É preciso falar de suicídio, romper o silêncio para informar a todos
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios. São mais de 30 mortes por dia
Ana Paula Hecksher Faber
atualizado
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Minha prima, 26 anos, médica, que residia em Minas Gerais, se suicidou há oito anos. Meu paciente, 32, advogado, morador de Brasília, em tratamento psiquiátrico há quatro. Planejava sua morte por suicídio em detalhes, à época. Hoje, casado, com muita alegria, espera a chegada de seu primeiro filho.
Qual a semelhança entre eles? Ambos portavam depressão, uma doença psiquiátrica que pode levar à morte por suicídio. O que os diferenciou? Minha prima foi vítima do preconceito. Preconceito de si mesma: “Se eu procurar um psiquiatra, o que vão achar de mim?”; e da família e amigos: “Como uma jovem bonita, inteligente e de sucesso pode não estar feliz? Basta reagir!”. Já meu paciente foi levado pela noiva para tratamento e aderiu, no início meio descrente, ao uso de medicamentos e à psicoterapia.
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é considerado uma grande questão de saúde pública em todos os países, pois, todos os anos, são registrados mais de um milhão de casos em todo o mundo. No Brasil, são cerca de 12 mil.
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios. São mais de 30 óbitos por dia. Esses dados são alarmantes, porém a maioria dos suicídios poderia ser evitada: 98,5% dos casos têm relação direta com doenças psiquiátricas tratáveis. A mais comum é a depressão, seguida dos transtornos por uso de substância psicoativa, esquizofrenia e transtorno de personalidade.
Infelizmente, o tabu prejudica a prevenção e impede que as pessoas em sofrimento procurem ajuda. Por isso, é preciso falar sobre suicídio, romper o silêncio para informar a todos.
Assim, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em consonância com a OMS, trouxe para o Brasil a campanha internacional “Setembro Amarelo”, que tem como objetivo principal a prevenção ao suicídio e a defesa da vida. O mês marca o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio (10 de setembro).
A iniciativa surgiu de uma parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), bem como entidades regionais e suas federadas. No DF, a Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr) está à frente de inúmeras atividades direcionadas tanto para os profissionais de saúde quanto para a população geral durante todo este mês.
Vários monumentos e prédios estão iluminados de amarelo, palestras e cursos sobre prevenção ao suicídio estão sendo ministrados em colégios, universidades, hospitais e, dia 10, ocorreu no Parque da Cidade, a Caminhada de Prevenção ao Suicídio com mais de 500 participantes.
Informando para prevenir
Caso observe que você ou alguém da sua convivência apresenta mudança brusca de comportamento, isolamento social, irritação, abandono de atividades prazerosas, tristeza persistente, alterações do sono e apetite, queda no rendimento escolar ou no trabalho, lesões sem razão aparente (sugerindo automutilação) e mensagens de desesperança, despedida ou com conteúdo de morte, fique alerta! Converse sobre o assunto e consulte um psiquiatra.
Como parte da campanha Setembro Amarelo, para maiores orientações, a ABP e o CFM lançaram juntos a cartilha “Suicídio: informando para prevenir” direcionada para todo o público, principalmente médicos e profissionais da área de saúde, e está disponível juntamente com outros materiais para download no site da ABP, por meio do link: http://www.abp.org.br/setembroamarelo/.
Ana Paula Hecksher Faber
Médica Psiquiatra membro da ABP/APBr
Membro da coordenação do Setembro Amarelo – DF