Demagogia e superficialidade deram o tom do debate
Como se esperava, foram seis candidatos contra Rollemberg, pacto de não agressão da “direita” e pouca consistência nas propostas
Hélio Doyle
atualizado
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Os indecisos que tiveram paciência para assistir, na noite de quinta-feira (16/8), ao debate de candidatos a governador na TV Band provavelmente continuam indecisos. Nenhum dos sete buritizáveis presentes se destacou, empolgou ou fez o que mais deles se esperava: mostrar, com consistência, que têm capacidade para governar, um projeto para a cidade e como pretendem superar os inúmeros problemas que assolam o Distrito Federal.
Seis dos candidatos se limitaram, praticamente, a fazer constatações óbvias sobre os males da cidade, ataques ao governo, declarações de intenções e propostas genéricas, demagógicas ou simplistas. O sétimo, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), procurou responder às críticas dos seis e apresentar a já repetitiva lista de realizações e números de sua gestão. Tática duvidosa para um governador muito mal avaliado pela população e um governo cheio de furos na saúde e na segurança.
É verdade que o formato engessado e os necessários limites de tempo impediam um debate aprofundado dos temas levantados, ou mesmo que surgissem polêmicas mais interessantes e reveladoras. Mas não houve, por parte dos sete candidatos, interesse em ir além da superficialidade mostrada, com erros de concordância, durante duas horas e meia. Pareciam todos satisfeitos em não escorregar e não mostrar fragilidades, como que aliviados por não levar gol.
O que se esperava, aconteceu: seis contra Rollemberg e os quatro candidatos oriundos do grupo rorizista-arrudista — Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Ibaneis Rocha (MDB) e Rogério Rosso (PSD) — cumprindo um evidente pacto de não agressão. Todos eles esperam ir para o segundo turno e precisarão do apoio dos demais. Fraga chegou a dizer que os quatro falam a mesma linguagem, mas certamente isso nada tem a ver com o modelo camisa-azul-paletó-azul-marinho dos três homens do grupo.
Eliana Pedrosa foi além, evitando fustigar também os dois candidatos da “esquerda”, Júlio Miragaya (PT) e Fátima Sousa (PSol). Afinal, ela poderá estar no segundo turno contra um dos três da “direita” e quer ter apoio do outro lado. No fim do debate, Ibaneis procurou se desvencilhar do grupo rorizista-arrudista, ao dizer que todos ali já haviam governado Brasília e eram responsáveis pela situação da cidade, enquanto ele apresenta uma proposta nova a partir da sociedade civil. Antes, Rosso havia elogiado Joaquim Roriz e Fraga tinha exaltado José Roberto Arruda.
Ibaneis, aliás, deixou claro que pretende assumir a posição de principal opositor de Rollemberg, e parece ter condições para isso. Foi enfático nos questionamentos e mostrou desenvoltura e tranquilidade, enquanto Rosso, Fraga e Eliana pareciam pouco concentrados e sem fluência para perguntar e responder. Por nervosismo ou sabe-se lá por que, esses três e Fátima demonstraram muita insegurança e, assim como Miragaya, não se sintonizaram com o público.
Mentiras
Rollemberg foi bem quando respondeu a críticas de Fraga à desocupação da orla do lago e ao dizer que os demais candidatos estão mentindo ao fazer promessas que não poderão cumprir. Mas lembrou Agnelo Queiroz em 2014, ao insistir em que está fazendo ótimo governo e que os adversários estão propondo o que já faz. A única mudança acenada para um segundo mandato foi que metade dos cargos de primeiro escalão será ocupada por mulheres.
Nenhum dos vários temas abordados foi tratado com um mínimo de profundidade. Os que defenderam a ocupação do centro administrativo, em Taguatinga, por uma universidade pública distrital (Fraga, Rosso e Fátima), não tiveram de explicar com que recursos ela será criada e mantida diante da difícil situação fiscal. Muito menos vincularam essa proposta em um projeto para a educação.
Ibaneis disse que vai reduzir os impostos aos valores de 2010, ao mesmo tempo em que, como Rosso e Fraga, prometeu equiparar a remuneração dos policiais civis com a dos federais e pagar imediatamente a terceira parcela do reajuste salarial concedido no governo de Agnelo. Não disseram qual será a engenharia financeira para isso, assim como Miragaya não detalhou seu projeto para, agora sim, trazer investimentos privados para Brasília.
Eliana vai recriar a fundação hospitalar, mas não disse com que objetivo, pois hoje a lei das fundações não permite as mesmas liberalidades de compras e contratações de antes. Ela vai construir inúmeros viadutos e implantar uma linha ferroviária para Planaltina, sem dizer se será com investimentos públicos ou mediante parcerias público-privadas e concessões. Essa questão, aliás, importantíssima e atual quando o Estado não tem capacidade de investimento, passou longe do debate, a não ser pela enfática declaração de Rosso de que é contra privatizações e vai acabar com o Instituto Hospital de Base.
Polêmica
As discussões sobre o metrô, envolvendo Rollemberg e Fraga, foram um bom exemplo de como os candidatos colocam realizações imediatas e pontuais por cima de uma visão estrutural dos problemas. A polêmica era sobre extensão das linhas e construção de estações, sem entrar nas questões cruciais que afetam o metrô: a desastrosa gestão da empresa, o sistema antiquado e a carência de investimentos.
Talvez dois dos candidatos que não puderam participar porque seus partidos não têm cinco parlamentares no Congresso, Alexandre Guerra (Novo) e Paulo Chagas (PRP), tivessem levado ao debate algumas propostas inovadoras e mostrado o que farão diferente do atual governo se forem eleitos. A única referência às administrações regionais, por exemplo, foi quando Fátima disse que vai criar os conselhos comunitários previstos na Lei Orgânica de 1993. Ninguém se comprometeu a não continuar fazendo delas instrumentos de politicagem de distritais.
Um dos poucos momentos em que se falou de gestão, sem ser com lugares-comuns tipo “não falta dinheiro, falta gestão”, foi quando Rosso anunciou que vai deixar o Buriti e Águas Claras de lado e despachar nos hospitais. Talvez ele queira ser mesmo é o secretário de Saúde que Agnelo prometeu que seria, e não foi.