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É proibido adoecer no DF. Você será mal atendido mesmo na rede privada

O péssimo atendimento não é exclusividade da sempre criticada saúde pública. E tenho certeza de que todos têm histórias para reforçar o que digo

Autor Priscilla Borges

atualizado

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Drip on the background a hospital corridor
1 de 1 Drip on the background a hospital corridor - Foto: Istock

É proibido adoecer em Brasília. Parece dramático, mas, se você espera ser bem atendido em um momento de dor e fragilidade e, principalmente, ter seu problema resolvido, vá por mim: não adoeça na capital federal. O conselho – que obviamente é retórico, já que essa não é uma escolha possível – parte de quem já vivenciou diferentes experiências médicas em hospitais públicos e privados da cidade. O péssimo atendimento não é exclusividade da sempre criticada saúde pública. E tenho certeza de que todos têm histórias para reforçar o que digo.

Nesta segunda (30/5), meu filho de 17 anos viveu um drama do cotidiano, desses bem experimentados pelos brasilienses. Esperou por uma consulta médica de emergência por quase três horas. Vejam bem, emergência. Ele não estava em um hospital público. Aguardou uma hora apenas para contar o que sentia à equipe da triagem de um dos maiores hospitais da cidade. Depois, outros 40 minutos se passaram até que a equipe da burocracia decidisse (sim, porque eles conversavam sobre “assuntos internos” enquanto pacientes esperavam) chamá-lo para assinar papéis. Por fim, após mais uma hora, o clínico geral o chamou.

Meu filho sentia uma forte dor de garganta e febre. Um problema simples diante da dor e do desespero de tantos outros pacientes que, mesmo em situações graves, não encontram socorro nas unidades de saúde. A espera pode custar a vida. Como no caso de um homem acolhido pelo Hospital Regional de Planaltina, em 2013, após um acidente de trânsito. Ele precisava de uma cirurgia de urgência. Após aguardar o procedimento por cinco horas, não resistiu aos ferimentos e morreu. Agora, o Tribunal de Justiça do DF condenou o Governo do Distrito Federal a pagar uma indenização de R$ 200 mil à família do falecido.

O dinheiro não diminuirá a dor dessa família, mas a decisão joga na cara dos governantes que, sim, eles têm responsabilidade em oferecer um serviço de saúde decente à população. Mas e quando a incompetência é da rede privada, onde se paga ainda mais caro para um suposto acesso mais pronto e eficiente aos serviços? Se pacientes são transformados em clientes, cada vez mais, esses consumidores vão exigir seus direitos como tais. Nós, a população que depende de um ou de outro atendimento, não devemos nos calar. Temos de contar os absurdos que vivemos, as longas esperas que enfrentamos, a falta de zelo dos profissionais que nos recebem em momentos de fragilidade.

Quando descobri um câncer aos 31 anos, ouvi que o melhor médico que encontraria na cidade para me tratar era a ponte aérea. Não me conformei. Como ficar longe da minha família, dos meus amigos, da minha casa para fazer quimioterapia? Gente, estou falando da capital da República. Me perguntava se realmente não haveria um único lugar na cidade em que pudesse tomar uma medicação com dignidade. Eu consegui, mas conheci outros que não tiveram a mesma “sorte”. Meu plano de saúde me ajudou, mas não sem que, antes, precisasse brigar por isso. Busquei meus direitos legais. Até quando, da emergência ou para a solução de uma doença grave, teremos de acionar a Justiça para o que deveria ser uma garantia universal?

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