Discursos, Pró-DF e medidas pontuais não garantem desenvolvimento
Faltam planejamento, coordenação e integração para gerar renda e trabalho em Brasília
Hélio Doyle
atualizado
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Muito se fala em desenvolvimento econômico, mas nada se fez até agora para dotar Brasília de um projeto estratégico sustentável e inovador que seja capaz de gerar renda, trabalho e melhor qualidade de vida para os brasilienses. Temos ficado apenas em discursos rasos e medidas pontuais e limitadas, insuficientes para reduzir efetivamente os impactos negativos da crise econômica, financeira e fiscal vivida pelo país e pelo Distrito Federal e iniciar um processo de crescimento da economia local. São muitos anos de declarações de boas intenções, mas pouca ação.
Quando o governador eleito Ibaneis Rocha anunciar quem serão os responsáveis pelas secretarias ligadas ao desenvolvimento econômico de Brasília, poderá estar dando indicações dos rumos que pretende dar ao tema. Se vai continuar na mesma linha dos antecessores ou se finalmente haverá uma visão macro do problema. Por enquanto, Ibaneis anunciou apenas o secretário da Fazenda, André Clemente, e o presidente da Terracap, Júlio César Reis, peças importantes nessa equação, mas não as únicas. Mas não bastam nomes, é preciso ter um projeto.
O ideal seria que as áreas ligadas ao desenvolvimento econômico fossem unificadas em torno de uma única secretaria, o que possibilitaria uma visão ampla e conjunta, e facilitaria a articulação e coordenação do setor. Uma Secretaria de Economia e Inovação, ou que nome tenha, poderia reunir, em algumas subsecretarias, as áreas de comércio, indústria, serviços, turismo, agricultura, trabalho e ciência e tecnologia, vinculando-se a ela o Banco de Brasília (BRB), a Terracap, a Ceasa, a Emater e a Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP).
Isso não vai acontecer, porque ainda prevalece nos meios políticos dominantes a ideia de que é preciso haver muitas secretarias para abrigar todas as correntes partidárias e dar empregos aos apadrinhados de deputados distritais, federais e senadores. Para justificar a existência de muitas secretarias, alega-se que a figura de um “supersecretário” é nociva, pois concentra muitos poderes, e a gestão funciona melhor quando fracionada. São apenas pretextos para justificar a profusão de órgãos públicos, mordomias e cargos comissionados e negar boas práticas de administração.
De qualquer maneira, o futuro governo precisa ir além do discurso e das medidas pontuais e desvinculadas de um projeto global, como tem acontecido, e construir um plano de desenvolvimento econômico sustentável e inovador para o Distrito Federal. É fundamental ampliar a visão do desenvolvimento além dos interesses setoriais e corporativos, e do ineficiente Pró-DF, fonte de corrupção, e traçar uma estratégia de longo prazo a partir de instrumentos de planejamento – como o Zoneamento Ecológico e Econômico – e de um amplo e profundo debate com a sociedade civil, que não se restringe ao empresariado.
Um plano de desenvolvimento com bases científicas e realistas definirá com clareza as vocações econômicas da cidade e de cada uma de suas regiões e que políticas e ações devem ser executadas e quais os investimentos necessários para viabilizá-las. Definirá também as relações e a interação com os municípios vizinhos. De nada adianta ficar repetindo o discurso da descentralização dos postos de trabalho concentrados no Plano Piloto e da geração de empregos nas cidades e na área metropolitana, sem apontar como isso será realmente feito.
Não resolve, também, ficar repetindo que Brasília tem tudo para ser um polo de tecnologia porque aqui há muitos doutores e universidades, e a população tem bom nível de instrução – como se todos os doutores fossem dessa área, se as universidades fossem de altíssima qualidade e se o nível de nosso ensino fosse bom. E como se os 300 mil desempregados brasilienses estivessem aptos a trabalhar nesse setor. O polo tecnológico, agora denominado de Biotic, continua patinando.
O turismo não pode continuar sendo encarado apenas sob a ótica imediatista de realização de eventos que movimentam esporadicamente a cadeia produtiva, sem uma visão estratégica de longo prazo para preparar realmente a cidade para a atividade turística, atrair visitantes e agradá-los. Não adianta também exaltar a economia criativa sem ter os instrumentos adequados para possibilitar seu crescimento.
As concessões e parcerias público-privadas nas áreas da infraestrutura, da mobilidade e do turismo e lazer, essenciais especialmente no momento em que o Estado não tem capacidade de investimento, ficaram travadas no atual governo. Em parte, por falta de decisões firmes e inoperância da máquina, em parte por causa do impasse causado pelas pendências quanto às garantias do equivocado centro administrativo em Taguatinga.
O desenvolvimento econômico exige articulação entre as diversas áreas do governo para executar ações coordenadas que envolvem questões ambientais, urbanísticas, fiscais, de mobilidade e infraestrutura. Para isso, precisa de planejamento e de uma gestão eficiente, ausentes nos últimos governos. Desenvolvimento, até agora, tem sido apenas tema de discursos.