Centro-direita e centro-esquerda divididas na conta de Frejat e Joe
Ao desistirem de concorrer ao GDF, os dois provocaram grande prejuízo político aos que acreditaram em suas candidaturas
Hélio Doyle
atualizado
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Ao desistirem de suas candidaturas ao governo, o ex-deputado Jofran Frejat (PR) e o distrital Joe Valle (PDT) contribuíram para aumentar ainda mais a grande confusão no cenário eleitoral de Brasília. Além disso, Frejat e Valle causaram pesados estragos em seus partidos e nos aliados. Até mesmo pessoas próximas a eles reconhecem que ambos provocaram grande prejuízo político aos que acreditaram em suas candidaturas. Um ex-aliado diz que nem agentes sabotadores infiltrados por adversários fariam tanto estrago quanto Valle.
Foi no ano passado que Frejat e Valle se proclamaram pré-candidatos ao governo do DF. Como sempre acontece, houve a desconfiança de que ambos estivessem, na verdade, querendo ganhar visibilidade e prestígio para, mais à frente, se candidatarem ao Senado ou, no caso de Valle, talvez à Câmara dos Deputados. Afinal, essa é uma tática comum: o político se lança a um cargo mais alto para depois se candidatar a um mais baixo. Para se cacifar, como se diz.
Falava-se que, devido à idade (81 anos), Frejat seria mesmo era candidato ao Senado, onde poderia terminar com mais tranquilidade sua vida política. E que Valle, sem consistência para se candidatar ao governo, iria tentar se eleger senador ou deputado federal. Mas logo Frejat mostrou bom desempenho nas pesquisas e capacidade de aglutinar os políticos com origem no grupo político do ex-governador Joaquim Roriz, hoje liderados pelo ex-governador José Roberto Arruda (PR) e pelo ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB).
Valle também demonstrou que poderia mesmo ser candidato ao governo, como uma via de centro-esquerda, e acertou a coligação com a Rede, que apresentaria o distrital Chico Leite para o Senado, e com, pelo menos, o PCdoB e o PPL. Querendo mais apoios, Valle saiu em busca de aliados que iam até a extrema-direita, sob o argumento de que era preciso um grande acordo para impedir a reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
Frejat parecia seguro quanto a sua candidatura, já interlocutores de Valle começaram a desconfiar de que lhe falta vontade e ele queria mesmo era se candidatar ao Senado em uma chapa competitiva. No início de abril, isso se confirmou de forma surpreendente, pois Valle não só anunciou que desistia da candidatura ao governo, lançada festivamente em março, como também que só aceitaria ser candidato ao Senado na chapa de Frejat.
Impactos
A renúncia de Frejat, mais recente, levou à desagregação do grupo que o apoiava, resultando em duas chapas para o governo, lideradas pelo deputado Alberto Fraga (DEM) e pelo advogado Ibaneis Rocha (MDB), e na consolidação de uma terceira, cujo candidato ao governo é o deputado Rogério Rosso (PSD). A divisão do grupo que ele aglutinava é ainda maior porque antes já havia sido lançada a coligação que une os ex-distritais Eliana Pedrosa (Pros) para governadora e Alírio Neto (PTB) para vice.
Frejat levou à divisão do bloco que o apoiava, mas os impactos da desistência de Valle são mais amplos. Sua renúncia à candidatura e a insistência em se aliar a Frejat tirou o PDT do protagonismo e o levou à irrelevância no cenário eleitoral, pois, hoje, o partido vale apenas pelos segundos que tem na televisão e para dar um tom avermelhado a uma coligação de direita.
Em decorrência dos movimentos de Valle, o PDT só deverá eleger deputados distritais, e tudo indica que fará uma aliança com a coligação encabeçada por Eliana e Alírio, contestada internamente sob alegação de que contradiz a plataforma pedetista.
A postura de Valle e de seus aliados no PDT provocou um racha interno com os que defendiam a candidatura própria, como o distrital Reginaldo Veras, e desgastou e irritou o ex-deputado Peniel Pacheco — e esses são dois dos melhores quadros da sigla. Peniel foi lançado pelo grupo de Joe como candidato a governador, mas era de mentirinha, apenas para tentar dificultar o apoio do PDT à reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB), em um acordo nacional dos dois partidos. Valle se colocou como candidato ao Senado ao lado de Peniel, mas não tinha nenhuma intenção de levar à frente a composição.
A desistência de Valle e sua determinação de impedir, depois, que o PDT tivesse candidato ao governo deixaram órfãos e prejudicaram os partidos que já tinham se aliado a ele. Dois deles, a Rede e o PCdoB, se aliaram a Rollemberg e o PPL está se decidindo quanto a ter um candidato ao governo. Não é, para nenhum deles, a melhor alternativa.
A Rede passa por uma situação constrangedora. O partido havia rompido com o governador há menos de um ano, com fortes críticas à gestão do socialista. E, apesar da coligação do PSB com a Rede e com o PV, que apoiam Marina Silva para presidente, Rollemberg declarou seu apoio ao candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes.
Para o PCdoB, o apoio à reeleição de Rollemberg também não é confortável. O partido nunca esteve ao lado do governador e sempre fez pesadas críticas ao governo. Alguns de seus candidatos a deputado divulgaram vídeos com ataques a Rollemberg e à sua gestão. A decisão, naturalmente, também levou a insatisfações internas.
O PPL pode lançar candidato para manter sua coerência, pois não aceita se coligar com Rollemberg ou com candidatos que a legenda identifica como de direita. Seus dirigentes lamentam terem acreditado em Valle e no PDT.