PDT, de Valle, também rompeu com o governo Rollemberg para favorecer a candidatura de seu cacique.

Havia um grupo minoritário na Rede que igualmente defendia o rompimento com o governador, mas que propunha o lançamento de um candidato próprio ao governo, para dar sustentação local à candidatura de Marina à presidência e favorecer a eleição de um deputado federal e pelo menos dois distritais. Nesse grupo estava o único distrital que veio a ser eleito pela Rede, Leandro Grass.

Chico Leite, porém, insistia na coligação com Joe Valle, alegando haver um compromisso entre ambos: um deles seria candidato ao governo e outro ao Senado. Como Chico Leite queria o Senado, estava tudo bem – até que Joe Valle o traiu, anunciando que não seria mais candidato a governador e, sim, ao Senado, mas na coligação liderada por Jofran Frejat, do PR. Os dois passaram de aliados a adversários.

Chico Leite então se colocou como candidato ao governo, mas sem assumir efetivamente essa condição. Foi apenas uma maneira de impedir o lançamento de outro candidato ao governo pela Rede, ou por um dos partidos potencialmente aliados – PDT, PCdoB e PPL — enquanto ele articulava o apoio a Rollemberg, favorecido pela presença no governo de seu irmão, Valdir de Oliveira, secretário de Economia.

Ao aprovar na Rede o apoio ao governador e sua presença na coligação, Chico Leite mais uma vez se impôs com a maioria que tem nos órgãos decisórios, garantida por servidores de seu gabinete e aliados conquistados graças aos benefícios dados pelo mandato parlamentar. A minoria, que na verdade é maioria no partido, se opôs a essa aliança, que escondeu a Rede dos eleitores e prejudicou a eleição de deputados pelo partido.

O que Chico Leite não esperava é que, nos últimos momentos antes do registro das chapas, o governador lançasse pelo PSB a candidatura ao Senado de sua ex-secretária Leila Barros, a Leila do Vôlei. Até aquele momento, a candidata à segunda cadeira no Senado seria a ex-secretária Leany Lemos, e Leila postularia a Câmara Legislativa.

Leila logo assumiu a liderança da disputa, o que muito provavelmente não aconteceria com Leany, e Chico ficou para trás. O governador, buscando não só a vitória de Leila como o impulso que ela poderia dar à sua candidatura ao governo, jogou mais recursos na campanha dela, e Chico Leite ficou no sétimo lugar, com apenas 7,43% dos votos.

Foi alegando a preferência de Rollemberg por Leila que Chico Leite, que havia rompido e reatado com ele para favorecer sua candidatura ao Senado, resolveu romper de novo com o governador. Agora, apenas por vingança. Com a maioria que tem no comando regional, não teve dificuldades em aprovar o rompimento, apesar de estar contrariando uma decisão de convenção do partido.

Alguns militantes, porém, protestaram contra mais essa manobra do cacique Chico Leite. Entre eles, um dos porta-vozes da Rede, Pedro Ivo, e o distrital eleito Leandro Grass, que mostraram a incoerência da decisão. Grass, que não queria estar na coligação de Rollemberg, se dispõe a manter o apoio ao governador desde que ele concorde em não nomear nenhum deputado distrital ou indicados por ele para cargos no governo, o que dificilmente conseguirá.

Marina teve apenas um por cento dos votos, a Rede elegeu somente um deputado federal e não conseguiu superar a cláusula de barreira, o que lhe tira o acesso ao fundo partidário. Por isso, agora está abrindo discussões internas e com outros partidos para sobreviver. Há a alternativa de se fundir com outra legenda ou juntar-se em uma frente, mantendo a identidade própria.

Em Brasília, Leandro Grass, como único eleito, terá o papel de protagonista que teve Chico Leite. Os comportamentos de ambos, porém, são bem distintos, pois Grass, ao contrário do distrital derrotado, representa o espírito de democracia interna, abertura à sociedade e modernidade política que formaram a Rede.

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