Coloque o biquíni: todos os corpos merecem o verão
“O caminho para a posse de si mesmo começa pelo amor ao único lugar que de fato nos pertence, o nosso corpo. Ele é nossa morada”
Vanessa Campos
atualizado
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Ah, o verão! Essa estação quente e maravilhosa quase sempre é associada às férias, alegria, banho de piscina, mar e cachoeira! Ou seja, menos roupa e muitos corpos à mostra. O verão coincide também com o início do ano e uma das resoluções que mais ouvimos, sobretudo entre as mulheres: vou emagrecer.
Mas por que será que isso acontece? A pressão estética sobre as pessoas é constante: basta olharmos as capas de revistas e campanhas publicitárias para recebermos uma enxurrada de informações sobre o que seria um corpo perfeito, tanto para eles quanto para elas. O tão cultuado “corpo de verão”.
Nas redes sociais, a situação se repete, com as pessoas posando felizes ali no nosso feed das redes sociais, tão confortáveis e desejáveis em seus trajes de banho.
Barriga negativa, bumbum na nuca, pernas torneadas, vale tudo para ficar com o shape promovido pelas musas e pelos ídolos fitness.
E é aí que, ao ler este texto, você pode pensar: mas é uma questão de saúde, não de estética. Quantos de nós fizeram um check-up médico nos últimos meses para definir os parâmetros de saúde do corpo que habitamos? Posso contar nos dedos de uma mão quem respondeu verdadeiramente que sim.
Touché! Dietas malucas e restritivas, chás milagrosos usados por celebridades sem comprovações de eficácia ou segurança são promovidos em matérias informativas ou em espaços de propaganda. Tudo endossado por testimonials e posts de influencers e até pela colega de trabalho que tem alguma receita nova com promessa de perder peso em pouco tempo.
É fácil entrar nessa onda, já que um corpo gordo sempre será condenado e tachado como doente, mesmo com os exames dizendo o contrário. Ninguém quer ser julgado negativamente por sua aparência, afinal, a culpa por ser gordo é de quem carrega essa silhueta, porque “se tivesse vergonha na cara e força de vontade emagreceria”. Não é sobre ser saudável, é sobre se encaixar no padrão.
O padrão é construído dessa maneira e mesmo quem tem o corpo aceitável socialmente vai sofrer com a pressão estética, porque alguma coisa não vai se encaixar e, para esse mercado, é melhor mesmo que nunca se encaixe. E é assim que a indústria do emagrecimento cresce e lucra, promovendo um corpo que nem todos podem ter, causando danos físicos e mentais em todos nós.
Isso tem um nome e já virou tema de vários estudos sociais e clínicos. Chama-se gordofobia e todos a praticamos, em menor ou maior grau.
Mas, daí está quente mesmo, então o que fazer com o corpo gordo, com quem está fora do padrão? Escondê-lo por baixo de camadas e camadas de roupas, enterrar na areia da praia, negar a nós, gordos e gordas, o prazer de curtir um sol e dar uns mergulhos porque alguém disse que esse lugar não era nosso também?
Pois em verdade lhes digo, isso não vai rolar.
O apoderamento de nossos corpos faz parte de um movimento contemporâneo que vem influenciando pessoas e ganhando mais adeptos, o Body Positive, que nada mais é do que ter um olhar positivo e sincero para seu corpo e a sua imagem. Isso não significa fazer apologia à obesidade, mas deixar de lado padrões do que é bonito ou feio e enxergar beleza em todos, independentemente de como se é, inclusive para ter amorosidade o suficiente por si mesmo e tratar questões de saúde, quando houver a necessidade disso.
Vai ter gorda e gordo de biquíni e de sunga sim, com regata sim e com pouca roupa sim, e vai ser em todo lugar que quisermos, na praia, no clube, em todo os rolés, vamos habitar esses espaços.
O caminho para a posse de si mesmo começa pelo amor ao único lugar que de fato nos pertence, o nosso corpo. Ele é nossa morada, o mapa da nossa história e deve ser tratado com respeito e honra. O seu corpo é o corpo ideal para o verão e para todas as outras estações do ano. Habite-o.
* Vanessa Campos é jornalista especializada em mídias digitais, blogueira e ativista Body Positive. No Instagram: @blogueirafail