Das bombas de Doria às balas que assassinaram Marielle Franco
Para sindicalista, é preciso resgatar a tolerância entre as pessoas e o respeito entre as instituições e o poder democrático
Rosilene Corrêa
atualizado
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Oito de março de 2018, dia internacional de luta das mulheres, foi apropriado pela sociedade de consumo. Homenagens, presentes, mensagens, a maioria delas desprovidas de conteúdo crítico foram veiculadas por todos os meios e redes de comunicação possíveis. É como se apenas um dia fosse capaz de resgatar um ano de feminicídios, agressões e discriminação contra as mulheres.
A indagação é registrada em números. Oito casos de feminicídio por dia entre março de 2016 e março de 2017, totalizando 2.925 mil casos no país. Isto mostra um aumento de 8,8% em relação ao ano anterior, conforme dados dos Ministérios Públicos estaduais. A taxa dessa modalidade de crime no país é a quinta maior do mundo.Não são apenas as mulheres que sofrem a violência fatal. Em 2016, 66 defensores dos direitos humanos foram assassinados no Brasil. Isto acompanhado do aumento nos casos de torturas, chacinas, massacres e uso intensivo da força, tanto de policiais quanto de ações de milícias. Ainda no primeiro semestre de 2017, já tinham sido computados 42 assassinatos de defensores dos direitos humanos.
O ataque constante aos direitos humanos é a prática cotidiana do fascismo. Ao defender um regime autoritário, policialesco e totalitário, os fascistas veem os direitos humanos como o empecilho mais imediato aos seus fins. Usam todos os meios que dispõem para gerar, na população, a desconsideração com os direitos humanos e a intolerância com a diversidade social.
A brutalização da sociedade por este discurso fascista leva à aceitação passiva das agressões implementadas por motivos políticos ou econômicos, contra movimentos ou pessoas que os representem. No dia 14 de março de 2018, os professores do município de São Paulo, ao tentarem entrar na Câmara de Vereadores para acompanhar a votação de um projeto que destruía seu direito à aposentadoria, enfrentaram a repressão brutal da Guarda Civil Metropolitana.
A GCM paulistana fez o papel de guarda pretoriana do prefeito Doria. Em 2017, o prefeito Doria queria mudar o nome de Guarda Civil para Polícia Municipal, intento impedido pelo Poder Judiciário. Hoje percebemos claramente qual era o seu objetivo.
Desde a vigência da “Reforma Trabalhista” neoliberal, milhares de pessoas estão sendo demitidas e recontratadas pelos novos modelos de relação de trabalho. A precarização das relações de trabalho é mais visível com os professores das redes privadas de educação superior. A reforma previdenciária, suspensa pela intervenção federal no Rio de Janeiro, tornou-se desnecessária para os novos ingressos no mercado de trabalho. Com as condições permitidas pela Reforma Trabalhista, pouquíssimas pessoas conseguirão se aposentar.
O avanço do fascismo com seu discurso pseudo moralista construiu o golpe contra a democracia e empoderou a repressão, que se sente à vontade para exercer o poder autoritário. Entre as principais vítimas desse aumento da repressão, estão os líderes sociais comunitários e sindicais. Líderes indígenas, do movimento sem-terra, comunitários, sindicais, entre outros militantes de movimentos sociais, estão entre os mortos dos últimos anos.
Enquanto os professores eram novamente e como sempre espancados em São Paulo sob a gestão de governos conservadores, caía sob a bala de assassinos de aluguel uma jovem mulher negra, que, vencendo preconceitos e discriminação, se empoderou para compreender e lutar pelos direitos do povo da favela.
Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, foi assassinada após denunciar o 41º Batalhão da Polícia Militar de Acarí pelo assassinato de jovens da favela, os mesmos que os cães de guarda do fascismo chamam de “vagabundos”, “marginais”, “bandidos”, “traficantes”, entre tantos adjetivos pejorativos pelo qual cotidianamente se justifica a agressão aos pobres.
O dia 8 de março de 2018 mostrou a todos que não bastam discursos meigos, flores e bombons. Eles não permanecem nem uma semana. Precisamos de mudanças profundas em nossa sociedade, resgatando a tolerância entre as pessoas e o respeito entre as instituições e o poder democrático.
(*) Professora, diretora do Sinpro-DF e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Pré-candidata ao Buriti pelo PT