Desqualificar investigações não é a melhor resposta
Ao terceirizar defesa sobre investigações para seu partido, Rollemberg quer passar ideia de que acusações são apenas disputa eleitoral
Hélio Doyle
atualizado
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Um governante acusado publicamente tem a obrigação de se explicar e se defender. Para um cidadão comum, defender-se é um direito inalienável e inquestionável. Para quem tem mandato popular ou exerce funções no Estado, porém, defender-se é não só um direito como também um dever ao qual não pode fugir, sob qualquer pretexto. Calar-se diante de uma denúncia é um desrespeito à população, um erro político grave e uma atitude covarde e arrogante.
Pois o governador Rodrigo Rollemberg calou-se formalmente diante das investigações feitas pela Polícia Civil do Distrito Federal e pelo Ministério Público, com respaldo judicial. Ele não precisaria ter se manifestado pessoalmente, poderia ter se explicado e se defendido por meio de um porta-voz ou de uma nota oficial. Qualquer assessor político ou de comunicação medianamente competente diria isso ao governador. Talvez tenham dito, e ele não tenha aceitado.
Mas o que Rollemberg fez é ainda pior: terceirizou a resposta, que foi dada por seu partido, o PSB. Provavelmente quis, assim, politizar as acusações, tirando-as do âmbito da ação de governo e levando-as para o campo da disputa eleitoral. Mais um erro, pois entre os acusados estão um irmão dele e integrantes do governo, com gabinetes próximos e na principal secretaria, a Casa Civil.
O partido do governador tem todo o direito de se manifestar, e como entidade política tratar o assunto sob esse prisma. Mas governo é governo e partido é partido, diria Lúcio Flávio Lírio. Quem mais tem de se explicar e se defender é o governo. A nota do PSB, além dos vários erros de português e do tom panfletário – tudo bem no segundo ponto, é um partido e partidos fazem panfletos –, acabou sendo considerada um comunicado oculto do governador.
Quem conhece a política de Brasília sabe que a Executiva do PSB é comandada diretamente por Rollemberg há pelo menos 25 anos. Não fica bem para o governador e para o candidato à reeleição que seu partido, em nota que nada explica nem esclarece, diga que não é “séria nem consistente” a investigação que está sendo feita sob comando do delegado Fernando César Costa, que até agora era elogiado pelo governo. Desqualificar os investigadores e os que divulgam o que está sendo apurado não é a melhor defesa.
Rollemberg vem acumulando erros que não podem ser cometidos por um governador, muito menos um que quer se reeleger. Denominar a coligação que encabeça de “Mãos Limpas” foi atitude digna de um trapalhão ou de algum infiltrado jogando contra ele. Honestidade não se alardeia, nem pode ser bandeira principal de campanha. E basta um arranhão de imagem para derrubar quem faz isso.
As investigações que vêm sendo realizadas terão de comprovar se os suspeitos são mesmo culpados, não há ainda denúncia e muito menos julgamento. De todas as acusações surgidas contra integrantes do governo – na Secretaria de Saúde, no DFTrans, nas administrações regionais e em outras áreas –, essa é a que mais se aproxima do governador, o que não quer dizer que ele esteja envolvido ou tenha culpa.
Mas Rollemberg tem de assumir a responsabilidade de ser o chefe do governo e não pode se omitir quando alguém de sua equipe, ou mesmo da família, é acusado. E, além disso, seria bom que assumisse que algumas das práticas e métodos que manteve, como o loteamento de secretarias e administrações regionais, o fisiologismo e o compadrio, têm tudo a ver com as denúncias contra sua gestão.