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Contra fake news, fact-checking: um método ao alcance de todos

A confirmação rigorosa dos fatos foi debatida no Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, que reuniu nomes de referência da área

Autor Lilian Tahan

atualizado

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Fact-checking
1 de 1 Fact-checking - Foto: iStock

Fact-checking foi, talvez, um dos termos mais citados no Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, evento que reuniu, no último final de semana (7 e 8/10), nomes de referência na área de várias partes do mundo.

Os depoimentos de representantes do jornalismo praticado nos EUA, França, Venezuela, Turquia ou Rússia sublinham a importância que a confirmação rigorosa dos fatos ganhou na era da “hiperinformação”, segundo definiu o francês Samuel Laurent, que escreve para o “Le Monde”. Ele relata que certa vez o periódico se viu provocado a confirmar ou não se a França era o país onde se trabalha menos horas por dia, por semana e, consequentemente, por ano.

Laurent usou o exemplo para reforçar como a checagem, às vezes, é desafiadora e pode não alcançar a verdade absoluta. Mas a ausência dessa prática na rotina das redações priva o público de consumir conteúdo amparado pelo o que o jornalista chamou de “honestidade intelectual”.

O francês lembrou que, na Alemanha, o fact-checking é recurso usual desde a década de 1930. O que me remeteu à viagem ao país em 2011, quando participei de programa de imersão para conhecer a dinâmica dos meios de comunicação alemães.

Dois hábitos da imprensa naquele lugar me chamaram a atenção. Um deles, foi justamente a obsessão dos jornalistas pela checagem das informações. Na ocasião, tivemos a chance (12 colegas falantes de língua portuguesa) de conhecer e conversar com o então chefe de redação da “Der Spiegel”, prestigiada revista semanal com influência em boa parte da Europa.

“Não erramos”
Um dos repórteres brasileiros perguntou ao jornalista qual era a conduta da publicação diante de eventuais erros cometidos em reportagens. E o profissional surpreendeu o grupo: “Não erramos”. O que soaria como excesso de autoconfiança/arrogância tinha naquele contexto boa explicação.

Segundo o editor da “Der Spiegel”, há mais checadores que repórteres trabalhando na redação da revista. Talvez ele tenha exagerado para demonstrar que atribuem tanto peso à confirmação de dados quanto ao próprio acesso à informação.

A segunda prática da imprensa alemã que despertou a curiosidade dos colegas de língua portuguesa era consequência da primeira. Entre os jornalistas alemães, é comum que, após uma entrevista em formato ping-pong (perguntas e respostas), o repórter franqueie o texto ao entrevistado para que ele possa “canetar” eventuais equívocos.

Longe de ser uma heresia do jornalismo independente, a rotina alemã é uma técnica para o entrevistador se aproximar o máximo possível da essência do pensamento do entrevistado. Mesmo em casos de entrevistas gravadas, a fonte, eventualmente, não reconhece na edição a sua linha de raciocínio. Mas isso não significa que o entrevistado pode fazer a própria edição da matéria em que é personagem. O que lhes é permitido são pequenos reparos, ajustes finos de interpretação.

Há um acordo tácito segundo o qual se o entrevistado mexer demais no conteúdo, então o melhor a fazer é não publicar a matéria.

Prática valorizada
Em tempos de fake news, quanto mais informações duvidosas circulam, mais valorizada é a checagem de dados. Engana-se, no entanto, quem acha que o poder da confirmação é ofício exclusivo e intransferível do jornalista. No balaio das mentiras que se contam, toda forma de pinçar a verdade vale a pena. E o repórter, neste processo, assume papel de facilitador.

A palestra de encerramento do Festival Piauí GloboNews de Jornalismo foi uma aula dessa disciplina. O americano David Fahrenthold ganhou um Pulitzer ao provar que Donald Trump mentiu inúmeras vezes em seus discursos sobre doações milionárias para instituições de caridade nos Estados Unidos.

Para checar o discurso de Trump, Fahrenthold primeiro se valeu dos métodos tradicionais. Buscou respostas junto a fontes oficiais. Mas não foi assim que ele contestou o então candidato à presidência dos Estados Unidos. O jornalista do Washington Post compartilhou toda a apuração do caso (um caderninho com lista de números de telefones e fontes consultadas) em seu perfil no Twitter.

E ganhou uma legião de apoiadores que se engajaram na causa e o ajudaram a confirmar sua desconfiança. Um sinal claríssimo de que os meios de checagem são tão fartos quanto o número de dados que circulam na era da hiperinformação. Alcançar a verdade é uma questão de foco.

Lilian Tahan é Diretora de Redação do Metrópoles

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