Combater a corrupção política exige reconhecer nossa responsabilidade
O comportamento dos políticos reflete o de nossa sociedade. O problema é a falta de valores e de educação
Rafael Parente
atualizado
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Segundo os brasileiros, a prioridade número um do(a) próximo(a) presidente da República deve ser o combate à corrupção. É o que indicam várias pesquisas recentes, inclusive uma elaborada pelo Movimento AGORA! com a Ideia Big Data: essa foi a prioridade apontada por 49% dos entrevistados.
O brasileiro odeia a corrupção, acha que todos os políticos são corruptos e a causa de toda a nossa miséria econômica, cultural, educacional e humana. Mas, temos um problema: como os políticos foram parar onde estão? A resposta é óbvia: com o nosso voto. O brasileiro construiu a classe política de hoje e, em breve, construirá uma nova classe política, que, provavelmente, se parecerá muito com a atual.
Criticamos nossos representantes (relembrando: eleitos por nós) pela sua desonestidade, ganância e falsidade. A cada novo escândalo de corrupção nos perguntamos quando chegaremos ao fundo do poço, se é que ele existe. Alguns chegam a sugerir soluções, mas boa parte delas é superficial ou ineficaz: Vamos fazer a reforma política! Vamos acabar com a impunidade! Vamos botar armas nas mãos de todo mundo!
O que nos esquecemos, caríssimos compatriotas, é que o comportamento dos políticos reflete, em absoluto, o comportamento de nossa sociedade. O problema não é a corrupção ou a nossa classe política, mas a nossa falta de valores e de educação
A ignorância (como falta de conhecimento), a esperteza (em seu pior sentido gersoniano) e a falta de ética, ou de um sentimento de serviço e de comunidade (mesmo entre servidores públicos), parecem ser nossos carmas. O brasileiro não lê, não consegue interpretar um texto de média complexidade e não se importa com o fato de 55% de nossas crianças de 8 e 9 anos não serem plenamente alfabetizadas.
Nossas melhores escolas e universidades não conseguem desenvolver competências e valores básicos, como raciocínio crítico, empatia, integridade ou civilidade. Vide o comportamento de muitos dos torcedores brasileiros durante a copa da Rússia. Pertencentes à “elite intelectual do país”, já que fazem parte dos 9% de nossa população com diploma do ensino superior, são escolarizados, mas mal educados.
Se você, como eu, quer batalhar por uma solução real, comece dentro de sua casa, buscando educação, no sentido mais amplo da palavra, para si e para todos à sua volta. Entenda, e explique, que não podemos vender nossos votos por benefícios imediatos e individuais, como um emprego, um favorzinho, dois sacos de cimento ou (ainda que urgente e compreensível) um prato de comida; não podemos terceirizar nossos votos para parentes, amigos ou líderes religiosos.
Nossa única saída é ter uma classe política realmente comprometida com educação pública e de excelência para todos, pois ter uma população informada e crítica é um pré-requisito essencial para o funcionamento de uma nação democrática séria, solidária e com justiça para todos. É isso, ou continuaremos sendo corruptos, elegendo uma classe política desonesta, vivendo sem paz, pagando altos impostos e recebendo serviços públicos de péssima qualidade.
Observe bem esse brasileiro do espelho e reflita sobre a responsabilidade do seu voto, pelo seu futuro e pelo futuro das próximas gerações deste país.
Rafael Parente é PhD em educação pela Universidade de Nova York (EUA), CEO da Aondê e co-fundador do Agora!