Composição do governo de Ibaneis é coerente com seu projeto político
Futuro governador precisa de Temer, Sarney e Filippelli para viabilizar sua candidatura a presidente da República
Hélio Doyle
atualizado
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Está difícil enxergar traços de uma nova política na composição do próximo governo de Brasília. A maior parte dos nomes anunciados pelo governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) para compor o secretariado e a direção de empresas estatais tem mais cara de passado do que de futuro.
Independentemente dos méritos pessoais e da qualificação que alguns possam ter, quase todos os que comandarão pastas e empresas a partir de 2019 são vinculados às velhas práticas políticas e a personagens das quais, na campanha eleitoral, Ibaneis procurava se desvincular.
Ibaneis ganhou a eleição como candidato que se proclamava diferente dos demais, justamente por não ter vínculos com os governantes anteriores, com os políticos tradicionais e por pregar a chamada nova política. Ao ser confrontado com a contradição que era estar filiado ao MDB, o então candidato dizia nada ter a ver com o partido e suas práticas nefastas. E muito menos com o presidente da legenda no DF, o ex-vice-governador Tadeu Filippelli.
Mas, agora, Ibaneis não só prestigia claramente o MDB local e seu líder como procura agradar figuras expressivas do partido, como o presidente Michel Temer e o ex-presidente José Sarney. O que mais chama a atenção é a quantidade de ministros e assessores do presidente Temer na futura gestão do Distrito Federal.
Fosse o governo de Temer digno de alguma admiração ou bem avaliado pela população, a presença de vários de seus ministros e assessores até poderia significar uma elevação de nível da administração local. Mas é difícil citar um só ministro do atual governo que seja considerado um exemplo de competência. Aliás, é difícil encontrar quem saiba citar nomes dos geralmente medíocres ministros de Temer.
Candidatura ao Planalto
Ibaneis, na verdade — e ele não esconde isso —, está procurando pavimentar uma candidatura a presidente da República, em 2022, pelo MDB. Daí a profusão de nomes do governo federal comandado pelo partido e ligados a Sarney e Filippelli, inclusive políticos derrotados nas eleições para deputado distrital e federal, um deles réu por peculato.
Para viabilizar seu ambicioso projeto, Ibaneis precisa estar muito bem com o partido aqui e nacionalmente. Os políticos tradicionais de Brasília também estão sendo contemplados, cada um com seu quinhão, e sem que se assista a qualquer discussão em torno de programas e medidas.
É o velho toma lá dá cá mesmo, que inclui diversos partidos, tanto os que apoiaram Ibaneis desde o primeiro turno, como o PP, como os que aderiram no segundo turno, como o PRB e o PPS, e até o PDT, que formalmente estava na coligação do governador Rodrigo Rollemberg.
Velha politicagem
O PRB e o PDT, aliás, são em Brasília exemplos típicos do chamado estilo Romero Jucá: há governo, estou dentro. Para atender a todos, só mesmo aumentando o número de secretarias, como está sendo feito — e essa é também uma atitude típica da velha politicagem.
Os métodos do futuro governador para montar seu governo não diferem dos utilizados por Joaquim Roriz, José Roberto Arruda, Rogério Rosso, Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg. De modo geral, a composição política supera a competência.
As diferenças em relação ao passado, prometidas por Ibaneis na campanha, poderão se materializar em outros aspectos de seu governo, e será bom que isso aconteça, para que sua gestão não seja mais do mesmo ou o mesmo do mesmo. A expectativa dos brasilienses é grande.
E, afinal, para que seu projeto de ser candidato a presidente da República tenha alguma chance de se viabilizar a partir de uma cidade com apenas dois milhões de eleitores, é preciso que Ibaneis seja, indiscutivelmente, um governante excepcional.